terça-feira, 14 de outubro de 2025

Lula no palanque, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Presidente subiu no palanque e não vai descer mais

A um ano das eleições, o presidente Lula já subiu no palanque e não vai descer mais. Todos os seus movimentos, decisões, falas, viagens e anúncios são voltados para 2026 e, a cada um deles, ele vai colecionando boas fotos e ótimo material de campanha. Um bom exemplo é o encontro com o Papa Leão XIV, nesta segunda-feira, no Vaticano, mas o mais cobiçado ainda vem aí, com o presidente Donald Trump.

A ida relâmpago à Itália foi direcionada exatamente para a campanha. O Brasil é considerado o maior País católico do mundo e isso, é óbvio, tem forte peso eleitoral. Já que não tem os evangélicos, Lula investe nos católicos com desenvoltura e com o seu vínculo e o do PT com a Igreja, desde a fundação do partido, em 1980. Lula, inclusive, já tinha se encontrado – e tirado fotos - com João Paulo II, Bento XVI e Francisco.

O tema central na viagem, de um dia, também tem tudo a ver com 2026 e a história do PT e de Lula: o combate à fome, reforçado com o discurso do “ricos versus pobres”, que ele ganhou de bandeja do bolsonarismo no debate sobre a isenção do IR, e com a criação da Aliança Global contra a Fome, no Rio, quando o Brasil presidia temporariamente o G20, grupo das maiores economias.

Lula conversou com o Papa sobre o que ele próprio considera sua obsessão e, em Roma, discursou nas reuniões da Aliança contra a Fome e da FAO, o braço da ONU para Alimentação e Agricultura. Nesses três momentos, levou um trunfo: ter novamente tirado o Brasil do Mapa da Fome, como anunciou a própria FAO. O índice de miséria ainda é inaceitável no País, mas a fome diminuiu.

Viagens assim buscam dois efeitos. O primeiro é ratificar a imagem internacional de um Lula que persegue a segurança alimentar e a defesa dos pobres. O outro é a consequência interna, com a consolidação dos votos da esquerda e a expectativa de atração do centro e até da direita refratária ao bolsonarismo.

O próximo “golaço”, como pretendem os governistas, deve ser o encontro com Trump, seguido de boas notícias quanto a tarifas e a sanções contra autoridades brasileiras. Apesar disso, o ministro Fernando Haddad cancelou a ida aos EUA para as negociações prévias, para priorizar a reação interna às derrotas do aumento do IOF e da MP da arrecadação no Congresso.

Se o Congresso não colabora com aumento de receita e Lula não admite o correspondente corte de gastos, a conta não fecha. E, se não fecha, há dois riscos: Lula baixar a bola nos seus programas sociais ou simplesmente jogar a responsabilidade fiscal para o alto. Em qualquer hipótese, o efeito é no País, mas diretamente também na campanha de Lula.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.