quarta-feira, 2 de julho de 2025

Manobra perigosa - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Lula quer jogar os pobres contra o Congresso, mas arrisca atrair contra si as demais faixas de renda

O governo faz uma manobra de alto risco ao partir para o enfrentamento social, na tentativa de imprimir ao Congresso a pecha de protetor dos ricos e, portanto, opositor dos pobres.

Joga os parlamentares contra uma parcela da população e se arrisca com isso a lançar contra si os demais estratos da sociedade, sem a garantia de que a totalidade dos mais pobres enxergará aí motivo suficiente para considerar Lula um bom presidente a ponto de dar um novo mandato ao PT.

Inclusive sua avaliação negativa atual pesa menos nessa faixa, o que leva à obvia necessidade de recuperar popularidade justamente naquelas que parece excluir de suas preocupações.

O figurino de pai dos pobres, além de obsoleto, é excludente e provavelmente não terá aceitação plena do país que deu a vitória apertada ao petista exatamente pelo poder de atração da inclusão de forças anteriormente adversárias.

Lula pode até se achar um produto da inspiração divina, mas deputados e senadores formam um colegiado fruto da ação terrestre do eleitorado que, bem ou mal, é por eles representado. Somados os votos, o Congresso os tem em maior quantidade.

Portanto, o Legislativo e o Executivo têm a obrigação de conviver de maneira civilizada. Quando estão em campos opostos no quesito visão de mundo, os embates são naturais e até inevitáveis.

O fato de pensarem de maneira diversa, contudo, não lhes dá a prerrogativa de impingir ao outro o selo de amigo ou inimigo de quem quer que seja.

Se o governo quer enfrentar o Congresso, deve fazê-lo com as armas legítimas do convencimento e da liderança de propostas que visem o melhor para todos, independentemente das convicções de uns poucos locatários do Palácio do Planalto.

E se a oposição quer o apoio dos brasileiros, que trate de sair do modo de ataque contínuo e comece a falar quais são seus planos para levar o Brasil adiante, esquecendo de vez ideias como a de anistiar quem atentou contra o direito da sociedade de viver numa democracia.

 

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