domingo, 20 de julho de 2025

Supremacia cristã - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Livro mostra origens religiosas do antissemitismo e do racismo contra negros

"Christian Supremacy", de Magda Teter, é uma obra de fôlego que mostra as origens comuns do antissemitismo e do racismo contra negros. O pecado original é a religião.

Os primeiros cristãos queriam ao mesmo tempo uma religião que fosse nova, podendo expandir-se sem embaraços, e que gozasse da respeitabilidade de uma tradição mais longa. A solução foi inscrever o cristianismo no judaísmo. O novo credo já estaria previsto nas profecias de uma fé bem mais antiga e teria vindo para substituir a antiga aliança por uma nova (supersessionismo).

Rapidamente, pensadores cristãos, de Paulo, um judeu, a Lutero, passando por santo Agostinho e muitos outros, se puseram a produzir uma teologia de acordo com essa ideia. O irmão mais velho, o judaísmo, deveria submeter-se ao mais novo, o cristianismo, a exemplo de Ismael e Isaac e de Esaú e Jacó.

Essa discriminação religiosa logo se estendeu para o campo das leis e da cultura e depois "vazaria" para a questão racial.

Quando veio o comércio transatlântico e se tornou necessário justificar a escravização de negros, o caminho já estava pronto. As escrituras ofereceriam pretextos teológicos, como a maldição de Cam, que criavam uma hierarquia racial bíblica, a qual, por sua vez, autorizava diferenças no tratamento jurídico entre brancos e negros. Daí brotou a cultura de inferiorização dos negros, que perdura até hoje.

Teter mostra esses movimentos todos com razoável nível de detalhe. Relata também os percalços de judeus e negros para conquistar a igualdade formal de direitos. O texto traz muitas histórias, desde as mais conhecidas, como o caso Dreyfus ou dessegregação racial das escolas nos EUA, até outras menos, como o antissemitismo de resorts, pelo qual hotéis de luxo se recusavam a hospedar clientelas indesejáveis.

Uma das expressões-código então utilizadas na publicidade era "exclusivo", que lembra muito os anúncios de emprego brasileiros que estampavam entre os requisitos "boa aparência", a senha para que negros não se candidatassem.

 

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