O Globo
O Ibama autorizou a Petrobras a perfurar o
primeiro poço em águas profundas na Bacia da Foz do Amazonas. A licença saiu a
três semanas do início da COP30. Lula quer se apresentar como defensor do
clima, mas seu discurso será manchado pela nova aposta nos combustíveis
fósseis.
A decisão encerra uma longa disputa no
governo. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, tentava barrar a exploração
de petróleo na região. Os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e
da Casa Civil, Rui Costa, pressionavam pela liberação imediata.
Lula arbitrou a contenda a favor dos ministros e contra a ministra, que fica ainda mais isolada em Brasília. Seus adversários não estão apenas no Congresso. Espalham-se pelo Planalto e pela Esplanada.
A nova derrota de Marina foi festejada por
Davi Alcolumbre. O presidente do Senado não disfarça o sonho de transformar o
Amapá num emirado amazônico. Ontem ele manifestou “grande entusiasmo” com a
licença. Está ansioso para abrir a torneira dos royalties, que também seduzem
políticos de Pará, Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte.
A animação é estimulada pela presidente da
Petrobras, Magda Chambriard. Em tom ufanista, ela definiu a autorização como
uma “conquista da sociedade brasileira”. A estatal investe no marketing da
sustentabilidade, mas está ansiosa para aumentar suas emissões de carbono.
A exploração da Margem Equatorial tem grande
potencial econômico, mas negar seus riscos ambientais é flertar com o
autoengano. Além da ameaça de um vazamento de óleo, a atividade ampliará a
queima de combustíveis, principal causa do aquecimento global e dos eventos
climáticos extremos.
Na COP27, em 2022, Lula encantou
ambientalistas ao discursar em defesa de uma economia global “menos dependente
de combustíveis fósseis”. Três anos depois, ele terá que se esquivar da turma
para evitar um constrangimento em Belém.
Se a aposta der errado, não será por falta de
aviso. Em abril, o presidente ouviu um apelo do cacique Raoni para desistir de
buscar petróleo na Foz do Amazonas. “Podemos ter consequências muito grandes,
que não conseguiremos parar”, disse o líder caiapó.
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