Folha de S. Paulo
Presidente ainda não é forte o suficiente
para gerar um tsunami de adesões à sua candidatura
É, entretanto, forte o bastante para que
direita sabote seu governo antes que popularidade se torne irreversível
A última
pesquisa Quaest mostrou uma notável recuperação da popularidade
de Lula.
Isso pode piorar sua vida no Congresso, como ficou claro no caso da derrota da
MP 1.303.
Se Lula estivesse disparado nas pesquisas, uma parte importante do centrão já estaria do lado do governo. Não seria tranquilo: como já dissemos aqui, as novas máquinas partidárias do centrão estão em crise de identidade, ainda na dúvida sobre continuar negociando apoio com qualquer presidente ou adotar uma identidade ideológica de direita mais clara. Mas certamente haveria adesões suficientes para Lula formar maioria no Congresso.
Por outro lado, se Lula estivesse
fraquíssimo, já descartado como opção
para 2026, a oposição de direita no Congresso talvez ajudasse Haddad a
equilibrar as contas públicas. Afinal, teria uma boa perspectiva de assumir a
presidência em 2027, e não desejaria governar um país quebrado.
Nenhum desses cenários corresponde à situação
atual.
Lula voltou para o páreo, e no momento é o
favorito para vencer a eleição de 2026. A melhora de popularidade começou antes
ainda do tarifaço, com a mudança na comunicação
do governo. Mas não há dúvida de que Bananinha e Paulo Figueiredo ajudaram
Lula enormemente, dando-lhe inclusive condições políticas para apoiar sua
medida mais popular, a reforma
do imposto de renda. Lula já é forte o suficiente para que seus ministros
prefiram trocar de partido a perder seus cargos.
Mas a direita ainda conta com uma boa eleição em
2026, mesmo que não tão boa quanto achava que seria três meses atrás. Seus
partidos dispõem de fortunas garantidas pelo fundo eleitoral, são situação em
quase todos os Estados, e devem poder contar com a base bolsonarista. Tarcísio
de Freitas perdeu brilho depois do tarifaço e da derrota da anistia,
mas ainda é o crush dos ricos brasileiros. O racha provocado pelo
bolsonarismo continua fazendo a direita brasileira sangrar, mas talvez alguma
trégua seja negociada nos próximos meses.
Ou seja, Lula ainda não é forte o suficiente
para gerar um tsunami de adesões à sua candidatura, mas é forte o suficiente
para que a direita precise sabotar seu governo antes que o ganho de
popularidade se torne irreversível.
Por isso Tarcísio de Freitas trabalhou
para derrubar
a MP 1.303, que taxava bets e aplicações inexplicavelmente isentas. Antes
de a direita no Congresso desfigurá-la, a MP 1303 ajudava o Brasil a equilibrar
suas contas com perda mínima de bem-estar social. Se Tarcísio
vencer em 2026, sua vida será mais difícil do que seria se a MP de Haddad
tivesse sido aprovada.
A atuação de Tarcísio contra a MP 1.303
mostra que o risco de a direita perder a eleição em 2026 já é grande o
suficiente para que ela deixe para pensar em equilíbrio fiscal só depois de uma
eventual vitória.
O cenário de sonhos para os conservadores
seria Lula fazer o ajuste fiscal inteiramente em cima dos gastos sociais – que
em algum momento, seja qual for o vencedor de 2026, devem ser afetados. Lula
perderia popularidade, perderia a eleição e entregaria para Tarcísio um Brasil
com as contas equilibradas e as tarefas difíceis feitas.
Para azar dos direitistas, só quem parece
disposto a fazer tudo que o outro lado precisa para vencer em 2026 é Eduardo
Bolsonaro.
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