domingo, 26 de outubro de 2025

Fux deu Nobel para o golpe, por Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Auge da performance do ministro foi comparação dos golpistas de Bolsonaro com María Corina Machado

Fux já começou tratando como indiscutível o que a defesa dos acusados nunca conseguiu provar

A polícia provou que Jair Bolsonaro e seus cúmplices sabiam que as urnas eletrônicas eram seguras.

Na investigação do golpe foram encontradas evidências irrefutáveis de que nem a auditoria do Exército nem a auditoria do PL encontraram qualquer irregularidade nas urnas eletrônicas. Há uma mensagem de Mauro Cid para outro oficial golpista dizendo com todas as letras: "Nada...nenhum indício de fraude".

Quantos brasileiros sabem que a polícia fez essa descoberta?

Suspeito que poucos.

Só por isso ainda há gente dizendo que o STF atacou a liberdade de expressão quando combateu o golpe: porque muita gente acha que os golpistas acreditavam, sinceramente, que a eleição havia sido roubada.

Essa hipótese da crença sincera na eleição roubada também ajuda a dar a impressão de que as ofensivas golpistas daqueles meses foram apenas explosões irracionais, realizadas sem comando central por cidadãos que, embora equivocados, exerciam seu direito ao protesto e à liberdade de expressão.

Tudo mentira.

Houve um esforço centralizado no Palácio do Planalto para dar um golpe de Estado, e o plano envolvia uma ofensiva de desinformação contra a democracia. O plano deu errado, e agora os culpados vão em cana.

Por isso o julgamento do núcleo 4 do golpe no STF na semana passada foi importante. Embora seja um núcleo com menos celebridades, trata-se da turma que conduziu o esforço de desinformação sobre as urnas eletrônicas durante a tentativa de golpe.

Quatro ministros da Primeira Turma do STF, por respeito aos fatos e deferência à lógica, condenaram os acusados.

Luiz Fux os absolveu e não se contentou em repetir o vexame que foi seu voto no julgamento do núcleo 1. Decidiu que não era suficiente absolver os golpistas, era necessário lhes conferir o Nobel da Paz por analogia.

Como sempre, Fux já começou tratando como indiscutível o que a defesa dos acusados nunca conseguiu provar: que cada passo do projeto golpista era completamente independente dos outros, uma série de atos isolados que, em si, não querem dizer nada. Como se Jair perguntando se os militares topavam um golpe fosse só um exercício da liberdade constitucionalmente garantida de terminar frases com pontos de interrogação.

Mas o auge da performance foi a comparação dos golpistas de Bolsonaro com a Nobel da Paz María Corina Machado, que, vejam só, também contestou o resultado de uma eleição.

Não importa para Fux que os mesmos especialistas que atestaram a lisura da eleição brasileira tenham comprovado a fraude na eleição venezuelana. Afinal, isso são fatos, e o divórcio entre o voto de Fux e os fatos é extremamente litigioso.

Aliás, pela hermenêutica usada por Fux em sua defesa dos golpistas do Jair, seria impossível condenar Maduro por roubar a eleição venezuelana. Afinal, ainda não foi encontrado vídeo do presidente venezuelano adulterando os dados pessoalmente. Não há vídeos de cada um dos participantes da fraude dizendo "estou alterando esses números porque desejo instaurar Maduro como ditador". E, sobretudo, não há um delator como Mauro Cid para levar a culpa.

Felizmente, Fux perdeu. Quem mentiu sobre as urnas para tentar um golpe no Brasil vai em cana. E se a casa do Nicolás cair, ele já sabe quem contratar como advogado.

 

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