quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Centrão com esteroides, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Supermáquina partidária nasce com discurso de oposição, mas não entrega cargos no governo

União Brasil e PP lançaram ontem uma supermáquina partidária. A federação nasceu com discurso oposicionista, mas já avisou que não vai entregar os cargos no governo. Continuará a comandar quatro ministérios, além da Caixa Econômica Federal e da Codevasf.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, descreveu a aliança como um “movimento político grandioso”. Por enquanto, trata-se de um grande negócio para seus dirigentes. Juntos, eles devem abocanhar quase R$ 1 bilhão do fundo eleitoral em 2026.

A União Progressista vai controlar as maiores bancadas da Câmara e do Senado, com 109 deputados e 15 senadores. Apesar do gigantismo, não deve lançar candidato próprio ao Planalto. “Temos grandes nomes, mas talvez não seja a hora de sermos a cabeça”, disse o presidente do PP, Ciro Nogueira.

A fala frustrou o governador Ronaldo Caiado, que havia acabado de se oferecer como opção para “libertar o Brasil das garras do PT”. Sem apoio dos próprios aliados, o ruralista deve ser obrigado a disputar uma vaga de senador por Goiás.

Se depender das cúpulas do PP e do União, a federação apoiará Tarcísio de Freitas, hoje no Republicanos. Falta combinar com os filhos do capitão. No domingo, o vereador Carlos Bolsonaro escreveu que os governadores de direita agem “como ratos” e só pensam no espólio de votos do pai.

União e PP são herdeiros da Arena, que se apresentava como “o maior partido do Ocidente”. Na solenidade de ontem, a federação também foi descrita em tons superlativos. O governador do Amazonas, Wilson Lima, proclamou “a maior união política de todos os tempos”. O governador de Roraima, Antonio Denarium, falou em “momento único na história do Brasil”.

Sem ideias a defender, os oradores recorreram ao lero-lero. O senador Alcolumbre informou que a federação não será “de oposição nem de situação”. O deputado Arthur Lira disse que o bloco vai “dialogar tudo com todos o tempo todo”.

Os diálogos com essa turma costumam custar caro aos governos. Agora eles terão que negociar com um Centrão com esteroides.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.