A Janice Japiassu
Para eles a poesia
é uma donzela
que não pisa no chão
e passeia de armadura
numa bolha de nuvem.
A poesia
não tem leite nos peitos
nem cheiro no sexo
e não constitui
nova versão
da Virgem Santíssima
que pariu sem pecado
mas sujou-se com o parto
e as radicalizações de mãe eleita.
(“Ele realiza proezas com seu braço:
dispersa os soberbos de coração,
derruba do trono os poderosos;
eleva os humildes;
aos famintos enche de bens;
e despede os ricos de mãos vazias”
(O cântico de Maria – Lucas, 26-38)
A poesia é uma irmã biônica do Filho
sem espinhos nem cruz
sem suor nem sangue
sem pão nem peixe
sem festa e vinho
sem óleos nem carinhos
de Madalena.
A poesia mora num bunker
aromatizado com spray
composto de peças e paisagens
em realidade virtual.
A poesia foi vacinada contra
e não se agenda para
tesões tensões contradições
confrontos e conflitos.
A poesia faz companhia limitada
a ela própria e seus eleitos
comunicando-se a distância
em circuito fechado.
A poesia se inscreve
por controle remoto
e sensibilidade remotíssima.
Para eles a poesia
é a dissecada coisa em si
e para si
com antena para nós
programada
em pára-raios
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