O Estado de S. Paulo
Eis que, de repente, o governo Trump acusa o
Pix de ser mais um foco de concorrência desleal com os Estados Unidos. Mas, por
quê? Por que o Pix, inovação financeira tão bem-sucedida, promovida pelo Banco
Central do Brasil, ficou tão perigoso para eles?
O Pix tem quase cinco anos, mas, a cada mês, já perfaz bilhões de transações, que movimentam outros trilhões em dinheiro, sem cobrança de taxas para pessoas físicas. É o que incomoda gigantes mundiais, principalmente as administradoras de cartão de débito, como as norteamericanas Mastercard e Visa, e as big techs, que operam sistemas de pagamentos privados.
O presidente Donald Trump enxerga o Pix como
um problema para a hegemonia tecnológica e financeira do seu país, porque a
inovação começa a se espalhar mundo afora. No entendimento dele, as relações
entre países é um jogo de soma zero, onde só há ganhos quando alguém perde — e,
nesse caso, quem perde são as empresas de lá.
Essa visão é contestada até mesmo dentro dos
Estados Unidos. O economista e Prêmio Nobel Paul Krugman há alguns dias apontou
o Pix como “o futuro do dinheiro”. Para ele, o setor financeiro dos Estados
Unidos não está disposto a aceitar a existência de um ecossistema de pagamentos
operado pelo setor público que tende a alijar do mercado seus próprios
produtos.
Outro ponto de tensão é o do risco de que uma
forma qualquer de Pix seja adotada pelos países-membros do Brics, de modo a
substituir o dólar nas operações entre eles.
Como observa Alex Hoffmann, CEO e cofundador
da PagBrasil – empresa que opera na internacionalização do Pix e que
recentemente anunciou o lançamento do serviço nos Estados Unidos –, o episódio
é o reconhecimento de que, além de contribuir decisivamente para a inclusão
bancária da população, a ferramenta é hoje a melhor forma de pagamento
instantâneo.
Em um mundo cada vez mais conectado e
multipolar, o Pix pode ser a semente para a difusão de soluções locais e
descentralizadas, que consigam não só promover o acesso a serviços financeiros,
mas, também, desenvolver novos modelos de negócios e abrir espaço para
inovações entre os produtos já existentes, até mesmo fora do segmento.
Para Roberta Muramatsu, professora da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, o Brasil pode assessorar iniciativas
desse tipo em outros países, porque o mundo demanda por inclusão financeira,
nos moldes desenvolvidos pelo Brasil.
No entanto, a agenda do Pix ainda precisa
avançar em novas funcionalidades e em aperfeiçoamento, como o Pix parcelado,
antes de ensaiar um processo de internacionalização capitaneado pelo Banco
Central. Além disso, ainda existem vulnerabilidades que precisam ser atacadas
para que não sejam pretexto para novas rejeições, como a que Trump começou a
ensaiar. Trata-se da dificuldade em recuperar as quantias desviadas via Pix de
operações fraudulentas ou golpes e dos vazamentos de chaves.
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