O Globo
Ao colocar Guilherme Boulos na
Secretaria-Geral da Presidência, Lula mostrou
que vai para a eleição de 2026 pintado para a guerra. Uma guerra ao seu estilo,
manejando os movimentos sociais.
Durante quase três anos de seu terceiro
mandato, a oposição conservadora convenceu-o de que o melhor caminho a seguir é
um discreto retorno às suas raízes. Há três anos, Gilberto
Kassab previa:
— Guilherme Boulos poderá ser o herdeiro de
Lula.
Não deu outra. Com um PT envelhecido, Lula
foi buscar esse ativista de 43 anos para injetar vida ao seu governo. Como
disse o próprio Boulos:
— Lula me deu a missão de ajudar a colocar o
governo na rua.
Com suas raízes no PSOL e no eleitorado jovem, Boulos é capaz de levar gente para o asfalto da Avenida Paulista. (Fernando Haddad, ministro da Fazenda, leva gente para os escritórios envidraçados dessa mesma avenida.)
Boulos pode despertar uma militância
adormecida, mas também desperta certo medo, por um passado levemente radical.
Candidato a prefeito de São Paulo em 2024, foi batido no segundo turno pelo
incumbente Ricardo Nunes por
mais de 1 milhão de votos. Isso numa cidade onde, dois anos antes, Lula havia
vencido Jair
Bolsonaro com uma diferença de quase meio milhão de votos.
A adversidade ensinou a Lula que o andar de
cima de Pindorama o bajula quando está no poder, mas apenas o tolera. Quando
tiveram uma boa oportunidade, puseram-no na cadeia. Mais: elegeram Jair
Bolsonaro, com “meu Exército” e sua cloroquina.
(Por questão de justiça, deve-se reconhecer
que esse mesmo andar de cima nada teve a ver com a trama golpista de 2022-2023,
coisa de palacianos aloprados.)
Prestes a completar três anos de seu terceiro
mandato, Lula parece ter se desencantado com a direita, no sentido de que ela é
capaz de se aliar irracionalmente às tarifas trumpistas para atrapalhar sua
vida. Assim, foi buscar Guilherme Boulos no PSOL.
Deputado federal, Boulos liderou o grupo que
se intitula Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e, em 2017, foi detido por
algumas horas durante uma ação de reintegração de posse de um terreno invadido
em São Paulo.
Boulos e o PSOL ainda podem “colocar o
governo na rua”. Para isso, contarão com a ajuda de uma oposição desconjuntada,
que finge gravitar em torno de um ex-presidente mantido em prisão domiciliar.
Se Boulos nada tivesse a oferecer ao governo de Lula, bastaria sua condição de psicanalista para que explicasse as raízes emocionais do flerte do conservadorismo com aquilo que chamam de bolsonarismo. Ou algo ainda mais dramático: a constatação de que hoje o bolsonarismo leva mais gente para a rua do que a esquerda.
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