O Estado de S. Paulo
Satisfatório para o Brasil. Ótimo para Lula. Péssimo para o bolsonarismo. É como se pode resumir – sem emoções – o encontro entre os presidentes brasileiro e americano. Para o Brasil: cronograma de negociações fixado. Para Lula: uma boa fotografia. Para o bolsonarismo: a perda do monopólio de acesso à Casa Branca.
Os negociadores brasileiros queriam – o presidente pediu a Donald Trump – a suspensão temporária das sobretaxas comerciais. Sem sucesso. O tarifaço permanece; e permanece a nave Magnitsky estacionada sobre o País. Ainda não há acordo. Há uma agenda, posta à mesa. Havia nada faz cerca de mês. Andou-se um bocado. A evolução é inegável. Agora existem senso de urgência e frequência nas comunicações, com protagonismo da diplomacia comercial e novas conversas presenciais a terem vez quiçá na semana que vem.
Satisfatório – promissor – para o Brasil.
Ótimo para o presidente do Brasil. Não são a mesma coisa, esforço de propaganda
à parte, o País e Lula. Seu texto – sua versão – sobre o encontro prospera
entre nós. O que circula e influencia é aquilo que fez-faz circular. Que Trump,
por exemplo, teria se interessado pela sua prisão – o “vigoroso” Lula também um
perseguido, né? – e o tempo em que esteve no cárcere. Haveria “cumplicidade”
entre eles.
O presidente do Brasil pondo uma mesa em que
Jair Bolsonaro seria carta fora do baralho – alguém por cujo futuro, “passado
da política brasileira”, não valeria a pena pelejar. Donald Trump é tão
imprevisível quanto prático: tem brigas compradas com Venezuela e Colômbia – e
não seria razoável deixar o país mais poderoso da região nos braços da China.
Não se pode afirmar que esteja afastada a
“questão políticoideológica” das negociações.
Marco Rubio está na área, afinal. Pode-se
especular sobre se a Trump, tendo outros problemas maiores mundo afora, não
seria conveniente acomodar com o Brasil, caso em que largaria a mala Bolsonaro
na estrada. Sim, Trump pode ter entendido que o país mais importante da América
do Sul está no pós-Bolsonaro. Rei morto, rei posto.
Péssimo para o bolsonarismo, cujo monopólio
do acesso à Casa Branca fiava o discurso da cepa eduardista, impunha a agenda
única, pela anistia, e mantinha a direita refém do futuro da família Bolsonaro.
Esse muro está rachado, sobretudo desacreditado, o que significa perda de poder
– o que explica as brigas entre direitistas expostas nas redes sociais. Há
rebeldes. Haverá cada vez mais. Dissidentes da dissidência bolsonarista que
Eduardo Bolsonaro expressa.
A estratégia personalista, desmobilizadora de
qualquer oposição, de que se deveria paralisar a atividade política, ignorar a
fiscalização-proposição de políticas públicas e renunciar às articulações por
2026 – em função do jogo jogado desde os EUA – perdeu o vigor e está em xeque.
É autodestrutiva, fragmentadora – a turma só agora começa a perceber.

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