O Estado de S. Paulo
Pelos dados fechados até o mês passado, o mercado de trabalho não mostra qualquer sinal de inflexão
A cada recorde registrado nos dados do
mercado de trabalho nos últimos meses, com sucessivas surpresas em relação às estimativas
de analistas, parece cada vez mais esquivo o objetivo do Banco Central de
esfriar a demanda e reduzir a pressão sobre os preços de serviços, ainda muito
acima da meta de inflação de 3%. Por tabela, os sinais de desaceleração da
economia brasileira são incipientes demais para dar respaldo ao início de um
ciclo de cortes de juros mais cedo do que tarde.
Mesmo com a taxa Selic a 15%, a crua realidade é de que o mercado de trabalho não mostra qualquer sinal de inflexão. No trimestre encerrado em junho, a taxa de desemprego, de 5,8%, foi a menor da série histórica do IBGE. A população ocupada estimada (102,3 milhões de pessoas) é a maior desde que a estatística foi iniciada, em 2012.
Em junho, o rendimento médio mensal real
habitual do trabalhador (de R$ 3.477) e a massa de rendimento real habitual (de
R$ 351,2 bilhões) também atingiram níveis recordes. É verdade que o ritmo de
crescimento da massa de rendimento real (a remuneração de todos os
trabalhadores) vem perdendo fôlego: em 2024, cresceu a uma taxa média de 7,5%.
Em junho, na comparação interanual, a alta foi de 5,9%. Ainda assim, descontada
a inflação, é um impressionante aumento na renda.
Para o trimestre até julho, o chefe de
pesquisa macroeconômica da Kinitro Capital, João Savignon, prevê uma taxa de
desemprego de 5,7%, o que seria outro recorde de baixa. Essa projeção se
baseia, entre outros fatores, em dados antecedentes, como o número de demissões
voluntárias – termômetro de quão aquecida está a demanda por mão de obra,
quando o trabalhador deixa uma vaga por outra para ganhar mais. Em 12 meses até
junho, conforme o Caged, os desligamentos voluntários bateram o recorde de 8,9
milhões, alta de 13%.
“Esperamos que a taxa de desemprego possa
ficar próxima do patamar de 5,7% até o final do ano, mas não descartamos
possíveis surpresas adicionais, com o nível de desemprego alcançando 5,6% em
setembro e outubro”, diz Savignon. “O destaque em 2025 é o dinamismo na criação
de vagas de uma forma disseminada, especialmente no setor de serviços, que é o
maior empregador do País.”
Neste ano, foi criado cerca de 1,2 milhão de
postos de trabalho com carteira assinada. Só o setor de serviços gerou 643 mil
vagas. Economistas citam fatores cíclicos (como estímulo fiscal) e estruturais
(queda na taxa de participação) para explicar o desempenho do mercado de
trabalho. Uma coisa é certa: a virada no emprego ainda não está à vista. •
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