O Estado de S. Paulo
Tarcísio de Freitas é ou não moderado? É ou
não a projeção – traiçoeira – de um bolsonarismo sem Bolsonaro? A evolução dessas
questões informa sobre o futuro inevitável – o do pós-Jair. O pérfido sujeito,
a depender do freguês, será extremista dissimulado ou suave oportunista.
O que essa inquietação comunica é
incontornável: Tarcísio como ameaça viável aos esquemas de poder hoje
polarizados, ao mesmo tempo esperança para o dito Centrão. Ele seria
competitivo – é o que comunicam os seus adversários, aí incluída a empresa
familiar dos Bolsonaro.
A esquerda está mobilizada para convencer que a apregoada brandura de Tarcísio, o técnico com trânsito, seria uma farsa – um extremista cujo comedimento seria fachada para se distinguir do padrinho. Essa compreensão deriva de anomalia já estabelecida na linguagem política: a de que não haveria direita no Brasil. Sairíamos da centro-esquerda diretamente à extrema-direita.
Ocorre que há direita aqui – e esse é o
problema, tanto para a esquerda, cultora-difusora do mito da direita
exclusivamente extremista, quanto para a direita bolsonarista, segundo a qual
não haveria opção sem os Bolsonaro.
Há. É o que nos informa o conjunto de
mensagens de Eduardo a Jair, conforme seleção da Polícia Federal. Nem o mais
maledicente cronista dirá que o relatório da PF seja tarcisista. Outra coisa
será observar que a leitura do documento noticia a implosão do caçula do mito,
sua inviabilidade eleitoral, sua solidão política, ele ali desesperado para ser
o candidato de papai ingrato, e acaba por ser positiva para a ideia duvidosa de
independência do governador de São Paulo.
Tarcísio, segundo Eduardo, é o incômodo; um
dos elementos contra o qual organiza o lobby junto à Casa Branca. Escreveu o
03: “Precisamos segurar isso (‘a narrativa de Tarcísio’) para nos mantermos
vivos aqui (nos EUA)”. Ou se correria o risco de “a solução Tarcísio” convencer
os americanos de que há alternativa no Brasil – e os ianques então largariam a
mão da família, relaxada a carga pela liberdade de Bolsonaro.
Eduardo não quer que Tarcísio seja palatável
a Trump – um dos motivos por que blinda a comunicação com o governo americano.
Porque “uma solução Tarcísio passa longe de resolver o problema”. A
prosperidade de Tarcísio equivaleria à “anistia light”, aquela com Jair no
limbo. Tarcísio seria saída eleitoral – rei morto, rei posto. Vida que segue. E
eleição, sendo triunfo da normalidade, é agenda secundária para o bolsonarismo.
Não que o porvir de Tarcísio seja tranquilo.
Ele é, entre os presidenciáveis à direita, o único com dever de lealdade ao
padrinho; o que precisaria da bênção formal, dentro dos prazos, do “amigo”;
aquele que teria mais dificuldade em se desincompatibilizar de Bolsonaro para
se desincompatibilizar do governo de São Paulo. Ele talvez tenha Jair – e nunca
se saberá como. Terá seguramente contra si a cria.
Ratinho Jr. aquece no banco.
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