sábado, 20 de setembro de 2025

Mais ou menos preso, sempre inelegível. Por Carlos Andreazza

 

O Estado de S. Paulo

Mais uma semana – esta que se encerra – de desenvolvimento da traição light a Jair Bolsonaro. Com Valdemar, com Tarcísio – com o chamado Centrão todo, aquele patrocinador do bolsonarismo de oportunidades e resultados, investindo no pós-Bolsonaro eleitoral.

A superação a Bolsonaro por meio de anistia que não anistia. Paulinho da Força, o pacificador de Hugo Motta, feito expressão de um “pacto republicano” – com o Supremo, com o governo Lula – anunciado-abençoado por Michel Temer e Aécio Neves. A anistia que anistia não seria do Paulinho da Dosimetria: revisão de penas e prisão domiciliar a Bolsonaro. E lamba. Cláusula pétrea do texto: a inelegibilidade do ex-presidente. Esse é o combinado. O plano. Falta combinar com os russos.

O combinado é produto da confiança em que o mito tenha se tornado prescindível; elemento que atrapalharia o trânsito dos comércios para além do outrora admitido-contornado. Não é mais plataforma fundamental. A turma calcula que pode tomar o risco de avançar – prosperar, vencer – sem Jair e prole. Haveria alternativa melhor. Ninguém morrerá pela anistia “ampla, geral e irrestrita”. (Nem pela “light”.) É desgastante, de custo muito alto, e com taxa de retorno baixíssima.

Ninguém – ninguém com partido, com poder de verdade – quer Bolsonaro elegível. Seria ruim para os negócios. Não que não queiram, se for possível, a liberdade do ex-presidente. Tampouco que não trabalhem por ela. Trabalham com a energia dos que a sabem improvável. Com a energia dos que afinal colheriam – fazer o quê? – a solução “prisão domiciliar”. Tentaram... Traição light. Isto constante em todas as possibilidades viáveis de acordo: Bolsonaro fora das urnas. Em prisão domiciliar, com sorte, e – com ou sem sorte – inelegível. É disso que se fala quando se fala em pacificação.

O tal Centrão está em 26, com Jair passivo; e o futuro do passivo Jair, se com mais sorte ainda, estará em 27. Ciro Nogueira já disse: “A única pessoa que não pode perder essa eleição é o Bolsonaro, e ele não vai arriscar”. Valdemar Costa Neto, dono do PL e patrão de Bolsonaro, declarou: “Nós vamos ter que chegar ao poder o ano que vem, conseguir maioria no Senado e na Câmara. Nós vamos mudar esse quadro”. Vão mudar esse quadro – a partir de 27, se vencedores no voto. Uma aposta. (Falta combinar com o eleitor.) Bolsonaro a reboque.

Encostado, mais ou menos preso. Inelegível. À espera – dependente – do indulto de Tarcísio.

Esse é o projeto, faltando ainda combinar com os eduardos. Convém não subestimar o imponderável e outros rubios. Há muitos enredos que conseguimos controlar em grande medida – tanto mais quanto maior a competência do controlador. Talvez Bolsonaro aceite o acordão. Talvez já o tenha aceitado. Será surpresa se o bolsonarismo eduardista, que arma dissidência e explora o antiestablishment, aceitar arranjo que o degredaria. 

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