Folha de S. Paulo
Petistas e bolsonaristas tensionam o campo
político e desviam o foco dos reais problemas do país com suas peripécias
quixotescas
A política brasileira virou a paródia de um
romance de cavalaria. Petistas e bolsonaristas se enfrentam a partir da criação
de inimigos e paixões imaginárias. São como Dom Quixote, que luta contra moinhos de vento e vê numa
camponesa rude, sem nenhum afeto por ele, sua amada e nobre dama Dulcinéia.
Por óbvio, o jogo do poder envolve embates entre opostos, mas a natureza fantasiosa dos objetos em disputa e a incitação ao medo tensionam ainda mais o campo político, desviam o foco dos verdadeiros problemas do país e implicam graves desvios éticos.
Na última semana, as peripécias quixotescas
foram evidentes. Eduardo Bolsonaro, fingindo que seu amado Donald Trump se
importa com a democracia brasileira, apoia a agressiva alta de tarifa pelos EUA, que afeta produção,
emprego e pode piorar a inflação.
Para ele e seus apoiadores, o STF é o grande
vilão, como se não houvesse evidências de que o ex-presidente conspirou para
dar um golpe. Deixam claro, portanto, que o slogan "Brasil acima de
tudo" sempre foi uma ficção. Alegam defesa da liberdade de expressão,
quando na verdade não passa de chantagem para tentar livrar Jair
Bolsonaro da cadeia.
Já Lula e o PT reforçam a datada narrativa de ricos contra
pobres para aprovar o aumento do IOF, que não tem nada a ver com
redistribuição de renda.
Se fosse esse o objetivo, seu governo não
teria expandido o gasto público de forma descomunal, elevando assim juros e
inflação, que prejudica os mais pobres. Teria atuado para cortar subsídios,
rever a regressividade dos impostos que incidem sobre o consumo, desvincular o
salário mínimo da Previdência, acabar com os supersalários e mais uma série de
medidas que de fato contribuem para diminuir desigualdades e impulsionar a
economia.
Com a ajuda do ex-presidente, incluem o
imperialismo ianque na disputa imaginária, de tom autoritário, do "nós
contra eles".
Enquanto petistas e bolsonaristas escrevem
sua narrativa delirante, só os fiéis escudeiros da democracia e do
desenvolvimento do país sabem que o real inimigo nessa história é a
polarização.
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