domingo, 26 de outubro de 2025

Lula e o projeto Boulos, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

A ida do deputado para o Palácio não é uma troca como outras; tem jeito de plano estratégico

Primeiro, o presidente abre espaço em SP para deputados do PT, depois investe na formação de um sucessor

A substituição de Marcio Macêdo (PT) por Guilherme Boulos (PSOL) na Secretaria-Geral da Presidência não foi uma troca qualquer, como tantas outras nestes dois anos e dez meses de governo Lula.

Guarda alguma semelhança com o revezamento de lugares entre os petistas Gleisi Hoffmann e Alexandre Padilha nas pastas das Relações Institucionais e Saúde, devido ao perfil mais esquerdista e combativo da ministra. A simetria fica por aí.

Para Boulos, o presidente Lula (PT) parece ter projeto mais ambicioso que só o cumprimento de tarefas relativas ao desenho ideológico da equipe palaciana, embora isso seja levado em conta.

O deputado tampouco terá a missão de se compor com a base parlamentar. Isso é serviço de Gleisi. No que tange ao Congresso, a ele caberá estimular pressões de fora para dentro, na defesa das pautas populares que interessam ao governo, usando sua expertise nos movimentos sociais.

Pelo jeito, Guilherme Boulos será o ministro a agitação e propaganda. Não por acaso, na foto do anúncio da nomeação, a ela e a Lula junta-se o encarregado da promoção publicitária, Sidônio Palmeira. Só os três.

Mas há mais. Com a ida ao Palácio, se cumprida a promessa de ficar até o fim deste mandato, Boulos estará fora da eleição em São Paulo. Lá, foi o mais votado para deputado em 2022 e seus pouco mais de 1 milhão de votos ficam à disposição da esquerda, o que significa a chance de migrarem para o PT.

E o projeto, caso a aparência se confirme, não pararia aí. Se reeleito, o presidente precisará de um sucessor. Fernando Haddad (PT) tem uma modelagem específica, afeita ao centro. Boulos é mais parecido com Lula.

Embora egresso da classe média, formou-se na batalha das ruas liderando os sem-teto. Uma adaptação aos tempos em que não há mais operários disponíveis à mítica de representantes das massas. Podem ser só impressões, mas convém prestar atenção na configuração da cerimônia de posse marcada para a próxima quarta-feira. Talvez existam pistas ali.

 

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