O Globo
Governador está disposto a cumprir périplo
desgastante para receber a unção de Bolsonaro, embora ainda alimente dúvidas
quanto à candidatura a presidente
Num vídeo que viralizou nas redes sociais, o
PT paulista critica Tarcísio de Freitas pelo novo modelo de pedágios nas
estradas de São Paulo. Com uma paródia de uma música infantil conhecida, a peça
mostra uma montagem do governador dançando ao som de:
— Um, dois, três pedaginhos; quatro, cinco,
seis pedaginhos, 150 ou mais.
Diante dos mais recentes desdobramentos das
investigações sobre Jair e Eduardo Bolsonaro, acusados de tentar coagir
ministros do Supremo Tribunal Federal e interferir no julgamento da trama
golpista, fica evidente que pedágio caro, mesmo, é o que o republicano está
disposto a pagar para receber a unção do ex-presidente como seu candidato à
Presidência no ano que vem.
Ofendido por Eduardo, Tarcísio reagiu fazendo um desagravo à família e chamando de briga entre pai e filho conversas que evidenciam uma série de afrontas a decisões judiciais. Não é o primeiro sapo que ele engole sem fazer cara feia desde que começou a flertar mais abertamente com a candidatura. Até ser intermediário de uma tentativa de liberar o passaporte de Bolsonaro Tarcísio já aceitou.
As conversas divulgadas na quarta-feira e o
relatório da Polícia Federal comprovam que foi o próprio Bolsonaro quem
instruiu Tarcísio a buscar uma ponte com o STF. Essa tabelinha não agradou a
Eduardo, que se vê numa espécie de batalha épica em terras estrangeiras para
honrar um pai ingrato.
As novas rodadas de pesquisas da Quaest
mostram que a lealdade absoluta a Bolsonaro não rendeu dividendos eleitorais
claros. Pelo contrário: a parcela do empresariado que torce pela candidatura de
Tarcísio avalia que ele poderia alçar voo independente, já que o bolsonarismo
raiz perde apoio à medida que fica claro que o clã trabalha contra o Brasil,
finge que age por anistia para os condenados no 8 de Janeiro e pede Pix
enquanto movimenta milhões de reais.
Existe a possibilidade de um grito de
independência da parte de Tarcísio? Seus interlocutores mais próximos são
unânimes em dizer que de jeito nenhum. Ele nunca será candidato sem o aval de
Bolsonaro, garantem.
O cenário atual mostra que a campanha de
Eduardo e seu Sancho Pança, Paulo Figueiredo, em Washington conseguiu, sim,
causar danos à economia brasileira e prejuízos pessoais a Alexandre de Moraes —
e, possivelmente, a outras autoridades nos próximos dias. Mas, para Jair, o
resultado não poderia ser mais desastroso. Diante da esperada e iminente condenação,
a expectativa é que Bolsonaro adote, nas próximas semanas, a atitude pragmática
de antecipar a indicação de seu substituto nas urnas.
Os políticos são céticos quanto à
possibilidade de alguém com um histórico de manifestações machistas e misóginas
como ele apostar na candidatura da própria mulher, Michelle, agora que o filho
está exilado sem possibilidade de voltar ao Brasil. Diante desse quadro,
Tarcísio seria a aposta mais segura para disputar com chances contra Lula e, se
vencer, levar a cabo a ideia de indulto a Bolsonaro e anistia aos demais
condenados.
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Caso esse enredo se desenrole assim, Tarcísio
teria de vencer sua própria ambivalência. Aliados relatam que ele acorda
candidato a presidente e vai dormir jurando que disputará a reeleição ao
Palácio dos Bandeirantes.
A recuperação de Lula nas pesquisas pode ser
apenas momentânea, mas é um fator a mais a agravar a insegurança atroz, uma das
características mais atribuídas a Tarcísio, junto com seu pavor de desagradar
ao padrinho político. Como a decisão de alçar voo nacional, no caso dele,
inclui a necessidade de renunciar em abril a um governo bem avaliado para só em
agosto a candidatura ser confirmada, tem-se um dilema cujo desfecho é
impossível de cravar com os dados de hoje. Ainda há quilômetros a rodar e muito
pedágio a pagar até a conclusão da novela.
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