sábado, 20 de setembro de 2025

Câmara dos Deputados dá uma banana para população. Por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Centrão e extrema direita agem à moda de criminosos por autoblindagem e anistia

PEC da Bandidagem, que visa barrar 80 investigações no STF, é confissão de crime

Em seu descaramento, a Câmara é transparente. Não se pode dizer que os deputados jogam sujo por debaixo dos panos; a coisa é feita abertamente, para toda a sociedade ver. Há tanto orgulho na depravação que só falta a exigência de um pedido de aplausos.

O repúdio ao trabalho da Câmara e do Senado sobe como foguete, indicam as pesquisas, baseado na certeza de que parlamentares atuam apenas em prol de seus interesses, dando uma banana à população. A farra na liberação de emendas funciona como garantia de futuros mandatos. O que pensa o eleitor não importa. Prevaricar virou um vício.

Prova chocante é a PEC da Bandidagem, patrocinada pelo centrão liderado pelo deputado Arthur Lira e pelo senador Ciro Nogueira, a qual, em essência, é uma confissão de crime. Um de seus objetivos é travar as mais de 80 investigações no Supremo envolvendo suspeita de corrupção em verbas de emendas —cerca de R$ 50 bilhões por ano.

Para continuar a meter a mão livremente nessa dinheirama, às favas com os escrúpulos e a opinião pública. Chame de prerrogativas parlamentares uma blindagem inconstitucional, transforme o Congresso em mocó de quadrilhas organizadas, barre processos criminais no STF, torne secreta a votação para autorizar a prisão de deputados e senadores, conceda foro especial para presidentes de partidos, beneficiando Antônio Rueda, do União Brasil, investigado por ligações com o PCC, e Valdemar Costa Neto, do PL, a sigla do golpe.

Como nas transações entre marginais, foi oferecido um acordo aos integrantes de outra facção. A aprovação da PEC —placar de 344 a 133, com votos favoráveis até do PT— teve como contrapartida o avanço do projeto de anistia, a maneira pela qual a extrema direita quer manter vivo o golpismo.

No horizonte, a indicação do tresmalhado Eduardo Bolsonaro como líder da minoria —um arranjo para livrar o filho 03 do processo de cassação por faltas. Se concordar, o presidente da Câmara, Hugo Motta, torna-se cúmplice da chantagem política e econômica de Trump contra o Brasil.

 

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