sexta-feira, 1 de agosto de 2025

A tática de Trump - Bernardo Mello Franco

O Globo

Assassinos, terroristas, ditadores, traficantes. Esses são os alvos rotineiros da Lei Magnitsky, recém-usada contra o ministro Alexandre de Moraes. O governo americano já havia anunciado o tarifaço sobre produtos brasileiros e a revogação de vistos de juízes do Supremo. Agora aplica a chamada “pena de morte financeira” ao relator do processo contra Jair Bolsonaro.

Embora seja dirigida ao ministro como pessoa física, a punição mira algo maior: a independência do Judiciário no Brasil. Donald Trump quer garantir impunidade a seu aliado golpista. Para defendê-lo, ataca o Estado de Direito e a soberania do país.

Como todo autocrata, o republicano acha que as leis existem para servir à vontade dos poderosos. Desde que voltou à Casa Branca, ele tem deturpado a legislação americana a seu favor. Uma das primeiras medidas foi desenterrar a Lei de Inimigos Estrangeiros, de 1798. O texto não era aplicado desde a Segunda Guerra Mundial. Nas mãos de Trump, virou arma para acelerar deportações arbitrárias.

Em junho, o presidente atropelou o governador da Califórnia ao enviar a Guarda Nacional para reprimir protestos. Quem usou a força bruta contra o estado mais rico e populoso dos EUA não pensaria duas vezes antes de atacar um país abaixo da linha do Equador.

Ao anunciar o uso da Lei Magnitsky contra Moraes, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, sugeriu que ele teria cometido “graves violações aos direitos humanos”. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, acusou o ministro de liderar uma “campanha opressiva de censura”. Os tuítes mostram que o governo americano enxerga o Brasil por uma lente invertida, que transforma acusados em acusadores e golpistas em democratas.

Trump e sua turma não toleram a ideia de um Judiciário independente. Nos últimos meses, o republicano chamou juízes que ousaram contrariá-lo de “lunáticos”, “desequilibrados”, “radicais” e “desonestos”. A tática da intimidação parece funcionar por lá. Ele nunca foi responsabilizado por incitar a invasão do Capitólio, que inspirou o 8 de Janeiro daqui.

 

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