Folha de S. Paulo
Ministros não podem mudar sua posição de
acordo com o réu que está à sua frente
Quem já estava atento, por ofício ou por masoquismo, à jurisprudência penal do Supremo e escutou o ministro Luiz Fux votar pela nulidade do processo da trama golpista, deve ter se perguntado onde estava este Fux garantista antes de hoje. No STF é que não estava. Como afirmou o criminalista Aury Lopes Jr., "hoje Fux apresentou mais divergências pro-réu do que a soma de decisões de uma vida inteira".
Onde estava o Fux garantista de hoje quando
travou por três anos o julgamento sobre o juiz de garantias e que votou contra
o sistema que separa o juiz da investigação do juiz do julgamento em 2023? Onde
estava o Fux apolítico de hoje quando confirmou em mais de 1.600 casos a
competência do STF para julgar os réus do 8 de Janeiro, mas que mudou de posição
quando o julgamento da trama golpista começou nos últimos meses? Em qual Fux we
trust?
Onde estava o Fux legalista de hoje quando
negou 99,37% dos habeas corpus que chegaram para ele no Supremo no início de
2025? Onde estava o Fux de hoje que não viu golpe na depredação de "turbas
desordenadas" do 8 de Janeiro, mas que manteve em 2023 condenação de homem
acusado de furtar um engradado de cerveja de R$ 35 afastando o princípio da
insignificância para evitar, em suas palavras, "verdadeiro incentivo à
prática de pequenos delitos"?
Onde estava o Fux pró-julgamento pelo
plenário hoje quando votou a favor da prisão já após segunda instância em 2019?
Onde estava o Fux a favor da análise minuciosa das provas de hoje quando em
2020 suspendeu a regra de que juízes não poderiam proferir sentença com provas
inadmissíveis, que suspendeu regras sobre arquivamento de inquéritos policiais
e que reverteu a soltura imediata se não houve audiência de custódia em 24
horas?
Concordo com Fux com o fato de que não cabe
ao STF fazer julgamento político, mas, sim, sobre a ilegalidade de uma conduta;
não cabe, tampouco, a ministros do STF, qualquer um, mudar sua posição sobre a
legalidade ou ilegalidade da conduta a depender do réu que esteja à sua frente.
Para saber se in Fux nós trust, precisamos
saber antes de qual Fux estamos falando, o de hoje ou de sempre?
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