Folha de S. Paulo
Lula quer jogar os pobres contra o Congresso,
mas arrisca atrair contra si as demais faixas de renda
O governo faz uma manobra de alto risco ao
partir para o enfrentamento social, na tentativa de imprimir ao Congresso a
pecha de protetor dos ricos e, portanto, opositor dos pobres.
Joga os parlamentares contra uma parcela da
população e se arrisca com isso a lançar contra si os demais estratos da
sociedade, sem a garantia de que a totalidade dos mais pobres enxergará aí
motivo suficiente para considerar Lula um bom
presidente a ponto de dar um novo mandato ao PT.
Inclusive sua avaliação negativa atual pesa menos nessa faixa, o que leva à obvia necessidade de recuperar popularidade justamente naquelas que parece excluir de suas preocupações.
O figurino de pai dos pobres, além de
obsoleto, é excludente e provavelmente não terá aceitação plena do país que deu
a vitória apertada ao petista exatamente pelo poder de atração da inclusão de
forças anteriormente adversárias.
Lula pode até se achar um produto da
inspiração divina, mas deputados e senadores formam um colegiado fruto da ação
terrestre do eleitorado que, bem ou mal, é por eles representado. Somados os
votos, o Congresso os tem em maior quantidade.
Portanto, o Legislativo e o Executivo têm a
obrigação de conviver de maneira civilizada. Quando estão em campos opostos no
quesito visão de mundo, os embates são naturais e até inevitáveis.
O fato de pensarem de maneira diversa,
contudo, não lhes dá a prerrogativa de impingir ao outro o selo de amigo ou
inimigo de quem quer que seja.
Se o governo quer enfrentar o Congresso, deve
fazê-lo com as armas legítimas do convencimento e da liderança de propostas que
visem o melhor para todos, independentemente das convicções de uns poucos
locatários do Palácio do Planalto.
E se a oposição quer o apoio dos brasileiros,
que trate de sair do modo de ataque contínuo e comece a falar quais são seus
planos para levar o Brasil adiante, esquecendo de vez ideias como a de anistiar
quem atentou contra o direito da sociedade de viver numa democracia.
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