O Globo
Presidente americano voltou à Casa Branca
porque instituições dos EUA não funcionaram
Um presidente de índole autoritária tenta se
reeleger, é derrotado nas urnas e se recusa a aceitar o resultado. Inflamados
por suas mentiras, extremistas invadem e depredam o Congresso na esperança de
mantê-lo no poder.
Aconteceu como tragédia nos Estados Unidos,
em 6 de janeiro de 2021. Repetiu-se como farsa no Brasil, em 8 de janeiro de
2023.
As semelhanças entre os dois episódios
pararam na destruição do patrimônio público. Depois da selvageria, cada país
escolheu seu modo de lidar com o ataque às instituições democráticas.
Nos EUA, o candidato a autocrata driblou a Justiça, ficou impune e conseguiu voltar à Presidência. No Brasil, seu imitador acaba de ser condenado a 27 anos e três meses de prisão.
Antes do início do julgamento no Supremo, a
imprensa internacional já apontava as diferenças entre os dois países. Em
reportagem de capa, a revista The Economist escreveu que os brasileiros
ofereciam aos americanos uma “aula de maturidade democrática”.
Nesta sexta, o argumento foi reforçado em
artigo dos professores Steven Levitsky e Filipe Campante para o New York Times.
No texto, eles criticam as sanções impostas pela Casa Branca para tentar
intimidar o Supremo.
“Na prática, o governo americano está punindo
os brasileiros por fazerem algo que os americanos deveriam ter feito, mas não
fizeram”, afirmam os acadêmicos. “Em vez de minar o esforço do Brasil para
defender sua democracia, os americanos deveriam aprender com ele.”
Sem querer, Trump deu razão aos professores que o criticam. Instado a comentar a condenação do aliado golpista, ele admitiu que merecia o mesmo veredito: “É muito parecido com o que tentaram fazer comigo, mas não conseguiram”.
Os ausentes
No voto que selou o destino de Jair
Bolsonaro, a ministra Cármen Lúcia lembrou uma frase de efeito da ex-colega
Rosa Weber: “Uma vez erguida da Justiça a clava forte sobre a violência
cometida em 8 de janeiro, os que a conceberam, os que a praticaram, os que a
insuflaram e os que a financiaram serão responsabilizados com o rigor da lei”.
Dos quatro grupos citados pela ministra,
falta identificar e punir o último: o dos patrocinadores.
No início do ano, a Procuradoria-Geral da
República informou ter denunciado 63 pessoas que bancaram pequenas despesas com
comida, passagens e combustível. Num fenômeno intrigante, nenhum dos grandes
empresários que bajulavam o capitão e pregavam golpe em grupos virtuais
apareceu na lista.
Outro ausente ilustre foi o chefão do PL,
Valdemar Costa Neto. Com base em mentiras, ele alegou fraude e pediu a anulação
dos votos de cerca de 280 mil urnas após a eleição de Lula em 2022.
Concretizada, a manobra daria vitória a Bolsonaro. O ex-deputado foi indiciado pela Polícia Federal, mas escapou da mira da PGR.
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