sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Oposição vê Lula como maior adversário de Lula - Andrea Jubé

Valor Econômico

Avaliação é que economia será determinante

 

A se confirmar essa hipótese, voltaria a se impor na eleição a já manjada frase de James Carville, estrategista de Bill Clinton em 1992, de que “é a economia, estúpido”, que move o eleitor.

Uma fonte qualificada da oposição afirma que “Lula é o maior adversário de Lula”. Sustenta que, tal qual 2022, o pleito de 2026 terá como vencedor o menos rejeitado pelo eleitor. E apesar da alta rejeição, Lula será favorito se a economia estiver bem.

Acrescenta que o adversário “mais frágil” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva será alguém “com o sobrenome Bolsonaro”, envolto em alta rejeição. A tese surpreende num momento em que a ex-primeira-dama Michelle aparece bem-posicionada nas pesquisas, e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) surge como opção mais plausível que o irmão, deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que, praticamente, enterrou a carreira com a aventura americana.

A mesma fonte ressalta que qualquer candidato da direita que chegar ao segundo turno com Lula tem chance de vencer o petista. Alerta, porém, que esse cenário não se confirmará se a economia melhorar. Dessa forma, aliados que operam no front bolsonarista acompanham com lupa a evolução da popularidade do presidente nas pesquisas recentes, num momento em que o petista surfa na reprovação dos brasileiros à ofensiva tarifária de Trump.

Pesquisa Datafolha divulgada ontem mostrou que 89% dos brasileiros acham que o tarifaço vai prejudicar a economia e 77% dizem que a sanção vai se refletir no próprio bolso. Um dos índices mais importantes para os petistas, neste levantamento, é de que 72% acham correto o governo negociar para convencer Trump a recuar.

Chama a atenção que somente 6% acham que o governo deveria ceder às exigências dos EUA, entre elas, interferir no julgamento de Bolsonaro. Esse percentual preocupa o bolsonarismo, num momento em que Eduardo emerge como idealizador do tarifaço, desfia chantagens ao STF, e ameaça a cúpula do Congresso com a perda dos vistos americanos se não pautarem o impeachment de Alexandre de Moraes e a anistia aos golpistas.

Na quinta-feira, pesquisa AtlasIntel mostrou que o governo Lula é aprovado por 50,2% da população. É a primeira vez neste ano que a aprovação superou a desaprovação, de 49,7%, na série histórica do instituto.

Porém, a mesma fonte da oposição contestou a evolução de Lula nas pesquisas. Citou, como exemplo, a Quaest, divulgada em 16 de julho, segundo a qual 53% da população desaprova o governo, enquanto 43% aprovam. Observou que foi maior a redução da rejeição, que oscilou 4 pontos percentuais para baixo, de 57% para 53%. Já a aprovação subiu 3 pontos, de 40% para 43%, perto da margem de erro, de 2 pontos. Já aliados de Lula comemoraram a diminuição da diferença entre desaprovação e aprovação, que era de 17 pontos em maio, e caiu para 10 pontos em julho.

A mesma fonte do campo da oposição argumenta que o crescimento de Lula é incipiente, e não há sinais de que seja sustentável, salvo se a economia se recuperar. Isso implica resistir aos efeitos do tarifaço, que recaiu sobre 36% das exportações, manter a diminuição do preço dos alimentos, apostar na queda da inflação e da taxa de juros.

Lembra que, antes do tarifaço, os governistas ensaiaram uma reação com a derrota da alta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no Legislativo, ao lançarem campanha contra o Congresso nas redes (com “hashtags” como #congressodamamata) e pela justiça tributária, quando venceram embates com a direita vários dias seguidos.

Mas a reação não se sustentou, e 56% da população disse que não ficou sabendo da agenda do governo pela justiça tributária, segundo a Quaest. Antes de se consolidar, a pauta governista de que ricos devem pagar mais impostos acabou superada pelo tarifaço de Trump, que impôs o debate sobre a violação da soberania.

Mas o cálculo da oposição é de que embora o tarifaço aproxime a maioria da população do governo na defesa da soberania, esse efeito se mostre temporário no médio prazo, caso a economia comece a sofrer as consequências da tarifa de 50% sobre parcela relevante das exportações, que contempla itens como café, carne bovina, frutas e pescado.

Eduardo Bolsonaro já se expôs como responsável pela ofensiva de Trump contra o Brasil, mas a oposição acredita que, se a economia se deteriorar mais, a população se voltará contra Lula. Os brasileiros deixarão de se importar com o causador do problema para cobrar soluções do líder máximo do país. “Somente se a economia melhorar, vai se cristalizar a recuperação do Lula”, conclui um quadro influente da oposição.

 

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