Folha de S. Paulo
Estavam lá os órfãos, o presidente da
República e a do STM, que pediu perdão
Eloquentes foram as ausências do governador
de São Paulo e do prefeito do capital
No sábado (25), à tarde, o Corinthians ganhou
do Vitória, se afastou do risco de queda e aliviou o Santos.
À noite, o Flamengo conseguiu
perder para o Fortaleza e alegrar o Palmeiras,
que estava murcho com o desastre de Quito.
Também à noite, o São Paulo ganhou bem do
Bahia.
Mais: a Ponte Preta ganhou sua primeira taça
nacional em 125 anos de
história, ao ser campeã da Série C.
De quebra, neste domingo, João Fonseca foi
campeão no ATP 500 da Basileia, na Suíça.
Convenham, a rara leitora e o raro leitor,
que assuntos não faltaram para a coluna, que dos cinco eventos citados viu
dois, o que envolveu o sofrido e assaltado, pelos cartolas, Corinthians, e o do
magnífico jovem tenista brasileiro.
A derrota rubro-negra e a vitória tricolor
concorreram com o que de mais importante aconteceu na vida brasileira no fim de
semana, mais importante até que o encontro entre Lula e Trump.
Porque na noite de sábado, na Catedral da Sé, os dois órfãos de Vladimir Herzog, Ivo e André, voltaram ao palco onde, em 1975, aconteceu o culto ecumênico que marcou o início da redemocratização do Brasil. Estavam acompanhados do neto e das netas de Vlado, a quem novo ato inter-religioso homenageou.
Diferentemente de meio século atrás, o Estado
se fez presente, com o presidente em exercício, Geraldo Alckmin, autor de
discurso sóbrio, ao seu estilo, e firme: "Não esquecer, para jamais se
repetir".
Antes dele, o rabino Uri Lam também falou com
coragem e altivez, digno representante de Henry Sobel.
Vlado,
como se sabe, era judeu, mas nem a Conib nem a Federação Israelita de São Paulo
mandaram representantes ao ato, assim como foram eloquentes as ausências do
governador de São Paulo e do prefeito do capital, como se não coubessem em
cerimônia contra a tortura, pela democracia e pela paz.
Mas lá estavam, na memória de todos, as
gigantescas figuras dos bravos dom Paulo Evaristo Arns, do reverendo
presbiteriano Jaime Wrigth e do então presidente do Sindicato dos Jornalistas
no Estado de São Paulo, Audálio Dantas, comoventemente aplaudidos em pé pela
catedral lotada.
Tudo entremeado com a bela cantoria do Coro
Martin Luther King, entre Marias e Clarices, heroínas do Brasil.
Aliás, das Marias, esteve também a presidenta
do Superior Tribunal Militar, Maria Elisabeth Rocha, que em curta e arrepiante
fala pediu desculpas por todos os erros cometidos pela corte que ora preside
contra os que foram torturados e mortos pela ditadura instalada
em 1964.
Delirantemente aplaudida, assim como o juiz
Márcio José de Moraes, que, ainda em 1987, teve a coragem de condenar a União
pelo assassinato de Vlado.
A carta ao magistrado, de dona Zora, mãe de
Herzog, na voz de Fernanda Montenegro, em agradecimento pela histórica
sentença, fez chorar boa parte dos presentes.
Quem esteve na catedral 50 anos atrás e
voltou agora não pôde deixar de comparar o clima de medo de então com o de
agora. Apesar de tudo, avançamos.
E avançamos a ponto de impedir que haja
anistia aos que, em 8 de janeiro de 2023, quiseram repetir a barbárie instalada
em 1964, algo que, também em uníssono, no ato comandado pelo bispo de São
Paulo, Odilo Scherer, ficou patente.
Enfim, uma goleada cidadã e democrática.

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