Folha de S. Paulo
Auge da performance do ministro foi
comparação dos golpistas de Bolsonaro com María Corina Machado
Fux já começou tratando como indiscutível o
que a defesa dos acusados nunca conseguiu provar
A polícia provou que Jair
Bolsonaro e seus cúmplices sabiam que as urnas
eletrônicas eram seguras.
Na investigação do golpe foram encontradas
evidências irrefutáveis de que nem a auditoria do Exército nem a auditoria
do PL encontraram qualquer
irregularidade nas urnas eletrônicas. Há uma mensagem de Mauro Cid para
outro oficial golpista dizendo com todas as letras: "Nada...nenhum indício
de fraude".
Quantos brasileiros sabem que a polícia fez
essa descoberta?
Suspeito que poucos.
Só por isso ainda há gente dizendo que
o STF atacou
a liberdade de expressão quando combateu o golpe: porque muita gente acha que
os golpistas acreditavam, sinceramente, que a eleição havia sido roubada.
Essa hipótese da crença sincera na eleição
roubada também ajuda a dar a impressão de que as ofensivas
golpistas daqueles meses foram apenas explosões irracionais,
realizadas sem comando central por cidadãos que, embora equivocados, exerciam
seu direito ao protesto e à liberdade de expressão.
Tudo mentira.
Houve um esforço centralizado no Palácio do
Planalto para dar um golpe de Estado, e o plano envolvia uma ofensiva de
desinformação contra a democracia. O plano deu errado, e agora os culpados vão
em cana.
Por isso o julgamento
do núcleo 4 do golpe no STF na semana passada foi importante. Embora
seja um núcleo com menos celebridades, trata-se da turma que conduziu o esforço
de desinformação sobre as urnas eletrônicas durante a tentativa de golpe.
Quatro ministros da Primeira Turma do STF,
por respeito aos fatos e deferência à lógica, condenaram os acusados.
Luiz Fux os
absolveu e não se contentou em repetir o vexame que foi seu
voto no julgamento do núcleo 1. Decidiu que não era suficiente absolver os
golpistas, era necessário lhes conferir o Nobel da Paz
por analogia.
Como sempre, Fux já começou tratando como
indiscutível o que a defesa dos acusados nunca conseguiu provar: que cada passo
do projeto golpista era completamente independente dos outros, uma série de
atos isolados que, em si, não querem dizer nada. Como se Jair
perguntando se os militares topavam um golpe fosse só um exercício da
liberdade constitucionalmente garantida de terminar frases com pontos de
interrogação.
Mas o auge da performance foi a comparação
dos golpistas de Bolsonaro com a Nobel da Paz María
Corina Machado, que, vejam só, também contestou o resultado de uma
eleição.
Não importa para Fux que os mesmos
especialistas que atestaram a lisura da eleição brasileira tenham comprovado
a fraude na eleição venezuelana. Afinal, isso são fatos, e o divórcio entre
o voto de Fux e os fatos é extremamente litigioso.
Aliás, pela hermenêutica usada por Fux em sua
defesa dos golpistas do Jair, seria impossível condenar Maduro por
roubar a eleição venezuelana. Afinal, ainda não foi encontrado vídeo do
presidente venezuelano adulterando os dados pessoalmente. Não há vídeos de cada
um dos participantes da fraude dizendo "estou alterando esses números
porque desejo instaurar Maduro como ditador". E, sobretudo, não há um
delator como Mauro Cid para levar a culpa.
Felizmente, Fux perdeu. Quem mentiu sobre as
urnas para tentar um golpe no Brasil vai em cana. E se a casa do Nicolás cair,
ele já sabe quem contratar como advogado.

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