sexta-feira, 1 de agosto de 2025

POESIA PRA QUE TE QUERO, Marcelo Mario Melo

A Janice Japiassu


Para eles a poesia

é uma donzela

que não pisa no chão

e passeia de armadura

numa bolha de nuvem.

 

A poesia

não tem leite nos peitos

nem cheiro no sexo

e não constitui

nova versão

da Virgem Santíssima

que pariu sem pecado

mas sujou-se com o parto

e as radicalizações de mãe eleita. 

 

(“Ele realiza proezas com seu braço:

dispersa os soberbos de coração,

derruba do trono os poderosos;

eleva os humildes;

aos famintos enche de bens;

e despede os ricos de mãos vazias”

(O cântico de Maria – Lucas, 26-38)

 

A poesia é uma irmã biônica do Filho

sem espinhos nem cruz

sem suor nem sangue 

sem pão nem peixe

sem festa e vinho

sem óleos nem carinhos 

de Madalena.

 

A poesia mora num bunker 

aromatizado com spray  

composto de peças e paisagens 

em realidade virtual.

 

A poesia foi vacinada contra 

e não se agenda para

tesões tensões  contradições 

confrontos e conflitos.

 

A poesia faz companhia limitada 

a ela própria e seus eleitos 

comunicando-se a distância 

em circuito fechado.

 

A poesia se inscreve 

por controle remoto 

e sensibilidade remotíssima.

 

Para eles a poesia

é a dissecada coisa em si

e para si

com antena para nós

programada 

em pára-raios

 

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