terça-feira, 28 de outubro de 2025

É o MAGA, estúpidos! Por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Brasil não pede favor nem dólares, só tarifas justas, mas Argentina custa caro para Trump

Com o tão esperado encontro com o presidente Lula e os avanços das negociações entre EUA e Brasil, na Malásia, e a não tão esperada assim vitória do partido de Javier Milei, La Libertad Avanza (LLA), na Argentina, Donald Trump avançou no domingo na aproximação com as duas maiores economias da América do Sul e na estratégia para tentar conter o movimento da região rumo à China.

A conversa de Trump e Lula foi dentro do esperado, na forma e no conteúdo. Abriu espaço para a foto dos dois presidentes sorridentes, com ar amigável, para a entrega de um documento focado no que realmente interessa ao Brasil, redução de tarifas e fim de sanções políticas, e para a reta final das negociações técnicas, inclusive com reuniões ministeriais já na Malásia.

Quanto à Argentina: vencer no domingo em 14 dos 24 distritos eleitorais, com mais de 40% dos votos em nível nacional, deu a Milei a chance de ampliar suas alianças para o centro liberal e dobrar a aposta nas suas reformas radicais. Deu a ele, principalmente, um troféu para dividir com Trump – que, de certa forma, financiou o resultado.

A vitória veio depois de Trump despejar uma fortuna no País, dizer que a Argentina estava “morrendo”, “sem nada”, e condicionar seu apoio futuro a Milei aos votos de domingo. Agora, Milei pode respirar aliviado, convencer Trump de que a Argentina tem sobrevida e manter o apoio decisivo dos EUA.

Mas o jogo continua. O Brasil avançou nas negociações com Trump, mas não está perfeitamente claro até onde elas vão, e a Argentina mantém sua galinha dos ovos de ouro, mas vai continuar o tempo todo sob pressão. Trump está no ataque; Brasil e Argentina, na defesa.

A posição do Brasil parece mais confortável, por ser mais rico, maior e mais estável e pelo momento político. Milei é aliado ideológico de Trump, e Lula está longe disso, mas ele lidera as pesquisas para 2026. Já Milei foi derrotado em Buenos Aires nas eleições provinciais de 7 de setembro e enfrenta crises e protestos de rua.

E a principal diferença é que o Brasil não pede nada demais a Trump, apenas o reconhecimento de que suas tarifas e sanções são injustas, enquanto a Argentina, entra governo, sai governo, é um saco sem fundo e custa uma fortuna a Trump, que deu, não uma mãozinha, mas US$ 20 bilhões para Milei vencer o fantasma do peronismo no domingo.

“Você é um grande amigo”, agradeceu Milei. Trump, porém, não é amigo de ninguém e o jargão “é a economia, estúpido!” evoluiu para “é o MAGA, estúpidos!” É isso que define as relações dos EUA com Brasil e Argentina e seu impacto nas duas economias.

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