O Estado de S. Paulo
Hugo Motta, ex-presidente em atividade, quer
unir a Câmara. Melhor ser expresidente em atividade – servindo à manipulação
dos liras – que ex-presidente apenas, devolvido à condição essencial de
vereador federal. Adie-se ao máximo o reencontro com a natureza. O Hugo Motta
de Ciro Nogueira não quer voltar a ser Hugo Motta somente. Não tão depressa.
Recorrerá para tanto a uma pauta corporativista – corporativista sendo a razão de seu mandato à frente da casa do povo: garantir os bilhões em fundos orçamentários cuja propriedade, na forma de emendas, o Legislativo converteu em direito adquirido.
Atenção à agenda legislativa desta semana, a
ser acelerada – assim se armava o horizonte ao fim da última sexta – a
tramitação da PEC da Blindagem, o projeto de emenda à Constituição que propõe a
exigência de que o Parlamento autorize investigações contra parlamentares. Bom
jeito de unir.
O objetivo da rapaziada do chamado Centrão, a
galera que manda para valer, não é – não prioritariamente – se defender de
Alexandre de Moraes, ainda que essa fosse a intenção dos bolsonaristas no
acordo para que encerrassem o sequestro do Congresso. A turma quer se proteger
contra Flávio Dino.
É Dino quem os ameaça no mundo real, relator
– gestor-senhor – dos inquéritos sobre as várias maneiras, também tipos de
golpe, de orçamento secreto. O ministro, que opera xandonicamente, conduz
investigações com aquele jeitão de permanentes – apurações que aperta e relaxa
não raro em curiosa coincidência com os interesses legislativos do governo
Lula. Um cronista maledicente diria que o senador togado é, afinal, uma espécie
de tesoureiro das emendas parlamentares, cujos tempos administraria.
Não se sabe o que veio antes neste folhetim,
se o ovo ou a galinha. Sabe-se que, à urgência do instrumentalizado Motta pela
PEC da Blindagem, corresponderia a resposta dominical de Dino; que mandou a
Polícia Federal investigar repasses de quase R$ 700 milhões em emendas Pix,
dinheiros públicos privatizados a ponto de serem sacados na boca do caixa.
Será o caso de perguntar por que a emenda Pix
ainda é permitida pelo tão (eventualmente) enérgico Dino, dada a inexistência
de meia transparência; de meia constitucionalidade. É mesmo da ordem do
esculacho à República que cerca de mil disparos nessa forma expressa de emendas
não tenham plano de trabalho; grana distribuída a paróquias-prefeituras sem
qualquer condicionamento a políticas públicas.
E assim nós vamos, com a perversão emenda Pix
autorizada em modalidade puxadinho, com descumprimentos parciais constantes de
ordens judiciais, com providências ocasionais contra os descumprimentos
parciais constantes de ordens judiciais, com todas as partes
exercendo-cultivando poder, com o orçamento secreto ativo e se reinventando,
com Flávio Dino ativo e se reinventando. E com o Brasil parado-lesado e cheio
de salvadores da pátria.
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