domingo, 6 de julho de 2025

Pacote fiscal lança EUA no imprevisível - Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Se frustrassem Donald Trump, republicanos poderiam nem sair candidatos em 2026

A aprovação do pacote fiscal de Donald Trump lança os EUA em um experimento econômico de consequências sociais e políticas imprevisíveis. As projeções dos técnicos apontam para o agravamento da situação dos mais pobres e das contas públicas.

A renúncia tributária de US$ 4,5 trilhões introduzida por Trump em 2017, em vigor até o fim deste ano, torna-se permanente. Foram acrescentadas promessas de campanha como isenção de impostos sobre gorjetas e horas extras e dedução de US$ 6 mil para idosos com renda até US$ 75 mil.

O pacote corta gastos com assistência médica, afetando 17 milhões de pobres, e cupons de alimentação. Quem comprovar que trabalhou ao menos 80 horas por mês terá ajuda para pagar planos de saúde. Bebês terão uma poupança para sacar aos 18 anos, por exemplo, para pagar a faculdade.

Segundo o Laboratório do Orçamento da Universidade Yale, as mudanças tributárias e cortes de direitos sociais resultam na perda de US$ 700 por ano (2,9% da renda) dos 20% mais pobres e no ganho de US$ 30 mil (1,9% da renda) para o 1% mais rico.

O pacote acrescenta US$ 150 bilhões em gastos com defesa, que atingirão a marca de US$ 1 trilhão em 2026, e US$ 170 bilhões para o controle da fronteira e a repressão aos imigrantes ilegais, que saltarão de US$ 34 bilhões para mais de US$ 200 bilhões.

De acordo com o Escritório de Orçamento do Congresso, o pacote acrescenta US$ 3,4 trilhões ao déficit até 2034.

Do atual US$ 1,8 trilhão, ou 6% do PIB, deve saltar para 9%, segundo a agência de avaliação de risco Moody’s.

Com isso, a dívida pública subirá de 123% para 130% do PIB. O recorde anterior era de 106%, em 1946, logo depois da 2.ª Guerra. O mercado tolera picos de endividamento em crises como a de 2008 e a pandemia, observa o Wall Street Journal.

Dessa vez, não há justificativa. As dúvidas sobre a capacidade dos EUA de pagar a dívida devem levar à fuga de investidores dos títulos do Tesouro, desvalorização do dólar e aumento dos juros, para tentar atrair de volta esses investidores. Os EUA podem entrar num círculo vicioso de insolvência.

Trump aposta numa injeção de atividade econômica que reverterá o endividamento. É uma aposta incerta. Mas os deputados e senadores republicanos tinham uma escolha mais imediata a fazer.

Se o pacote trouxer mais sofrimento para os eleitores, os republicanos podem ser derrotados nas eleições que renovarão a Câmara e um terço do Senado no ano que vem. Mas se frustrassem Trump, que controla as primárias do partido, nem sequer sairiam candidatos.

 

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