Folha de S. Paulo
Países rompem trégua de cinco meses e se
ameaçam com retaliações econômicas graves
Mesmo que ataques sejam blefe de negociação,
mercados devem variar de modo tenso
Caso China e Estados
Unidos fossem à guerra econômica de fato, como prometeram na
semana passada, as consequências seriam daninhas para os dois países. O estrago
seria tão grande que as ameaças
vêm sendo interpretadas como meio imprudente de ganhar vantagem
nas negociações.
As conversas sino-americanas devem ter
momento importante no próximo mês. A partir do dia 31 de outubro, Donald Trump e Xi Jinping teriam
reunião na Coreia do Sul.
No dia 10 de novembro, vence a trégua do conflito comercial.
Trump ameaçou aumentar o imposto de importação sobre produtos chineses para mais de 150%. Na prática, é embargo e causaria desordem na indústria e no comércio dos EUA, para começar. Sem terras raras da China, além de seus subprodutos e tecnologias, haveria tumulto na indústria de ponta e, pois, abalos nas Bolsas. Afora o baque na produção industrial, a China, por sua vez, ficaria sem softwares avançados, um dano para o desenvolvimento de chips e atraso nos programas de inteligência artificial, de computação em nuvem e de integrar IA ao parque de robôs (o país tem metade dos robôs industriais do mundo). Trump promete outras sanções contra a economia chinesa.
O rumor da bolha de IA azeda mais o caldo. Na
semana passada, tal risco foi assunto do FMI, do Banco da Inglaterra (o BC
deles) e de Jamie Dimon, presidente do JP Morgan, maior banco dos EUA. Na
verdade, Dimon disse que o mercado de ações pode passar por
"correção" (baixa) no prazo de 6 meses a 2 anos, meio uma eternidade.
Fora do mundo de manias e pânicos, nos
fundamentos o que pode influenciar a "correção" é o desempenho de
empresas, em especial relacionadas a IA, e de bancões. Em termos mais gerais, o
futuro de inflação e emprego nos EUA vai pesar. Balanços trimestrais começam a
sair na semana que vem, com bancos. Bons resultados das empresas e da finança,
inflação e desemprego aumentando apenas um pouquinho (como prevê o Fed), juros em
queda e cortes trumpianos de impostos manteriam a animação. Por ora, não se
suspeita de que exista um setor grande e bichado da economia que possa vir a
causar estrago amplo (apesar de alguns calotes feios de empréstimos ruins para
empresas médias).
Essa é a pílula prateada da interpretação que
corre nos EUA. O aumento da dívida do governo americano, a ameaça de Trump de
tomar o Fed, a biruta de sua política econômica, os riscos de choques políticos
e de conflitos internacionais e, menos ainda, problemas fiscais na Europa e no
Japão não seriam problemas para já, nessa versão.
Ainda assim, a derrubada nos mercados
financeiro seria relevante se caísse um dominó desse conjunto de hipóteses
benignas. Se EUA e China não recuarem até o final do mês, virão pelo menos
semanas de volatilidade, de variações grandes de preços na praça.
É, claro, ruim para o Brasil, que está em
situação periclitante e no curto prazo dependente de um dólar estável
ou em queda. Gente graúda da finança não entendeu bem o gatilho do paniquito da
sexta passada, quando o movimento no mercado cambial foi quase o dobro da média
diária do último mês (e os juros futuros aqui estão no nível mais alto desde
agosto, para prazos além de três anos). O dólar está no valor mais alto em mais
de dois meses, ante moedas do mundo rico. Passou a temporada de baixa? No
Brasil, o último trimestre costuma ser de desvalorização do real. Aumentou um
tanto o risco de acidentes em câmbio e
juros.
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