quinta-feira, 18 de setembro de 2025

BC do Brasil reafirma sufoco do arrocho, BC dos EUA dá uma mãozinha. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Copom repete linguagem osso duro de roer e, sem novidades, dá sinal de Selic a 15% até 2026

Juro cai nos EUA, o que deve atrair mais dinheiro para cá e valorizar o real mais um pouco

Quem esperava corte da Selic ainda em dezembro deste ano pode tirar o cavalinho da chuva, que vai continuar a cair, segundo indicou o Banco Central no comunicado em que anunciou que a taxa básica de juros permanece em 15%.

Sim, o BC pode mudar de ideia se houver queda miraculosa das expectativas de inflação ou se ocorresse um improvável apagão brutal da atividade econômica. Por ora, não parece o caso.

A projeção de inflação do BC para o primeiro trimestre de 2027 não mudou. Ficou em 3,4%. É bem menor do que a mediana das expectativas de "o mercado" para o IPCA no final de 2027 (3,9%). Mas, ressalte-se: a projeção não mudou; a expectativa de "o mercado" para 2027 apenas faz pouco começou a diminuir, mui lentamente.

Assim, o BC quase repetiu o comunicado da reunião anterior: "...seguirá vigilante, avaliando se a manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta". Se não der, "...não hesitará em retomar o ciclo de ajuste...".

O BC cortou a expressão "continuação na interrupção no ciclo de alta de juros", um hieróglifo a menos e um favor para a língua portuguesa. Não muda nada no mundo real. O BC quer dizer que o arrocho continua até que a expectativa de inflação caia para perto de 3% em 2027 (para 3,4%? Quem dá mais?).

A perspectiva de refresco agora vem do BC dos EUA, do Fed. A diferença entre juros de Brasil e EUA vai aumentar. Deve entrar mais dinheiro aqui, pois. O dólar anda pela casa dos R$ 5,30. Desce a R$ 5? Quem dá menos?

Suponha-se que estejam certas as medianas das estimativas do Fed, divulgadas nesta quarta. O PIB cresceria 1,6% neste 2025 e 1,8% em 2026 (cresceu 2,8% em 2024). A taxa de desemprego subiria um pouco, dos 4,3% atuais para 4,5% no final do ano e para 4,4% em 2026.

A inflação para o consumidor que o Fed leva mais em conta subiria um pouquinho mais até 3% em 2025 (a meta é de 2%), caindo para 2,6% no ano que vem.

Uma economia morna, sob controle, ao menos no mundo encantado das projeções. A dúvida maior é sobre cortes de juros em 2026 e algum risco de que, em vez de mais dois cortes em 2025, venha apenas mais um.

O dólar se desvaloriza no mundo quase inteiro, também por causa dos ataques de Trump contra o Fed. Com os cortes de juros nos EUA, o dólar se enfraquece um pouco mais. Com juro menor, cortes de impostos e a euforia da inteligência artificial, a economia mantém o crescimento —em ritmo mais medíocre, mas longe da recessão, o que dá ajuda a atividade econômica no resto do mundo.

"Tudo mais constante", assim o real se fortalece, como outras moedas de "emergentes", com dinheiro entrando no país, dando alguma ajuda extra para a contenção da inflação, derrubando um pouco mais as taxas de juros, animando o preço das ações.

BC dos EUA cortou a taxa básica de juros da faixa de 4,25% a 4,5% para 4% a 4,25%. Foi por 11 a 1, um voto pelo corte de 0,5% ponto percentual, dado por Stephen Miran, o ideólogo econômico de Trump 2. A maioria da direção do Fed, ora votante ou não, é a favor de mais dois cortes neste 2025, embora muita gente (9 de 19) não queira mais corte algum ou apenas um corte extra.

Afora desastres, o caso brasileiro depende da alta de salários e seu efeito na inflação de serviços, da possível valorização extra do real e do efeito disso em expectativas inflacionárias. O BC do Brasil quer sufoco até "o mercado" jogar a toalha.

 

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