domingo, 26 de outubro de 2025

Brasil e Sudeste Asiático: ampliando horizontes estratégicos, por Mauro Vieira

Correio Braziliense

A presença do Brasil na cúpula da Asean é um gesto de confiança na força do diálogo político como instrumento de transformação, com decidido apoio da diplomacia presidencial

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva realiza, na atual visita à Ásia, mais uma missão diplomática inédita: será o primeiro presidente brasileiro a participar de uma reunião de cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean). A visita inaugura uma nova etapa nas relações entre o Brasil e uma das regiões mais dinâmicas e estratégicas do mundo. A Asean é um exemplo de grande êxito na construção de confiança entre os países do Sudeste Asiático, por meio do diálogo político e da expansão de laços econômicos, em especial nas últimas três décadas.

Em 2023, durante visita a Jacarta, tive a honra de inaugurar oficialmente a Parceria de Diálogo Setorial Brasil-Asean, a única que a associação mantém com um país da América Latina. Desde então, em minhas viagens à região, pude constatar sua impressionante pujança econômica e diversidade. Com cerca de 680 milhões de habitantes e um PIB de aproximadamente US$ 4 trilhões, os 10 países-membros da Asean, em conjunto, equivalem à quarta economia do planeta.

Trata-se de uma das mais dinâmicas fronteiras no mundo para o aumento da presença do Brasil e para a promoção dos interesses do país.

O dinamismo da região e a competitividade brasileira têm impulsionado um intercâmbio comercial vigoroso. Em 2024, as trocas entre o Brasil e a Asean superaram US$ 37 bilhões, consolidando o bloco como o quinto maior parceiro comercial do nosso país e responsável por 20% do superavit total da balança comercial brasileira. Cabe lembrar que em 2002 o fluxo comercial com o bloco era de apenas US$ 2,9 bilhões. Nesse contexto de aproximação, o presidente Lula também participa da Cúpula Empresarial da Asean, à frente de expressiva missão do empresariado brasileiro.

É revelador das novas dinâmicas da economia global que, nos últimos dois anos, o Brasil tenha exportado mais para cinco países da Asean do que para cinco das sete economias do G7. Em 2024, o Brasil exportou US$ 24,1 bilhões para Singapura, Malásia, Indonésia, Vietnã e Tailândia e obteve um superavit comercial de US$ 13,8 bilhões com esses membros da Asean. No mesmo período, o Brasil exportou US$ 21,9 bilhões para Alemanha, Japão, Itália, Reino Unido e França, mas, com esses cinco integrantes do G7, o resultado foi um deficit comercial de US$ 12,8 bilhões.

Para o Brasil, que tem na diversificação de parcerias um dos pilares da sua política externa, é estratégico consolidar cada vez mais sua presença no Sudeste Asiático, em coordenação com o setor privado. Um dos caminhos para isso é fortalecer a cooperação com a Asean e com seus países-membros no plano econômico-comercial e também em áreas que vão além da economia.

As oportunidades abertas pela Parceria de Diálogo Setorial Brasil-Asean nos inspira a propor iniciativas concretas de cooperação em bioenergia, educação, ciência e tecnologia, saúde pública e desenvolvimento sustentável. Também aprofundaremos o diálogo sobre transição energética, segurança alimentar e nutricional, inclusão social e combate às desigualdades — desafios comuns aos países do Sul Global. A experiência brasileira exitosa no campo das energias renováveis destaca-se entre as áreas de interesse para a cooperação com os países do Sudeste Asiático. Nesse contexto promissor de aproximação, a presença do Brasil na cúpula da Asean é um gesto de confiança na força do diálogo político como instrumento de transformação, com decidido apoio da diplomacia presidencial.

A visita do presidente Lula tem esse forte componente político e diplomático no delicado momento que atravessa a ordem internacional. Vivemos um tempo de tensões geopolíticas, de recrudescimento do protecionismo e de crise do multilateralismo político e comercial. Nesse cenário, o Brasil reafirma seu compromisso histórico com o multilateralismo, com o diálogo entre iguais e com a cooperação internacional para o desenvolvimento. O Sudeste Asiático, por sua trajetória de integração regional bem-sucedida na Asean, é parceiro natural do Brasil nesse esforço de construção conjunta.

A participação do presidente Lula na 47ª Cúpula da Asean é evidência concreta de que o Brasil não se limita a adotar postura meramente reativa às transformações em curso no plano externo. Nossa diplomacia segue buscando continuamente, e de forma criativa, alternativas viáveis para melhor posicionar o Brasil frente aos desafios contemporâneos, sempre orientada pelo objetivo de contribuir para o desenvolvimento sustentável com justiça social.

 

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