quinta-feira, 11 de setembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Fux erra no fundamental e acerta em detalhes

Por Folha de S. Paulo

Folha reitera que há evidências sólidas para a condenação de Jair Bolsonaro com penas equilibradas

Os 11 ministros deveriam ter julgado o caso, e redundância de penas também é tema importante, mas impunidade seria desastrosa para democracia

Devido a manifestações anteriores, já se imaginava que o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, pudesse ser uma voz destoante no julgamento de Jair Bolsonaro (PL) e aliados por tentativa de golpe de Estado. Fux superou todas as expectativas, porém.

O magistrado votou por nada menos que a anulação do processo, com o argumento de que o STF seria incompetente para analisá-lo. Mais ainda, advogou a absolvição de Bolsonaro de todas as acusações, que compreendem cinco crimes distintos.

Na primeira parte, disse que os réus já não ocupam cargo público que determine o julgamento pela corte mais alta do país, e portanto o foro adequado seria a primeira instância do Judiciário.

Causa espécie que o ministro não tenha seguido essa tese na enorme maioria dos processos envolvendo os denunciados por participar do ataque às sedes dos Poderes em 8 de janeiro de 2023.

Não se pode esperar que um magistrado seja infalível ou incapaz de mudar de opinião, mas é sempre problemático quando entendimentos mudam bruscamente num tribunal superior, como o Supremo fez repetidamente com a Operação Lava Jato.

Isso considerado, divergências são normais e, no mais das vezes, saudáveis em uma corte. Trabalha-se em colegiado justamente para que diferentes opiniões e perspectivas possam aprimorar a decisão a ser tomada.

Fux apontou questões pertinentes em seu voto, a começar pela postulação de que, a seguir no STF, o processo deveria ser examinado por todos os 11 ministros em plenário, em vez dos 5 da Primeira Turma. Este jornal já expressou o mesmo ponto de vista.

Outro tema importante diz respeito aos crimes atribuídos a Bolsonaro, previstos na Lei de Defesa do Estado Democrático de Direito de 2021. Mais de um ministro e não poucos especialistas avaliam como redundantes as acusações de tentativa de golpe de Estado (pena máxima de 12 anos) e tentativa de abolição violenta do Estado de Direito (até 8 anos).

A aplicação cumulativa das duas penas, sustentada pelo relator do processo, ministro Alexandre de Moraes, já resultou em punições que se afiguram excessivas para os integrantes da infantaria bolsonarista de 8 de janeiro.

É evidente que Fux, muito provavelmente um voto vencido e inócuo na decisão, acabou por reforçar o discurso do ex-presidente e de seus apoiadores —que, em qualquer hipótese, repetiriam a versão farsesca de que tudo não passa de perseguição política e judicial. Mais do que isso, listou questionamentos que continuarão nos próximos anos.

Esta Folha reitera seu entendimento de que as evidências apresentadas ao longo do processo são robustas e suficientes para caracterizar uma conspiração criminosa, particularmente as tratativas para um decreto absurdo de Estado de exceção. Fux acerta em detalhes e erra no fundamental: a impunidade seria desastrosa para a democracia brasileira.

Aposentadoria compulsória não é punição

Por Folha de S. Paulo

Medida deveria ser só início da responsabilização de juízes infratores; lentidão da Justiça gera impunidade

De 2006 a 2025, só 1% das sanções a magistrados foram demissões. Advertência e censura representam 67%; aposentadoria compulsória, 31%

Ser condenado a ficar sem trabalhar recebendo vencimentos mensais de milhares de reais é o sonho de muitos brasileiros. Daí que a aposentadoria compulsória, punição comumente dada a juízes que cometem faltas graves, se tornou símbolo da impunidade assegurada a magistrados no país.

A percepção não está errada, mas o quadro é mais complexo. Nenhum legislador em sã consciência estabeleceria aposentadoria compulsória como castigo. Em teoria, ela seria uma dentre um conjunto de ações que o Estado deveria usar contra juízes suspeitos de improbidades.

A aposentadoria compulsória seria a primeira linha de defesa do poder público, já que permite de forma rápida e descomplicada, por ser procedimento administrativo, privar o magistrado de continuar a delinquir —note-se que um dos crimes investigados é a venda de sentenças.

À medida deveria seguir-se uma ação judicial. Confirmada a culpabilidade, viriam o desligamento da carreira e do salário e até uma pena de prisão. Tal provisão é uma das garantias conferidas a carreiras de Estado, que não deveriam ficar à mercê de procedimentos administrativos.

O problema é que essas ações judiciais com trânsito em julgado só muito raramente se materializam. Levantamento da Folha, com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e de 15 dos 27 Tribunais de Justiça, mostrou que só 1% do total de punições a juízes e desembargadores entre 2006 e 2025 foram demissões.

Com a ressalva de que o cenário é incompleto porque nem todos os TJs responderam ao jornal, a maioria das sanções (67%) são mais brandas, como advertência e censura. A aposentadoria compulsória representa 31%. Desde 2006, só sete magistrados foram demitidos por falta grave.

A impunidade, portanto, é real e resulta da mãe de todas as impunidades: o fato de que os processos abertos no Brasil quase nunca são concluídos.

A questão está sendo debatida no âmbito da reforma administrativa. Cogita-se acabar com a aposentadoria compulsória para juízes suspeitos de falta grave e admitir a demissão por procedimento administrativo no CNJ —não mais após decisão judicial com trânsito em julgado.

Melhor do que a situação atual, que pode ser definida como escárnio. Mas não há como deixar de observar que a mudança representaria enfraquecimento das garantias das carreiras de Estado, que, ao menos em teoria, são mais uma proteção à sociedade do que a servidores individuais —em teoria, é bom frisar.

Intervencionismo de Trump deve ser levado a sério

Por O Globo

Uso de meios ‘militares’ contra Brasil pode não passar de bravata, mas os riscos não podem ser desprezados

Torna-se a cada dia mais preocupante a intervenção de Donald Trump em assuntos internos de outros países — Brasil inclusive. Trump não respeita aliados nem limites geográficos. Questionada na terça-feira se ele considerava sanções adicionais em caso de condenação de Jair Bolsonaro, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, respondeu que o governo americano não descarta usar meios “econômicos” e “militares” para proteger o que ela chamou de “liberdade de expressão ao redor do mundo”. É evidente que as palavras dela, sozinhas, no contexto em que foram proferidas, devem ser interpretadas com ceticismo. Mas, diante da sucessão de fatos recentes, não podem ser desprezadas.

De julho para cá, os Estados Unidos impuseram sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes usando a Lei Magnitsky, até então aplicada a casos de abusos de direitos humanos ou corrupção. Também aumentaram as tarifas de produtos brasileiros em 50%. E Trump, aliados ou representantes como Leavitt não perdem uma oportunidade de fazer novas ameaças.

O Brasil está longe de ser o único país submetido a esse tipo de pressão. No caso da Índia, nem a afinidade ideológica nem o histórico de bom relacionamento com o primeiro-ministro Narendra Modi evitaram a imposição das mais altas tarifas para forçar os indianos a parar de comprar petróleo russo. Na semana passada, a Casa Branca ameaçou a União Europeia com sanções, na tentativa de reverter uma multa sofrida pelo Google e a regulação mais rigorosa das plataformas digitais. No caso de um adversário fraco, o venezuelano Nicolás Maduro, os americanos enviaram navios e tropas, criando uma ameaça militar concreta.

É certo que nada de parecido foi esboçado em relação ao Brasil. Por isso fez bem o Itamaraty ao reagir com sobriedade à porta-voz da Casa Branca, condenando o “uso de sanções econômicas ou ameaças de uso da força” contra a democracia brasileira. “O primeiro passo para proteger a liberdade de expressão é justamente defender a democracia e respeitar a vontade popular expressa nas urnas”, afirmou. “É esse o dever dos três Poderes da República, que não se intimidarão por qualquer forma de atentado à nossa soberania.”

À frente da maior potência econômica e bélica do planeta, Trump não tem se furtado a usar seu poder de coerção para influir na política externa e interna de outros países. Mas os Estados Unidos também pagarão um preço por isso. A interferência cria incentivos para que os alvos de pressão encontrem caminhos alternativos. Exportadores brasileiros e indianos já buscam outros mercados para seus produtos. Os canadenses reviram decisões que resultaram na dependência exagerada dos americanos em termos econômicos e também de segurança. Os europeus estão cientes de não poder mais confiar na aliança atlântica que garantiu sua segurança depois da Segunda Guerra e investem em maior autonomia.

A fragmentação geopolítica não virá sem custos para todos, inclusive para os Estados Unidos. Acordos multilaterais permitem avanços mais rápidos. Quando prevalece a lei da selva, há mais desconfiança e mais motivo para disputa. Trump já deu início a uma nova corrida armamentista. Embora as palavras de sua porta-voz em relação ao Brasil possam não passar de bravata, quanto mais se fala em resposta militar aos problemas, mais provável ela fica.

Queda na inflação é resultado da autonomia do Banco Central

Por O Globo 

Deflação registrada em agosto traduz acerto da política monetária restritiva adotada na gestão Galípolo

A deflação registrada em agosto — os preços ao consumidor caíram 0,11%, de acordo com o IBGE — é prova do acerto da política monetária restritiva que vem sendo adotada pelo Banco Central (BC). É verdade que, em 12 meses, a inflação ainda está em 5,13%, acima do centro (3%) e do limite superior da meta (4,5%). Mas o índice mensal vem caindo de forma consistente desde fevereiro, graças ao aperto nos juros promovido pelo BC sob a presidência de Gabriel Galípolo.

O controle inflacionário só tem sido possível em virtude da autonomia do BC e da consequente capacidade de resistir à pressão política pelo alívio monetário. Ao contrário do que sugeria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com bazófia, ao afirmar que Galípolo iria “consertar a taxa de juros”, logo na primeira reunião sob seu comando a taxa básica, a Selic, subiu 1 ponto percentual, para 13,25%. Desde então, chegou aos atuais 15%, patamar considerado necessário para conter as expectativas inflacionárias. Felizmente, em vez de criticar Galípolo pela condução rigorosa da política monetária, como fez repetidas vezes quando o BC era presidido por Roberto Campos Neto, Lula parece ter esquecido o assunto.

Claro que os juros continuam altos, e a inflação continua a preocupar. Duas variáveis trazem incertezas para o futuro. A primeira é a reconfiguração do comércio global depois do tarifaço de Donald Trump. Não se sabe ao certo o impacto das tarifas nos preços de mercadorias e serviços — mas é evidente que ele não será nulo. É importante, por isso, que a inflação tenha assumido uma trajetória de queda, permitindo maior amplitude para qualquer ajuste futuro que se faça necessário nos juros.

A segunda variável é a crise fiscal endêmica semeada pelo governo Lula, com o beneplácito e cooperação do Congresso. A isso, o BC também precisa estar atento. Há recorrentes exemplos de surtos inflacionários deflagrados no Brasil por políticas expansionistas, que só cuidaram da geração de renda e empregos. Conduzir uma economia apenas na base da “vontade política” resulta em inflação, alta de juros, recessão e desemprego — o oposto do que desejam os voluntaristas. O Planalto, por ortodoxia ideológica, resiste a executar uma política fiscal responsável, que contribua para reduzir as pressões inflacionárias. Paradoxalmente, contribui para que os juros tenham de ficar altos por mais tempo — e paga o preço na queda da atividade econômica, já constatada nos últimos dados de emprego e PIB.

É um alento a autonomia do BC permitir atravessarmos a pressão inflacionária com mais segurança até que os Estados Unidos, onde o Federal Reserve está sob ataque de Donald Trump, que deseja forçar queda dos juros. No Brasil, a ponte entre dois governos ideologicamente antagônicos, com Campos Neto substituído por Galípolo, contribuiu para sedimentar na prática a autonomia, sem a qual não teria havido queda na inflação.

Ciências exatas têm baixa atração no ensino brasileiro

Por Valor Econômico 

Relatório ressalta o aprofundamento do fosso entre o Brasil e o resto do mundo no conhecimento e desenvolvimento tecnológico

Entre os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), grupo dos que possuem maior renda, o Brasil é o que tem menos alunos em engenharia, matemática, ciência e tecnologia e dos que mais têm alunos em administração e direito, mostra a edição de 2025 do “Education at a glance” da instituição, que compara indicadores de 30 países, entre membros e parceiros, como o Brasil. Com alta desigualdade de renda e oportunidades, ele é o que apresenta uma das maiores diferenças entre quem tem o diploma universitário e os que não têm, 148%, ante 54% da média dos países da organização.

Os números reforçam o fosso que vai se aprofundando entre o Brasil e o resto do mundo no conhecimento e desenvolvimento tecnológico, essencial para a adaptação bem-sucedida a uma nova revolução, a da inteligência artificial. Nações com o mesmo estágio de desenvolvimento, ou inferior, têm atentado para esse gap e procurado fechá-lo, como Grécia, Índia, México e Chile. Enquanto, em 2024, 16% dos estudantes brasileiros cursavam disciplinas de ciências exatas, a Grécia tinha 30% deles nessa situação, a Índia, 28% e o Chile, 27%.

A estrutura auxiliar do ensino básico que poderia melhorar essa performance e lançar mais alunos nas carreiras científicas ainda progride lentamente no país: o ensino técnico. Embora tenha crescido de 8% para 14% entre 2019 e 2024, a proporção brasileira de matriculados nessas disciplinas era de apenas um terço da média da OCDE, e inferior mesmo à de vários países da América Latina.

O Brasil presta muita atenção à grande evasão escolar no ensino médio. As estatísticas da OCDE revelam que algo semelhante ocorre também no ensino superior. Abandonam a faculdade no primeiro ano 25% dos matriculados, ante uma média da OCDE de 14%. O diagnóstico óbvio é que falta orientação profissional para os estudantes que estão a um passo de escolherem suas carreiras, ainda que em sua opção inicial e reversível.

Entre os que permanecem no curso superior, 38% conseguem concluí-lo no período regular estipulado. Um ano depois dele, o contingente de formados sobe para 43% e, três anos depois, para 49%. Na média da pesquisa, o percentual de conclusão regular não difere muito, 43% no primeiro ano, mas a diferença entre os que chegam ao diploma após três anos é muito maior que a brasileira, 70%. Isso se reflete no total de pessoas com o superior completo, 24% no Brasil, um pouco menos da metade dos 49% dos países desenvolvidos e mais importantes emergentes.

A carreira universitária não vai melhor nos estágios subsequentes. Entre pessoas de 24 a 34 anos, as que possuem mestrado no Brasil somam 1%, um dos menores índices do estudo, no qual a média é de 16%.

A performance comparativa ruim no grau de educação superior é decorrência inevitável do baixo desempenho no estágio anterior do aprendizado. O Brasil tem 27% de pessoas que não concluíram o ensino secundário, ainda assim um progresso em relação aos 32% nessa situação em 2019, antes da pandemia. Mesmo assim, essa taxa é o dobro da média da OCDE, de 13%.

O relatório da OCDE mostra uma realidade um pouco diferente dos testes do PISA, onde o Brasil vai sempre mal e se coloca entre os últimos colocados em matemática, ciências e leitura. Ele aponta um fenômeno que parece geral e atinge a OCDE. Entre adultos que não concluíram o ensino médio, 61% tiveram uma nota correspondente ao nível 1 em leitura na pesquisa de habilidades da instituição. Isso significa que elas conseguiam no máximo ler textos curtos em tópicos familiares sem entender textos mais longos com mais nuances informativas. Entre os que tinham o curso médio completo, 30% não passaram do nível 1, em uma escala de 5, em leitura. E, no caso dos adultos com curso superior, as estatísticas ruins médias não distanciavam muito das brasileiras: 13% dos que concluíram faculdades também fracassaram no entendimento de textos do nível elementar em 2023.

Uma das razões para isso pode estar no preparo e na disponibilidade de professores. O estudo mostra que 7% dos que se dedicam à educação secundária não têm qualificação necessária para ensinar, uma quantia irrisória perto da do Brasil. Dados do MEC indicam que em 2023 cerca de 51,7% dos professores de ensino médio no Brasil não tinham licenciatura na disciplina que ensinam e, nos anos finais do ensino fundamental, essa proporção subia para 67,2%.

Os gastos com educação comparativos não colocam o Brasil em má situação. O país investe 4% do PIB, ante 3,6% da média da OCDE. No entanto, a média per capita mostra uma diferença grande, de US$ 3.850 aqui e US$ 12.780 nos países do grupo. Recursos importam, mas organização, currículos adequados, boa formação, estrutura salarial e de incentivos ao aperfeiçoamento, avaliação de escolas e sistemas modernos de escolha dos administradores dos estabelecimentos de ensino fazem uma enorme diferença. O Brasil ainda patina em todos eles e precisa urgentemente superar esse atraso.

Correios rumo ao precipício

Por O Estado de S. Paulo

Retirada da lista de privatizações no início da atual gestão de Lula, a estatal multiplica prejuízos bilionários na pior crise de sua história e continua sob disputa de PT e União Brasil

O extraordinário rombo dos Correios no primeiro semestre deste ano, mais do que o triplo do prejuízo bilionário do mesmo período do ano passado, dirimiu qualquer dúvida – se é que ainda restava alguma – sobre a viabilidade de manter a empresa sob controle estatal.

O saldo deficitário de janeiro a julho, de R$ 4,37 bilhões, não apenas escancarou a piora em relação à primeira metade de 2024 (R$ 1,35 bilhão negativo) como já representa aumento de quase 70% em relação ao prejuízo de todo o ano passado, de R$ 2,6 bilhões.

Trata-se de uma derrocada espantosa, que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, candidamente atribuiu à permissão para que outras empresas ingressassem no mercado de entrega de encomendas, deixando aos Correios o “passivo de ter de entregar cartas nas regiões mais remotas do País”. Se o ministro realmente crê nessa tese não se sabe, mas foi a desculpa que usou, em entrevista à Rede Bandeirantes, ao alegar que os Correios ficam “com o osso” enquanto outras empresas dividem “o filé mignon e a picanha”.

Ora, “entregar cartas em regiões mais remotas” não justifica um prejuízo equivalente a mais da metade do faturamento dos Correios, da ordem de R$ 8,2 bilhões. Ademais, a rigor, não havia monopólio sobre a entrega de encomendas, razão pela qual empresas privadas do setor há décadas atuam livremente no País.

O que o ministro Haddad não pode admitir, porque é petista, é que o rombo dos Correios é resultado da submissão da empresa a interesses político-partidários, como sói acontecer com quase todas as estatais, especialmente quando estão sob comando do PT ou de seus associados.

O fato é que sob a gestão Lula a companhia vive o pior momento de sua história, na situação incomum de permanecer há mais de dois meses sob uma presidência demissionária. No início de julho, Fabiano Silva dos Santos entregou a Lula sua carta de demissão, mas está sendo mantido até a escolha do sucessor, cargo disputado entre o PT e o União Brasil, do presidente do Senado, Davi Alcolumbre.

Eis aí o retrato da situação que desembocou no balanço deficitário dos Correios, que o advogado Fabiano dos Santos por certo esperava sanar com seu MBA em Gestão Estratégica de Empresas. O loteamento de cargos, a disputa política, a gestão de negócios submetida a interesses do governo de ocasião são problemas que atingem não apenas a empresa, mas também seu fundo de pensão – basta lembrar que o Postalis já foi e ainda é investigado por malversação de recursos, tendo ex-diretores já condenados pelo Tribunal de Contas da União.

A diretoria dos Correios é dividida entre ungidos pelo PT e pelo União Brasil e a expectativa é de que saia desse grupo o nome do novo presidente da empresa. Não é preciso ser profeta para prever que a mudança na direção nada representará – a não ser, talvez, para os principais interessados no controle da empresa. A transferência à iniciativa privada, em modelo que preserve a universalidade do serviço postal ou até mesmo a fragmentação dos serviços, como cogitado no programa que vinha sendo desenhado no BNDES, é o único caminho possível para recuperar a empresa.

Ao invés disso, as soluções buscadas são de mais endividamento, como o empréstimo de R$ 4 bilhões que está sendo negociado com o Banco do Brics – presidido pela petista Dilma Rousseff – e/ou aporte de valor semelhante pelo governo, que já não tem de onde tirar recursos para as próprias necessidades.

Disputando mercado com empresas que investiram pesado em tecnologia para concorrer na entrega de encomendas, aproveitando a explosão do comércio digital, os Correios marcham celeremente para a obsolescência, ditada pela ideologia de um governo incapaz de acompanhar a evolução da sociedade. A situação da estatal de fato “inspira cuidados”, para usar a expressão do ministro Haddad, mas não apenas isso. Exige dos agentes públicos a responsabilidade de propor a única solução possível para manter seu funcionamento.

Progressão continuada sob ataque

Por O Estado de S. Paulo

Comissão da Câmara quer acabar com o instrumento adotado em mais da metade do País para reduzir evasão escolar. Seria um bom debate sobre educação, se não estivesse contaminado por ideologia

Mais da metade das redes estaduais e municipais de ensino do País adota algum sistema de progressão continuada na educação básica – instrumento usado há cerca de 30 anos de forma crescente, mas não obrigatória, para conter a alta taxa de reprovação e reduzir a evasão escolar decorrente do desânimo, do prejuízo do aprendizado e da repetência dos alunos. O sistema foi sendo aperfeiçoado por longos debates iniciados ainda na década de 1980, quando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) definiu o estudo por ciclos, e não apenas séries isoladas. Mas, para alguns parlamentares que dão expediente na Comissão de Educação da Câmara, trata-se de mera “aprovação automática”, um faz de conta que empurra alunos para a série seguinte mesmo sem aprender o básico. Com base nessa simplificação, trabalham para alterar a LDB, barrar a progressão continuada como estratégia pedagógica e afetar a vida de pelo menos 5 milhões de alunos País afora, segundo levantamento do jornal O Globo.

O problema é mais complexo do que fazem supor os deputados. É sempre um perigo quando o debate educacional é contaminado por ideologias e reducionismos. Convém, portanto, qualificar a discussão antes que o Congresso avance em tal medida.

Em primeiro lugar, não custa sublinhar que progressão continuada não é o mesmo que “aprovação automática”. No ensino fundamental, o Brasil tem duas formas básicas: ensino por séries ou por ciclos. A primeira pressupõe que cada aluno com desempenho insatisfatório seja reprovado ao final do ano letivo, enquanto os que dominam o conhecimento esperado devem progredir para a próxima série. Mas o ensino por ciclos é diferente. Nele, os estudantes devem obter as habilidades e competências em um ciclo que é mais longo do que um ano ou uma série. Os ciclos são uma tentativa de regularizar o fluxo dos alunos ao longo dos anos na escola, fazendo com que os estudantes tenham acesso ao ensino sem interrupções ou repetências que criem desânimo ou prejudiquem ainda mais o aprendizado.

Segundo ponto importante: o sistema passou a ser discutido a partir das evidências de que, na maioria dos casos, a repetência se mostrou contraindicada, por não resultar em ganho para os que estão repetindo. Há importante estudo da Unesco, para citar apenas um, que aponta, no caso dos países em desenvolvimento, mais danos do que vantagens no uso da reprovação. Em comparações de alunos com as mesmas dificuldades, os que progrediram na escola tiveram vantagens sobre os que repetiram, pois puderam seguir com o mesmo grupo de colegas e recuperar parte das habilidades esperadas. Sem esquecer o efeito colateral mais grave: a evasão escolar.

Essa constatação não significa que haja um consenso absoluto na medida, dada a preocupação inevitável com a qualidade do aprendizado. Tampouco que a progressão continuada não exija aperfeiçoamentos, especialmente no acompanhamento efetivo dos alunos e o devido auxílio para recuperar habilidades não adquiridas. Não é simples, mas está longe de ser um faz de conta. Números oficiais apontam, por exemplo, que os porcentuais de alunos com aprendizagem adequada em língua portuguesa e matemática no 5.º ano do ensino fundamental eram, respectivamente, de 39% e 19% em 1995 – um ano antes de os ciclos entrarem na lei federal –, e os dados mais recentes disponíveis, referentes a 2023, mostram que esses porcentuais subiram para 55% e 44%. Ainda são inaceitáveis? Sim. Mas, na comparação histórica, estamos melhores. Ou menos piores.

Não poucos especialistas sugerem que o problema da baixa aprendizagem não decorre exclusivamente da aprovação ou reprovação, e sim da falta de um sistema pedagógico coerente, um currículo bem estruturado, materiais didáticos adequados, apoio a alunos com problemas e estratégias de recomposição. Em outras palavras, há muito mais fatores envolvidos do que a propalada “aprovação automática”, artifício usado por seus algozes contaminados pela ideologia e que, no fundo, atrapalha a discussão que realmente importa: avançar nos meios e nos resultados da aprendizagem dos alunos.

Os estilhaços do ataque em Doha

Por O Estado de S. Paulo

Ação de Israel atinge um aliado dos Estados Unidos, e implicações são uma perigosa incógnita

O ataque israelense contra líderes do Hamas em Doha quebrou um tabu cuidadosamente preservado desde o início da guerra em Gaza: atingiu um aliado dos EUA e mediador das negociações. O recado de Binyamin Netanyahu foi inequívoco: “Acabaram-se os dias de imunidade para líderes terroristas”. O que a decisão significa para o futuro da guerra e a ordem regional é bem mais incerto.

Tudo indica que Israel respondeu a dois estímulos convergentes: a oportunidade de decapitar o Hamas e a frustração crescente com negociações arrastadas, em que o Hamas usava a procrastinação como arma e o Catar servia de refúgio confortável para líderes cada vez mais recalcitrantes.

Alguns terroristas importantes foram dados como mortos; outros, aparentemente, sobreviveram. Se a operação tiver de fato eliminado parte relevante da cúpula política do Hamas, poderá abrir espaço para figuras mais pragmáticas – ou para a ascensão de quadros ainda mais radicais da ala militar em Gaza. Se os principais líderes escaparam, Israel corre o risco de ter assumido altos custos diplomáticos sem ganhos estratégicos proporcionais.

Para Netanyahu, a fatura é igualmente ambivalente. Um êxito inequívoco lhe daria capital político para, quem sabe, desafiar aliados de extrema direita e alavancar a libertação dos reféns. Um fracasso reforçaria o isolamento de Israel, alimentaria suspeitas de descuido com os sequestrados e corroeria ainda mais a confiança dos parceiros internacionais.

O Catar, por sua vez, vê ruir a aura de mediador indispensável com que encobria sua ambivalência, e já ameaça abandonar o processo de negociação, abrindo espaço para o Egito. Isso não significa, porém, que a diplomacia regional saia fortalecida: se Israel concluiu que Doha era só um palco de protelação, a lógica da negociação incremental pode ter chegado ao fim.

Para Washington, o episódio é embaraçoso. Donald Trump apressou-se em dizer que não autorizou a operação, mas reiterou que “eliminar o Hamas é um objetivo digno”. A mensagem contraditória – crítica ao local, apoio ao propósito – reforça a percepção de que os EUA perderam capacidade de condicionar seu principal aliado.

Por trás dos protestos, os países árabes veem com satisfação a agonia do Hamas – mas temem um Israel cada vez mais hegemônico e um guarda-chuva americano cada vez mais poroso.

Eis o jogo de sombras. Se Israel demonstrou que nenhum refúgio é seguro, talvez tenha também fechado as últimas portas de negociação. Se pretendia mostrar força, pode ter exibido vulnerabilidade caso os alvos centrais tenham sobrevivido. Como em uma mesa de pôquer, conhecemos algumas cartas abertas – o “braço longo” de Israel, ruínas em Doha, condenações diplomáticas –, mas ainda ignoramos as cartas que realmente importam: quem morreu, quem decide no Hamas, até onde vai a paciência de Trump, e se o Catar seguirá jogando.

Possivelmente, estamos diante de um divisor de águas. Mas se ele conduzirá à vitória israelense, a uma escalada regional ou a um rearranjo diplomático ainda é questão em aberto. No Oriente Médio, como se sabe, certezas são sempre mais frágeis do que parecem.

Preservação do Cerrado exige vigília constante

Por Correio Braziliense

Depois de um 2024 sufocante, as queimadas arrefeceram neste ano, há de se ressaltar. Mas a situação definitivamente não é de tranquilidade

Fala-se que o Cerrado é uma espécie de caixa d'água do Brasil e do resto da América Latina. Nada mais ilustrativo para evidenciar a importância do bioma onde estão nascentes fundamentais da região, como as dos rios São Francisco, Paraná e Paraguai. De tão estruturante, tem dia específico, celebrado nesta quinta-feira. Justamente quando as atenções costumam estar voltadas para a combinação de clima seco, baixa umidade e irresponsabilidade humana que o ameaça, causando incêndios devastadores.

Depois de um 2024 sufocante, as queimadas arrefeceram neste ano, há de se ressaltar. Mas a situação definitivamente não é de tranquilidade. Só nesta terça-feira, o incêndio que atingiu a Floresta Nacional de Brasília (Flona) queimou 220 hectares, quase 6% da área da unidade de conservação. No último domingo, os esforços se concentraram contra incêndios em 546 hectares de vegetação, indica o Corpo de Bombeiros do DF. Juntas, as áreas atingidas equivalem a cerca de 820 campos de futebol em chamas.

A destruição do bioma repete-se em outras unidades da Federação, como na Chapada dos Veadeiros, em Goiás; na comunidade Quilombola Grotão, em Tocantins; na Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso; e no Parque Estadual da Lapa Grande, em Minas Gerais. Ainda assim, autoridades trabalham com um cenário menos crítico que o da temporada anterior.

Ontem, a ministra do Meio Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou que houve uma "queda significativa" no desmatamento do Cerrado, considerando o cenário deste ano e o de 2024. O incêndio é um dos principais desencadeadores desse tipo de degradação ambiental. No caso do Cerrado, a condição "estava fora de controle", enfatizou a chefe da pasta, sem revelar os novos números.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), agosto terminou com uma marca histórica: a maior queda em incêndios florestais desde 1988, quando o monitoramento começou a ser realizado. O destaque foi a redução no Pantanal, de 98%, em relação à média dos últimos oito anos. A no Cerrado foi de 42,4%. Maior destinação de recursos, contratação de brigadistas por períodos mais extensos e a implementação da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo estão entre as razões indicadas por especialistas para a reversão expressiva.

Ao Correio, Isabel Schmidt, professora do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB), alertou, porém, que "não há motivo para baixar a guarda". A também pesquisadora da Rede Biota Cerrado enfatizou a necessidade de se construir um arcabouço legal para que a política de manejo implementada em 31 de julho de 2024 tenha efeito disseminado. "Cada estado e município precisa regulamentar como o fogo pode ser usado, quem pode queimar, quais são os processos autorizativos", ilustrou. O prazo para se adequar às regras é março de 2027.

Mesmo com os avanços locais, é imprescindível que sejam estabelecidas e aprimoradas articulações entre os entes federativos para facilitar a promoção de ações conjuntas de enfrentamento aos incêndios e proteção do Cerrado. Trata-se de um desafio nacional. Aquele domingo de agosto em que moradores do Centro-Oeste e do Sudeste amanheceram sufocados por uma névoa densa refuta qualquer entendimento contrário. O céu coberto por fumaça em Brasília, Ribeirão Preto (SP), Uberlândia (MG) e Goiânia, entre outras cidades, em 2024, é prova contundente de que a preservação ambiental exige soluções imediatas e integrativas.

 Brasil sob a ameaça de Trump

Por O Povo (CE)

As ofensas de Donald Trump ao Brasil deveriam unir o País, acima de divergências partidárias e ideológicas, pois se trata de defender a soberania brasileira

Com o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados, por tentativa de golpe de Estado, o governo americano subiu o tom das ameaças contra o Brasil.

Na quarta-feira, a secretária de Imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que os Estados Unidos estão dispostos a usar seu "poder econômico" e até mesmo seu "poder militar" para defender a liberdade de expressão em todo o mundo.

A declaração foi vista como um aviso claro de que o presidente Donald Trump pretende continuar sua cruzada na tentativa de livrar o ex-presidente Jair Bolsonaro da prisão. Leavitt somente poderia dar uma declaração desse tipo, em linha com o presidente americano.

Outra evidência de que a campanha vai se intensificar foi verificada no início deste mês, quando uma delegação de empresários brasileiros reuniu-se com o vice-secretário de Estado dos EUA, na tentativa de reduzir as tarifas impostas ao Brasil.

Segundo apurou o jornal Folha de S.Paulo, na ocasião, o secretário teria afirmado que o governo americano estaria disposto ao diálogo, mas que a discussão era política. Assim, aconselhou os empresários a fazerem lobby em Brasília, em vez de Washington.

A referência clara é ao Congresso Nacional, onde os aliados de Bolsonaro tentam emplacar uma anistia, que poderia até devolver a elegibilidade do ex-presidente brasileiro.

Quanto a usar o poder militar contra o Brasil, a declaração fica no terreno das bravatas, apesar da imprevisibilidade do mandatário americano.

Pode-se listar uma série de arroubos que caíram no vazio, ainda que outras medidas, das quais muitos duvidavam, ele vem aplicando com rigor. Principalmente quanto à perseguição aos imigrantes, corte de verbas para universidades e saúde e também ao desprezo com que trata os mecanismos para combater o aquecimento global.

De qualquer forma, a instabilidade de Trump é um fator de insegurança para o mundo inteiro.

Apesar desses ataques desmedidos contra o Brasil, ainda existe um setor expressivo da sociedade, sob a liderança dos Bolsonaros, que contribuem para que um governo estrangeiro queira ditar o que os brasileiros podem ou não fazer. Isso ficou explícito na manifestação de Sete de Setembro, organizada por aliados de Bolsonaro. O destaque foi uma gigantesca bandeira americanas, símbolo do apoio a Donald Trump e sua política intervencionista.

O governo brasileiro responde de forma diplomática, porém firme, a esses ataques gratuitos, oriundos dos Estados Unidos. Porém, essas ofensas deveriam unir o País, acima de divergências partidárias e ideológicas, pois se trata de defender a soberania do País, à qual todos os brasileiros têm — ou deveriam ter — a obrigação de defender.

 

 


 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.