domingo, 27 de julho de 2025

O que Trump tem contra o Pix? – Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Eis que, de repente, o governo Trump acusa o Pix de ser mais um foco de concorrência desleal com os Estados Unidos. Mas, por quê? Por que o Pix, inovação financeira tão bem-sucedida, promovida pelo Banco Central do Brasil, ficou tão perigoso para eles?

O Pix tem quase cinco anos, mas, a cada mês, já perfaz bilhões de transações, que movimentam outros trilhões em dinheiro, sem cobrança de taxas para pessoas físicas. É o que incomoda gigantes mundiais, principalmente as administradoras de cartão de débito, como as norteamericanas Mastercard e Visa, e as big techs, que operam sistemas de pagamentos privados.

O presidente Donald Trump enxerga o Pix como um problema para a hegemonia tecnológica e financeira do seu país, porque a inovação começa a se espalhar mundo afora. No entendimento dele, as relações entre países é um jogo de soma zero, onde só há ganhos quando alguém perde — e, nesse caso, quem perde são as empresas de lá.

Essa visão é contestada até mesmo dentro dos Estados Unidos. O economista e Prêmio Nobel Paul Krugman há alguns dias apontou o Pix como “o futuro do dinheiro”. Para ele, o setor financeiro dos Estados Unidos não está disposto a aceitar a existência de um ecossistema de pagamentos operado pelo setor público que tende a alijar do mercado seus próprios produtos.

Outro ponto de tensão é o do risco de que uma forma qualquer de Pix seja adotada pelos países-membros do Brics, de modo a substituir o dólar nas operações entre eles.

Como observa Alex Hoffmann, CEO e cofundador da PagBrasil – empresa que opera na internacionalização do Pix e que recentemente anunciou o lançamento do serviço nos Estados Unidos –, o episódio é o reconhecimento de que, além de contribuir decisivamente para a inclusão bancária da população, a ferramenta é hoje a melhor forma de pagamento instantâneo.

Em um mundo cada vez mais conectado e multipolar, o Pix pode ser a semente para a difusão de soluções locais e descentralizadas, que consigam não só promover o acesso a serviços financeiros, mas, também, desenvolver novos modelos de negócios e abrir espaço para inovações entre os produtos já existentes, até mesmo fora do segmento.

Para Roberta Muramatsu, professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o Brasil pode assessorar iniciativas desse tipo em outros países, porque o mundo demanda por inclusão financeira, nos moldes desenvolvidos pelo Brasil.

No entanto, a agenda do Pix ainda precisa avançar em novas funcionalidades e em aperfeiçoamento, como o Pix parcelado, antes de ensaiar um processo de internacionalização capitaneado pelo Banco Central. Além disso, ainda existem vulnerabilidades que precisam ser atacadas para que não sejam pretexto para novas rejeições, como a que Trump começou a ensaiar. Trata-se da dificuldade em recuperar as quantias desviadas via Pix de operações fraudulentas ou golpes e dos vazamentos de chaves.

 

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