O Estado de S. Paulo
Se frustrassem Donald Trump, republicanos poderiam nem sair candidatos em 2026
A aprovação do pacote fiscal de Donald Trump
lança os EUA em um experimento econômico de consequências sociais e políticas
imprevisíveis. As projeções dos técnicos apontam para o agravamento da situação
dos mais pobres e das contas públicas.
A renúncia tributária de US$ 4,5 trilhões introduzida por Trump em 2017, em vigor até o fim deste ano, torna-se permanente. Foram acrescentadas promessas de campanha como isenção de impostos sobre gorjetas e horas extras e dedução de US$ 6 mil para idosos com renda até US$ 75 mil.
O pacote corta gastos com assistência médica,
afetando 17 milhões de pobres, e cupons de alimentação. Quem comprovar que
trabalhou ao menos 80 horas por mês terá ajuda para pagar planos de saúde.
Bebês terão uma poupança para sacar aos 18 anos, por exemplo, para pagar a
faculdade.
Segundo o Laboratório do Orçamento da
Universidade Yale, as mudanças tributárias e cortes de direitos sociais
resultam na perda de US$ 700 por ano (2,9% da renda) dos 20% mais pobres e no
ganho de US$ 30 mil (1,9% da renda) para o 1% mais rico.
O pacote acrescenta US$ 150 bilhões em gastos
com defesa, que atingirão a marca de US$ 1 trilhão em 2026, e US$ 170 bilhões
para o controle da fronteira e a repressão aos imigrantes ilegais, que saltarão
de US$ 34 bilhões para mais de US$ 200 bilhões.
De acordo com o Escritório de Orçamento do
Congresso, o pacote acrescenta US$ 3,4 trilhões ao déficit até 2034.
Do atual US$ 1,8 trilhão, ou 6% do PIB, deve
saltar para 9%, segundo a agência de avaliação de risco Moody’s.
Com isso, a dívida pública subirá de 123%
para 130% do PIB. O recorde anterior era de 106%, em 1946, logo depois da 2.ª
Guerra. O mercado tolera picos de endividamento em crises como a de 2008 e a
pandemia, observa o Wall Street Journal.
Dessa vez, não há justificativa. As dúvidas
sobre a capacidade dos EUA de pagar a dívida devem levar à fuga de investidores
dos títulos do Tesouro, desvalorização do dólar e aumento dos juros, para
tentar atrair de volta esses investidores. Os EUA podem entrar num círculo
vicioso de insolvência.
Trump aposta numa injeção de atividade
econômica que reverterá o endividamento. É uma aposta incerta. Mas os deputados
e senadores republicanos tinham uma escolha mais imediata a fazer.
Se o pacote trouxer mais sofrimento para os
eleitores, os republicanos podem ser derrotados nas eleições que renovarão a
Câmara e um terço do Senado no ano que vem. Mas se frustrassem Trump, que
controla as primárias do partido, nem sequer sairiam candidatos.
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