Folha de S. Paulo
Livro mostra origens religiosas do
antissemitismo e do racismo contra negros
"Christian Supremacy", de Magda
Teter, é uma obra de fôlego que mostra as origens comuns do antissemitismo e
do racismo contra
negros. O pecado original é a religião.
Os primeiros cristãos queriam ao mesmo tempo uma religião que fosse nova, podendo expandir-se sem embaraços, e que gozasse da respeitabilidade de uma tradição mais longa. A solução foi inscrever o cristianismo no judaísmo. O novo credo já estaria previsto nas profecias de uma fé bem mais antiga e teria vindo para substituir a antiga aliança por uma nova (supersessionismo).
Rapidamente, pensadores
cristãos, de Paulo, um judeu, a Lutero, passando por santo Agostinho e
muitos outros, se puseram a produzir uma teologia de acordo com essa ideia. O
irmão mais velho, o judaísmo, deveria submeter-se ao mais novo, o cristianismo,
a exemplo de Ismael e Isaac e de Esaú e Jacó.
Essa discriminação religiosa logo se estendeu
para o campo das leis e da cultura e depois "vazaria" para a questão
racial.
Quando veio o comércio transatlântico e se
tornou necessário justificar a escravização de negros, o caminho já estava
pronto. As escrituras ofereceriam pretextos teológicos, como a maldição de Cam,
que criavam uma hierarquia racial bíblica, a qual, por sua vez, autorizava
diferenças no tratamento jurídico entre brancos e negros. Daí brotou a cultura
de inferiorização dos negros, que perdura até hoje.
Teter mostra esses movimentos todos com razoável nível de detalhe. Relata também os percalços de judeus e negros para conquistar a igualdade formal de direitos. O texto traz muitas histórias, desde as mais conhecidas, como o caso Dreyfus ou dessegregação racial das escolas nos EUA, até outras menos, como o antissemitismo de resorts, pelo qual hotéis de luxo se recusavam a hospedar clientelas indesejáveis.
Uma das expressões-código então utilizadas na
publicidade era "exclusivo", que lembra muito os anúncios de emprego
brasileiros que estampavam entre os requisitos "boa aparência", a
senha para que negros não se candidatassem.
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