O Estado de S. Paulo
Centrão aceita votar contra anistia ampla, mas quer apoio do PT para se livrar de investigações
É grande a lista de jabutis por trás do
projeto de anistia a Jair Bolsonaro. Longe dos holofotes, o Centrão passou as
últimas horas costurando uma aliança com o PT e o governo para aprovar a PEC da
Blindagem, que cria uma série de empecilhos para a prisão e a abertura de
processos contra parlamentares.
Em troca, partidos do grupo – que em público juram fidelidade ao ex-presidente – ofereceram apoio aos petistas para derrotar o PL de Bolsonaro no plenário da Câmara. Traduzindo: o Centrão aceita votar contra a urgência do projeto que prevê anistia ampla, geral e irrestrita a Bolsonaro e aos envolvidos na trama golpista do 8 de Janeiro, mas quer ajuda para se livrar de investigações da Polícia Federal autorizadas pelo STF. O maior temor do bloco, no momento, é em relação aos processos sobre desvio de emendas, que têm alvejado seus integrantes.
A oferta dividiu o PT. Em reunião na tarde de
ontem com o presidente do partido, Edinho Silva, deputados e senadores
escancararam o racha. Não foram poucos os que viram a aliança como uma
contradição com o discurso do presidente Lula de combate aos privilégios. Mas
alguns admitiram que votariam a favor.
Enquanto Edinho conversava com os petistas na
Câmara, a titular de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, se reunia com
ministros do Centrão e do MDB, no Palácio do Planalto. A portas fechadas, ficou
decidido ali que parlamentares com cargos no governo deixarão a Esplanada por
um dia e retornarão ao Congresso para ajudar a derrotar a anistia.
Enfraquecido, o presidente da Câmara, Hugo
Motta , quer tirar o bode da sala para votar pautas de apelo popular. O
Centrão, por sua vez, quer salvar os seus e ganhar mais poder. Munido dessa
estratégia, não terá dúvidas em rifar Bolsonaro – condenado a 27 anos e três
meses de prisão pelo STF –, mas ainda fará um aceno aqui, outro acolá, porque
precisa do aval do ex-presidente para lançar o governador Tarcísio de Freitas à
sucessão de Lula, em 2026.
Mas por que o PL insiste em defender a
anistia desde 2019, quando o ministro do STF Alexandre de Moraes abriu o inquérito
das fake news ? O partido tentará emplacar o projeto por ter certeza de que
Moraes usará o inquérito, ainda inconcluso, para “perseguir” seus candidatos ao
Senado. É na Casa de Salão Azul que reside a maior esperança dos aliados de
Bolsonaro para aprovar o impeachment de Moraes.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, já
avisou que matará no peito qualquer proposta como essa. Mas, se bolsonaristas
conseguirem maioria no Senado nas eleições de 2026, o desfecho dessa história
será imprevisível. Mesmo porque jabuti não sobe em árvore: se isso ocorrer, ou
foi enchente ou foi mão de gente. •
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