sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Repercussão negativa da arruaça contém aproximação entre as duas forças - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Lula retomou a iniciativa com aprovação do IR e encontro com Gilberto Kassab

No dia seguinte ao “8/1 de paletó”, governistas e oposição delimitaram novas fronteiras. No Senado, a retomada dos trabalhos legislativos foi marcada pela aprovação do projeto de lei que atualiza a tabela do IR e pelo rechaço do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), a incluir o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, que conseguiu 41 assinaturas, na pauta de votação.

Na Câmara, que registrou o arrependimento público dos arruaceiros, o presidente da Casa, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), sinalizou que pautará, sim, a anistia, se assim for decidido pelo colégio de líderes. Diante de situações semelhantes, os dois presidentes de mesas assumiram posturas diferentes em dois temas polêmicos. Motta negou, no entanto, que o compromisso de pautar o projeto tenha derivado de um acordo feito na noite de quarta-feira para que ele pudesse sentar-se na cadeira do presidente da Casa, tomada pelos bolsonaristas.

Nem Motta nem Alcolumbre sinalizaram, até aqui, com punições contra parlamentares que, abertamente, afrontaram o regimento das Casas e o decoro de seus mandatos ao obstruir, fisicamente, a abertura das sessões ao longo de 48 horas em que desviaram as redes sociais de um tarifaço que os desgasta, porque movido pelo bolsonarismo, para a arruaça no Congresso.

Lula retomou a iniciativa com aprovação do IR e encontro com Gilberto Kassab

A presença do deputado Elmar Nascimento (União-BA) ao lado de Hugo Motta, e do líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), no plenário, aplaudindo solitária e efusivamente o evasivo e dúbio discurso do presidente da Câmara, foram a imagem pública do acordo que contou com a costura do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Sóstenes é uma das lideranças mais próximas de Bolsonaro e Elmar teve familiares alvejados pela operação Overclean, da Polícia Federal, que apura o desvio de emendas parlamentares.

Não surpreende que Motta continue a negar um acordo que passaria pela costura entre anistia e mudança do foro por prerrogativa de função. O objetivo do Centrão é livrar os parlamentares do jugo do STF que tem se baseado no entendimento de que vale, para julgamento, o foro válido na ocasião do cometimento do suposto crime. Só uma mudança na Constituição, aprovada pelo Congresso, mudaria este entendimento. Para isso, STF também deve abrir mão não da interpretação de que os processos que já tenha instrução aberta permaneçam no foro em curso.

O problema não é apenas a reação do Supremo em relação à manobra que vira a livrar dezenas de parlamentares dos processos que lá tramitam sobre desvio de emendas. Esta mudança de foro também beneficiaria o ex-presidente Jair Bolsonaro às vésperas de seu julgamento pelo Supremo Tribunal Federal.

O dia seguinte à arruaça também marcou, paradoxalmente, a retomada das costuras políticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que recebeu o presidente do PSD, Gilberto Kassab, ao lado da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. A exemplo de outros encontros do gênero que Lula tem feito com União e MDB, lideranças e ministros da legenda também participaram. A diferença é que este contou com a presença do presidente do partido.

A quinta-feira também foi marcada pelo encontro, na casa do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, de seus colegas de direita. Participaram os governadores Tarcisio de Freitas (SP), que também visitou o ex-presidente, Ratinho Jr. (PR), Romeu Zema (MG), Ronaldo Caiado (GO), Mauro Mendes (MT), Wilson Lima (AM) e Cláudio Castro (RJ). Foi uma tentativa de freio de arrumação no discurso crítico ao tarifaço, que prejudica a economia de seus Estados, sem expor o bolsonarismo que o provocou.

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