Valor Econômico
Secretário destaca crescimento econômico a
ser proporcionado pela reforma e seu impacto sobre a arrecadação
Até mesmo um feito histórico do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a aprovação da reforma tributária, tem
repercussão no “fiscal”. No bojo da reforma, foram criados quatro fundos que
receberão recursos da União para irrigar os cofres de Estados. A conta começa
em R$ 8 bilhões e chega a R$ 60 bilhões ao ano a partir de 2043.
É uma dinheirama. Como já mostramos neste espaço, a conta ultrapassa R$ 1,57 trilhão até 2046. O cálculo é de Cristiane Schmidt, ex-secretária de Fazenda de Goiás.
Os aportes aos fundos ficarão fora do
arcabouço fiscal. De 2025 a 2028, as transferências da União deverão ser
despesas financeiras. A partir de 2029, quando os fundos estarão funcionando,
os gastos passarão a ser primários. Mesmo excetuadas da regra fiscal, as
despesas elevarão a dívida pública, aponta o estudo “Exceções e Ampliação do
Limite de Despesas Primárias da Lei Complementar nº 200/2023”, elaborado pela
consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados.
É, porém, um gasto que vale a pena,
argumentou o secretário extraordinário de Reforma Tributária, Bernard Appy, em
entrevista a esta colunista e a Jéssica Sant’Ana, deste jornal. “O efeito
fiscal agregado é muito positivo”, frisou.
Dos quatro fundos criados pela reforma, dois
serão objeto de um projeto de lei ordinária que o governo pretende encaminhar
ao Congresso ainda neste ano. Vai propor a regulamentação do Fundo de
Compensação de Benefícios Fiscais e do Fundo Desenvolvimento Regional. O texto
não conterá grandes novidades, adiantou o secretário. Basicamente, dirá qual
vai ser a forma de transferência de recursos. Os valores já são conhecidos.
Os outros dois, o de Diversificação Econômica
da Amazônia e o de Desenvolvimento da Amazônia Ocidental e Amapá, serão
instituídos por lei complementar, ainda sem prazo de apresentação ao
Legislativo. Diferentemente dos outros dois, não têm valor previamente definido.
Como o nome diz, o dinheiro do Fundo de
Compensação de Benefícios Fiscais tem como destino as empresas que hoje
desfrutam de benefícios tributários concedidos pelos Estados na chamada “guerra
fiscal”. São baseados no Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS), que deixará de existir. Assim, as empresas ganharão um apoio de
transição, até 2032.
Já o Fundo de Desenvolvimento Regional é
permanente e seu propósito é dar outros atrativos aos Estados que hoje se
dinamizam à custa de benefícios fiscais. Os recursos devem ser gastos na
melhoria da infraestrutura e na busca de inovações tecnológicas, supostamente
base de uma transformação econômica. Também, diz o texto constitucional, podem
ser usados em atividades com “elevado potencial de geração de emprego e renda,
incluindo a concessão de subvenções econômicas e financeiras”.
“Às vezes, a gente olha só metade da
equação”, disse Appy sobre o elevado valor dos fundos.
Na outra metade dela está o crescimento
econômico a ser proporcionado pela reforma e seu impacto sobre a arrecadação.
“Na hipótese mais conservadora de todas, que considera só os efeitos da
desoneração de investimentos e exportações, o aumento é de seis pontos
percentuais no PIB potencial”, disse. “Certamente é mais que isso; provavelmente,
mais de 10 pontos percentuais a mais no PIB em 10 a 15 anos.”
Só para a União, o aumento da arrecadação
deverá ser algo como 2% do PIB, em função da atividade econômica.
Olhando por outro ângulo, os fundos trarão
economia em relação ao quadro atual. Numa hipótese conservadora de crescimento
do PIB, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional custará de 0,3% do PIB a
0,4% do PIB em 2043, disse Appy. Porém, ele substituirá incentivos fiscais que
custam mais de 2% do PIB.
“Então, na verdade, eu estou substituindo um
gasto tributário ineficiente de 2% do PIB por um gasto, que vai ser
orçamentário, entre 0,3% e 0,4% do PIB”, comparou. É um exemplo de corte de
gasto tributário, tema da moda na capital federal.
O Fundo de Compensação de Benefícios Fiscais,
por outro lado, tem valor determinado (cerca de 1,3% do PIB no total). É uma
despesa que só ocorrerá uma vez.
Appy conclui que, mesmo com os fundos, o
resultado de longo prazo da reforma é positivo no longo prazo.
O secretário não mencionou, mas sem a criação
dos fundos a reforma dificilmente passaria. No governo de Jair Bolsonaro, ela
empacou quando o então ministro da Economia, Paulo Guedes, se recusou a atender
esse pleito dos Estados.
A “maior reforma tributária” do país, como
definiu ontem o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em reunião da Comissão de
Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, traz para cá um formato de imposto já
adotado por 170 países. Com uma diferença: no Brasil, o tributo será digital.
Aguardada por 40 anos, a reforma tributária
envolveu concessões, como a criação dos fundos bilionários e a criação de uma
lista grande de produtos e serviços que pagarão menos do que os outros. Vai
também causar muito perrengue na fase de transição. Há, além disso, críticos de
peso à concepção do novo sistema. Mas, agora que o navio zarpou, é assegurar
que se concretizem a simplificação e o crescimento econômico esperados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.