Valor Econômico
Avaliação é que economia será determinante
A se confirmar essa hipótese, voltaria a se impor na eleição a já manjada frase de James Carville, estrategista de Bill Clinton em 1992, de que “é a economia, estúpido”, que move o eleitor.
Uma fonte qualificada da oposição afirma que
“Lula é o maior adversário de Lula”. Sustenta que, tal qual 2022, o pleito de
2026 terá como vencedor o menos rejeitado pelo eleitor. E apesar da alta
rejeição, Lula será favorito se a economia estiver bem.
Acrescenta que o adversário “mais frágil” do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva será alguém “com o sobrenome Bolsonaro”, envolto em alta
rejeição. A tese surpreende num momento em que a ex-primeira-dama Michelle
aparece bem-posicionada nas pesquisas, e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ)
surge como opção mais plausível que o irmão, deputado Eduardo Bolsonaro
(PL-SP), que, praticamente, enterrou a carreira com a aventura americana.
A mesma fonte ressalta que qualquer candidato da direita que
chegar ao segundo turno com Lula tem chance de vencer o petista. Alerta, porém,
que esse cenário não se confirmará se a economia melhorar. Dessa forma, aliados
que operam no front bolsonarista acompanham com lupa a evolução da popularidade
do presidente nas pesquisas recentes, num momento em que o petista surfa na
reprovação dos brasileiros à ofensiva tarifária de Trump.
Pesquisa Datafolha divulgada ontem mostrou que 89% dos
brasileiros acham que o tarifaço vai prejudicar a economia e 77% dizem que a
sanção vai se refletir no próprio bolso. Um dos índices mais importantes para
os petistas, neste levantamento, é de que 72% acham correto o governo negociar
para convencer Trump a recuar.
Chama a atenção que somente 6% acham que o governo deveria ceder
às exigências dos EUA, entre elas, interferir no julgamento de Bolsonaro. Esse
percentual preocupa o bolsonarismo, num momento em que Eduardo emerge como
idealizador do tarifaço, desfia chantagens ao STF, e ameaça a cúpula do
Congresso com a perda dos vistos americanos se não pautarem o impeachment de
Alexandre de Moraes e a anistia aos golpistas.
Na quinta-feira, pesquisa AtlasIntel mostrou que o governo Lula
é aprovado por 50,2% da população. É a primeira vez neste ano que a aprovação
superou a desaprovação, de 49,7%, na série histórica do instituto.
Porém, a mesma fonte da oposição contestou a evolução de Lula nas pesquisas.
Citou, como exemplo, a Quaest, divulgada em 16 de julho, segundo a qual 53% da
população desaprova o governo, enquanto 43% aprovam. Observou que foi maior a
redução da rejeição, que oscilou 4 pontos percentuais para baixo, de 57% para
53%. Já a aprovação subiu 3 pontos, de 40% para 43%, perto da margem de erro,
de 2 pontos. Já aliados de Lula comemoraram a diminuição da diferença entre
desaprovação e aprovação, que era de 17 pontos em maio, e caiu para 10 pontos
em julho.
A mesma fonte do campo da oposição argumenta que o crescimento
de Lula é incipiente, e não há sinais de que seja sustentável, salvo se a
economia se recuperar. Isso implica resistir aos efeitos do tarifaço, que
recaiu sobre 36% das exportações, manter a diminuição do preço dos alimentos,
apostar na queda da inflação e da taxa de juros.
Lembra que, antes do tarifaço, os governistas ensaiaram uma
reação com a derrota da alta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no
Legislativo, ao lançarem campanha contra o Congresso nas redes (com “hashtags”
como #congressodamamata) e pela justiça tributária, quando venceram embates com
a direita vários dias seguidos.
Mas a reação não se sustentou, e 56% da população disse que não
ficou sabendo da agenda do governo pela justiça tributária, segundo a Quaest.
Antes de se consolidar, a pauta governista de que ricos devem pagar mais
impostos acabou superada pelo tarifaço de Trump, que impôs o debate sobre a
violação da soberania.
Mas o cálculo da oposição é de que embora o tarifaço aproxime a
maioria da população do governo na defesa da soberania, esse efeito se mostre
temporário no médio prazo, caso a economia comece a sofrer as consequências da
tarifa de 50% sobre parcela relevante das exportações, que contempla itens como
café, carne bovina, frutas e pescado.
Eduardo Bolsonaro já se expôs como responsável pela ofensiva de Trump contra o
Brasil, mas a oposição acredita que, se a economia se deteriorar mais, a
população se voltará contra Lula. Os brasileiros deixarão de se importar com o
causador do problema para cobrar soluções do líder máximo do país. “Somente se
a economia melhorar, vai se cristalizar a recuperação do Lula”, conclui um
quadro influente da oposição.
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