O Estado de S. Paulo
Brasil não pede favor nem dólares, só tarifas justas, mas Argentina custa caro para Trump
Com o tão esperado encontro com o presidente
Lula e os avanços das negociações entre EUA e Brasil, na Malásia, e a não tão
esperada assim vitória do partido de Javier Milei, La Libertad Avanza (LLA), na
Argentina, Donald Trump avançou no domingo na aproximação com as duas maiores
economias da América do Sul e na estratégia para tentar conter o movimento da
região rumo à China.
A conversa de Trump e Lula foi dentro do esperado, na forma e no conteúdo. Abriu espaço para a foto dos dois presidentes sorridentes, com ar amigável, para a entrega de um documento focado no que realmente interessa ao Brasil, redução de tarifas e fim de sanções políticas, e para a reta final das negociações técnicas, inclusive com reuniões ministeriais já na Malásia.
Quanto à Argentina: vencer no domingo em 14
dos 24 distritos eleitorais, com mais de 40% dos votos em nível nacional, deu a
Milei a chance de ampliar suas alianças para o centro liberal e dobrar a aposta
nas suas reformas radicais. Deu a ele, principalmente, um troféu para dividir
com Trump – que, de certa forma, financiou o resultado.
A vitória veio depois de Trump despejar uma fortuna no País, dizer que a Argentina estava “morrendo”, “sem nada”, e condicionar seu apoio futuro a Milei aos votos de domingo. Agora, Milei pode respirar aliviado, convencer Trump de que a Argentina tem sobrevida e manter o apoio decisivo dos EUA.
Mas o jogo continua. O Brasil avançou nas
negociações com Trump, mas não está perfeitamente claro até onde elas vão, e a
Argentina mantém sua galinha dos ovos de ouro, mas vai continuar o tempo todo
sob pressão. Trump está no ataque; Brasil e Argentina, na defesa.
A posição do Brasil parece mais confortável,
por ser mais rico, maior e mais estável e pelo momento político. Milei é aliado
ideológico de Trump, e Lula está longe disso, mas ele lidera as pesquisas para
2026. Já Milei foi derrotado em Buenos Aires nas eleições provinciais de 7 de
setembro e enfrenta crises e protestos de rua.
E a principal diferença é que o Brasil não pede
nada demais a Trump, apenas o reconhecimento de que suas tarifas e sanções são
injustas, enquanto a Argentina, entra governo, sai governo, é um saco sem fundo
e custa uma fortuna a Trump, que deu, não uma mãozinha, mas US$ 20 bilhões para
Milei vencer o fantasma do peronismo no domingo.
“Você é um grande amigo”, agradeceu Milei. Trump, porém, não é amigo de ninguém e o jargão “é a economia, estúpido!” evoluiu para “é o MAGA, estúpidos!” É isso que define as relações dos EUA com Brasil e Argentina e seu impacto nas duas economias.

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