quarta-feira, 17 de setembro de 2025

A improvável aliança para rifar Bolsonaro. Por Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Centrão aceita votar contra anistia ampla, mas quer apoio do PT para se livrar de investigações

É grande a lista de jabutis por trás do projeto de anistia a Jair Bolsonaro. Longe dos holofotes, o Centrão passou as últimas horas costurando uma aliança com o PT e o governo para aprovar a PEC da Blindagem, que cria uma série de empecilhos para a prisão e a abertura de processos contra parlamentares.

Em troca, partidos do grupo – que em público juram fidelidade ao ex-presidente – ofereceram apoio aos petistas para derrotar o PL de Bolsonaro no plenário da Câmara. Traduzindo: o Centrão aceita votar contra a urgência do projeto que prevê anistia ampla, geral e irrestrita a Bolsonaro e aos envolvidos na trama golpista do 8 de Janeiro, mas quer ajuda para se livrar de investigações da Polícia Federal autorizadas pelo STF. O maior temor do bloco, no momento, é em relação aos processos sobre desvio de emendas, que têm alvejado seus integrantes.

A oferta dividiu o PT. Em reunião na tarde de ontem com o presidente do partido, Edinho Silva, deputados e senadores escancararam o racha. Não foram poucos os que viram a aliança como uma contradição com o discurso do presidente Lula de combate aos privilégios. Mas alguns admitiram que votariam a favor.

Enquanto Edinho conversava com os petistas na Câmara, a titular de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, se reunia com ministros do Centrão e do MDB, no Palácio do Planalto. A portas fechadas, ficou decidido ali que parlamentares com cargos no governo deixarão a Esplanada por um dia e retornarão ao Congresso para ajudar a derrotar a anistia.

Enfraquecido, o presidente da Câmara, Hugo Motta , quer tirar o bode da sala para votar pautas de apelo popular. O Centrão, por sua vez, quer salvar os seus e ganhar mais poder. Munido dessa estratégia, não terá dúvidas em rifar Bolsonaro – condenado a 27 anos e três meses de prisão pelo STF –, mas ainda fará um aceno aqui, outro acolá, porque precisa do aval do ex-presidente para lançar o governador Tarcísio de Freitas à sucessão de Lula, em 2026.

Mas por que o PL insiste em defender a anistia desde 2019, quando o ministro do STF Alexandre de Moraes abriu o inquérito das fake news ? O partido tentará emplacar o projeto por ter certeza de que Moraes usará o inquérito, ainda inconcluso, para “perseguir” seus candidatos ao Senado. É na Casa de Salão Azul que reside a maior esperança dos aliados de Bolsonaro para aprovar o impeachment de Moraes.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, já avisou que matará no peito qualquer proposta como essa. Mas, se bolsonaristas conseguirem maioria no Senado nas eleições de 2026, o desfecho dessa história será imprevisível. Mesmo porque jabuti não sobe em árvore: se isso ocorrer, ou foi enchente ou foi mão de gente. •

 

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