sábado, 25 de outubro de 2025

Governo cobra coerência do Congresso para votar PL de corte de despesas, por Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Haddad deveria aproveitar negociação para apresentar novas medidas de contenção

Chama a atenção a insistência do governo em tentar limitar, pela terceira vez, o uso de créditos tributários de PIS e Cofins

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) cobra coerência do Congresso para votar logo ao menos um dos projetos de lei com medidas de redução nas despesas após a derrubada da MP de alta dos impostos.

As medidas de corte de gastos estavam misturadas com outras propostas de incremento da arrecadação e acabaram ficando para trás com a decisão dos deputados de enterrar a MP. Após a derrota, o governo decidiu dividir as medidas de compensação em dois projetos, reciclando algumas propostas para fechar o Orçamento no ano eleitoral de 2026.

Por trás da divisão, a estratégia é forçar parlamentares que tanto cobram medidas de ajuste nas despesas a mostrar a cara. A hora da verdade para os críticos.

Chama a atenção a insistência do governo em tentar limitar, pela terceira vez, o uso de créditos tributários de PIS e Cofins na compensação de impostos a pagar. A regra mais rigorosa para coibir fraudes ficará no mesmo projeto de corte de despesas. É peça-chave no pacote porque pode ampliar a arrecadação do governo em pelo menos R$ 10 bilhões no ano que vem.

A primeira vez que Haddad tentou passar essa medida foi em meados de 2024. À época houve uma gritaria do setor empresarial, e o então presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), devolveu a MP, causando um enorme constrangimento ao governo. A segunda vez foi por meio da MP de alta dos impostos. Agora, Haddad adiantou que vai encaminhar novamente a medida para limitar a regra. A justificativa tem a ver com compensações irregulares ou fraudulentas por parte de vários contribuintes. A Receita Federal calcula as perdas em R$ 11,4 bilhões.

Para além dos valores que o governo quer arrecadar a mais, é hora de jogar luz nesse tipo de fraude praticado por verdadeiras quadrilhas especializadas que vendem no mercado oportunidades tributárias para as empresas.

O Congresso precisa aprovar a restrição, mas Haddad também deveria aproveitar a nova negociação para apresentar novas medidas de corte de despesas.

Elas por elas.

 

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