O Globo
Balanço mostra que oito mil empresas foram
afetadas pelo tarifaço. Há boa notícia sobre castanha no Acre e preocupação com
setor de máquinas e equipamentos
O número final ainda está sendo refinado, mas
em torno de oito mil empresas foram atingidas pelo tarifaço de Donald Trump.
Esta crise afeta as empresas de forma diferente e, por isto, a ajuda do governo
foi formatada para socorrer mais quem teve prejuízo maior. O economista
Guilherme Mello, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, diz
que até o dia 8 todos os sistemas de financiamentos estarão prontos e espera
para a segunda quinzena as primeiras liberações de crédito.
Há produtos que são facilmente realocados em outros mercados. O presidente Lula foi ao Acre visitar produtores de castanha que vendem para os Estados Unidos e lá ouviu o seguinte: “presidente, já está resolvido o nosso caso, a gente conseguiu outros compradores”. São bens com demanda global, como café e castanha, ou que podem ser vendidos no mercado interno.
— É diferente da empresa que fabrica uma
máquina, um equipamento sob medida para uma indústria americana, uma autopeça
sob medida para a Ford. Essa vai sofrer mais a transição, por isso precisa de
capital de giro.
Em relatório feito a pedido da coluna, o
gerente de Comércio Internacional da BMJ Consultores Associados, Josemar
Franco, avaliou
que o setor de máquinas e equipamentos é o mais prejudicado e pode desempregar
15 mil pessoas. Disse que “beira o impossível” nesse setor substituir
os Estados Unidos. As exportações já caíram 8,1% no semestre, e a queda chega a
22,9% na comparação do primeiro trimestre deste ano com o mesmo período de
2024.
Em alguns setores, os números do semestre
mostram aumento, mas quando se compara o primeiro e o segundo trimestres, a
queda fica evidente. Em frutas, incluindo castanhas e nozes, houve alta de
17,2% no balanço do primeiro semestre. Mas, no segundo trimestre, teve uma
queda de 5,7%. Em pescados, a mesma situação: houve alta de 31% no semestre,
mas queda de 27% no segundo trimestre comparado ao primeiro. Isso se explica
por diversos motivos. Um deles é a antecipação de compra desses produtos já que
entraria em vigor o violento aumento do imposto de importação.
E o futuro? Há a possibilidade de que tudo
isso se resolva rapidamente, mas pouca gente acredita neste cenário. O mais
provável é ser uma crise longa.
— Digamos que não se resolva, esse empresário
de máquinas e equipamentos terá que buscar clientes em outros países. Para
isso, precisará adaptar a produção e investir. Existe uma linha de crédito
específica para esse caso, mas poucas empresas têm grande dependência do
mercado dos Estados Unidos — diz Mello.
Em móveis, registrou-se queda de 3% nas
exportações, mas houve também uma antecipação de contratos, o que fez as
exportações do setor fecharem em alta de 6,8%. Neste caso, há outra má
notícia. Na
sexta-feira, o presidente Trump avisou que estava iniciando um processo contra
móveis importados em geral, que será concluído em 50 dias e pode
aumentar a taxação ainda mais contra diversos países. Diante da ameaça, os
contratos já estão sendo suspensos.
O secretário acredita que, em algum momento,
os Estados Unidos vão querer conversar questões comerciais. Até agora, como se
sabe, a exigência feita pelo governo americano é descabida e nada tem a ver com
o comércio. É o fim do processo contra Bolsonaro e uma anistia para quem tentou
um golpe de Estado no país.
— Os Estados Unidos compram manga do Brasil e
do México,
mas a produção mexicana acabou em julho. Os americanos podem não comer manga ou
pagar muito mais caro pela fruta. Mas é uma bobagem dos Estados Unidos. O café
é um caso clássico. O Brasil pode realocar a produção para outros lugares, mas
não comprar do Brasil vai ser muito ruim para eles. Podem dizer que comprariam
da Colômbia.
A produção da Colômbia é muito menor do que a nossa e os americanos tomam um
blend, mistura do nosso café ao colombiano — afirma.
Aqui no Brasil, o plano de ajuda tem
potencial para socorrer as empresas, mas ainda não está funcionando. Mello
disse que o governo corre para implementar e espera ter todos os sistemas
prontos no dia 8 de setembro. A partir dessa data, as empresas poderão acessar
as linhas de crédito, com as primeiras liberações previstas para meados do mês.
Enquanto o Brasil conta as suas perdas, os
governadores da direita ignoram o tema e fazem campanha para 2026, como se nada
tivessem a ver com essa bomba que caiu sobre a economia
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