O Globo
Ex-presidente deixou de ser o candidato mais
forte na direita
Viramos a página do bolsonarismo. A
afirmação, assim peremptória, a seco, pode parecer exagerada. Afinal, Jair
Bolsonaro está muito presente no noticiário, à medida que o julgamento se
aproxima. Com exceção do governador gaúcho Eduardo Leite,
todos os pré-candidatos à direita do presidente Lula estão
em disputa aberta por sua bênção. Quem ouve o discurso de qualquer político à
esquerda sai com a impressão de que, no ano que vem, será novamente Lula contra
um representante de Jair. Mas quem prestou atenção à última leva de pesquisas
vê um retrato muito distinto disso.
Segundo o Datafolha, na virada de julho para agosto, 61% dos brasileiros diziam que não votariam num candidato que prometa anistia a Bolsonaro. De acordo com a última rodada do Ipespe, a proximidade com Donald Trump prejudica um candidato para 53% dos brasileiros. Esse número, a rejeição ao presidente americano, salta para 69% entre os mais centristas, que se põem entre esquerda e direita. São os eleitores que, capazes de votar tanto num lado quanto noutro no espectro, definem a eleição.
Os indícios não estão apenas aí. No final de
julho, a Atlas Intel perguntou aos eleitores em quem votariam se a briga Lula
contra Bolsonaro se repetisse hoje. Lula venceria, 47,8% a 44,2%. Mas e se a
disputa fosse entre Lula e o governador paulista, Tarcísio de Freitas? Aí seria
50,4% para o presidente, 46,6% para Tarcísio. É um empate técnico, na margem de
erro. Também Ratinho Junior, governador do Paraná, é um candidato que aparece
mais forte, contra Lula, que Bolsonaro.
O ponto aqui é o seguinte: em todas as
últimas pesquisas que fizeram a comparação, Bolsonaro deixou de ser o candidato
mais forte na direita. É o terceiro em competitividade. E, segundo a Quaest, carrega
consigo rejeição de 44%. A de Tarcísio é 17%; a de Ratinho, 21%.
A disputa do ano que vem será difícil para
qualquer um que chegue ao segundo turno. O Brasil não deixou de ser um país
profundamente dividido entre direita e esquerda. O cenário de 2022, com briga
no segundo turno definida por uma nesga de votos, segue bastante provável. Mas
o eleitor brasileiro não está procurando um candidato bolsonarista. De novo a
Quaest: quase 60% acreditam que Bolsonaro provocou Alexandre
de Moraes; 52% acreditam que ele participou da tentativa de golpe de
Estado. E apenas 10% questionam que tenha havido tentativa de golpe.
O Instituto Ideia demonstra com mais clareza
essa divisão. Em sua pesquisa do início de agosto, identificou que 17% dos
brasileiros se consideram petistas. Outros 17% são de esquerda, mas não
petistas. É claro que essa turma, no segundo turno, se junta ao entorno de
Lula. Mas a esquerda se divide em duas metades. Não é assim com a direita. De
acordo com a mesma pesquisa, 12% dos brasileiros se consideram bolsonaristas. E
26% são de direita, mas não bolsonaristas. O corte à direita é de dois terços
para um lado, um terço para o outro.
Lula não é um presidente popular. Seus
números melhoraram, sim, mas não a ponto de torná-lo mais popular que
impopular. Tanto ele, quando brigou pela reeleição, quanto Dilma eram mais bem
avaliados que rejeitados um ano antes da disputa. Com Fernando Henrique também
foi assim. Lula, neste terceiro mandato, tem rejeição maior que aprovação. De
todos os presidentes que buscaram retornar ao Planalto, só Bolsonaro estava em
situação equivalente um ano antes da disputa.
Mas, se todas as pesquisas de qualidade
mostram que o bolsonarismo está em franca queda, por que continuamos a desenhar
a próxima reeleição como se ainda estivéssemos em 2018? Existem algumas razões.
A primeira é que interessa ao governo. Justamente porque Bolsonaro é muito mais
impopular que Lula, à esquerda interessa manter a impressão de que a briga
segue a mesma e de que um golpe militar está ali na esquina. À família
Bolsonaro, interessa igualmente posar de dona dos votos de direita. Enquanto
emanar essa aura de donos da direita, terão chance de conseguir capturar uma
anistia impopular. Bolsonaro, evidentemente, só pensa em diminuir ao máximo a
pena a que deverá ser condenado.
Bolsonaro está acabando. A febre passou. É
hora de todos começarmos a ouvir o que os brasileiros estão dizendo por meio
das pesquisas.
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