sábado, 23 de agosto de 2025

O mundo dos oligarcas, por André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

O que intimida os oligarcas é a capacidade nuclear. A Coreia do Norte é bom exemplo: não foi atingida pelas tarifas de Trump. O Brasil sabe fazer a bomba, mas é possível apenas enxergar uma eleição tumultuada em 2026

O governo do presidente Lula, neste momento, faz esforço hercúleo para superar as enormes dificuldades que surgiram à sua frente. A atuação errática e sinuosa de Donald Trump indica que o presidente dos Estados Unidos não hesita em abrir novas frentes de combate para estar sempre nas manchetes. Quando as negociações com Vladimir Putin não caminham tão bem quanto gostaria, ele envia navios de guerra para o Caribe e fala, de maneira genérica, em intervir para liquidar com a ação dos grupos narcotraficantes na região. 

É outra possibilidade de conflito bélico, desta vez na América Central, o que oferece a oportunidade de troca de posições. Os russos estão estabelecidos na Venezuela. Podem negociar essa posição com alguma vantagem na Ucrânia. Nesse caso, Nicolás Maduro seria apenas uma moeda de troca. Baixo valor. Mas o presidente Lula manteve até agora a altivez na sua relação com Washington. Talvez esteja falando mais do que deveria, mas, efetivamente, não cedeu aos caprichos do presidente alaranjado. Após a saraivada de tarifas, quem está perdendo cada vez mais é a turma dos Bolsonaro.

As pesquisas de opinião indicam que a população já percebeu que os filhos do ex-presidente trabalham a favor de seus interesses. O slogan Deus, pátria e família ficou reduzido ao último item. A família deles. Deus e pátria são subsidiários nessa equação política. Eles se tratam aos palavrões. Até o missionário adota palavreado chulo. As mesmas pesquisas indicam que o governo está conseguindo recuperar a popularidade, embora a maioria ainda seja crítica à ação do Palácio do Planalto. Mas a distância entre posição favorável e desfavorável reduziu-se a pouco mais de dois pontos. Recuperação impressionante.

No terreno das pesquisas, sim. Na política, não. O governo sofreu pesada derrota na instalação da CPMI do INSS. Opositores foram eleitos para a presidência e a relatoria da comissão, os dois postos mais importantes. O Palácio do Planalto apostava em nomes alinhados ao Executivo para travar as investigações e evitar desgastes. O senador Carlos Viana (Podemos-MG), de oposição, foi eleito com 17 votos, contra 13 dados a Omar Aziz (PSD-AM), que era considerado favorito e contava com o apoio de Lula e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). O presidente indicou um relator de oposição, que será o deputado Alfredo Gaspar (União-AL). O nome apoiado pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), era o do deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO). Derrota significativa para o dispositivo político do Palácio do Planalto. 

Esse resultado indica que o segundo semestre será flamejante, inclusive, pela possibilidade de o irmão do presidente Lula, dirigente partidário, ser convocado para prestar esclarecimento ao plenário raivoso da CPMI. Momentos de glória de alguns parlamentares, um pesadelo previsível para o governo. A crise política vai aproveitar a elevação da temperatura porque os norte-americanos não dão sinais de que vão reduzir a pressão. No início de setembro, o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus principais correligionários serão julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Alexandre de Moraes estará lá para verbalizar suas razões e determinar a prisão ou a libertação dos acusados. O governo de Washington, que mantém Brasília sob severa vigilância, fará o possível para tumultuar o ambiente. 

O governo de Washington possui a capacidade de intervir quando quiser e como quiser em qualquer país do planeta. Até agora, recuou apenas diante da monumentalidade do poder dos chineses, capazes de produzir grandes estragos tanto na esfera da guerra propriamente dita quanto nas relações comerciais. A paixão de Trump pela Rússia é caso antigo. O país tem Produto Interno Bruto (PIB) inferior ao do Brasil, mas possui bombas atômicas e mísseis equipados com ogivas nucleares capazes de destruir boa parte do mundo. Esse detalhe explica a cerimônia com que autoridades de Moscou são tratados em Washington. Na realidade, não há planos objetivos para acabar com a guerra na Ucrânia. 

O que intimida os oligarcas é a capacidade nuclear. A Coreia do Norte é bom exemplo. Seu governo envia armas, munições e soldados para a guerra na Ucrânia, porém não foi atingida pelas tarifas de Trump. O país tem a bomba. Nesse caminho, não será impossível que, em pouco tempo, Japão, Austrália, Alemanha, Canadá também detonem seus artefatos atômicos. O ponto fora da curva é a Índia, que tem bomba e foi punida pelo tarifaço. Mas, é a economia que mais cresce no mundo. Precisa ser contida. O Brasil sabe fazer a bomba. Os desafios do novo mundo dos oligarcas vão além da imaginação. No momento, é possível apenas enxergar uma eleição tumultuada em 2026.

 

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