Folha de S. Paulo
Centrão e extrema direita agem à moda de
criminosos por autoblindagem e anistia
PEC da Bandidagem, que visa barrar 80
investigações no STF, é confissão de crime
Em seu descaramento, a Câmara é
transparente. Não se pode dizer que os deputados jogam sujo por debaixo dos
panos; a coisa é feita abertamente, para toda a sociedade ver. Há tanto orgulho
na depravação que só falta a exigência de um pedido de aplausos.
O repúdio ao trabalho da Câmara e do Senado sobe como foguete, indicam as pesquisas, baseado na certeza de que parlamentares atuam apenas em prol de seus interesses, dando uma banana à população. A farra na liberação de emendas funciona como garantia de futuros mandatos. O que pensa o eleitor não importa. Prevaricar virou um vício.
Prova chocante é a PEC da Bandidagem,
patrocinada pelo centrão liderado pelo deputado Arthur Lira e pelo senador Ciro
Nogueira, a qual, em essência, é uma confissão de crime. Um de seus objetivos é
travar as mais de 80 investigações no Supremo envolvendo suspeita de corrupção
em verbas de emendas —cerca de R$ 50 bilhões por ano.
Para continuar a meter a mão livremente nessa
dinheirama, às favas com os escrúpulos e a opinião pública. Chame de
prerrogativas parlamentares uma blindagem inconstitucional, transforme o
Congresso em mocó de quadrilhas organizadas, barre processos criminais no STF, torne
secreta a votação para autorizar a prisão de deputados e senadores, conceda
foro especial para presidentes de partidos, beneficiando Antônio Rueda,
do União Brasil,
investigado por ligações com o PCC, e Valdemar
Costa Neto, do PL, a sigla do golpe.
Como nas transações entre marginais, foi
oferecido um acordo aos integrantes de outra facção. A aprovação da PEC —placar
de 344 a 133, com votos favoráveis até do PT— teve como contrapartida o avanço
do projeto de anistia, a maneira pela qual a extrema direita quer manter vivo o
golpismo.
No horizonte, a indicação do tresmalhado
Eduardo Bolsonaro como líder da minoria —um arranjo para livrar o filho 03 do
processo de cassação por faltas. Se concordar, o presidente da Câmara, Hugo
Motta, torna-se cúmplice da chantagem política e econômica de Trump contra o
Brasil.
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