O Estado de S. Paulo
As pesquisas mostram que uma maioria
consistente de eleitores não gostaria de ver nem Lula nem Bolsonaro em 2026.
Seria ótimo uma esquerda e uma direita renovadas, no País, discutindo o futuro.
Mas não irá acontecer. Por vezes me lembro de meus 20 e poucos anos. Era a
primeira eleição da Nova República, em 1989, e Lula já estava lá. Agora vamos
para a décima eleição, e algo soa como a reprise infinita de um velho filme.
Lula sai na frente. Das quatro reeleições que
tivemos, apenas uma não funcionou: Bolsonaro, em 2022. Na América Latina, o
índice de reeleição chega a 85%.
Há exatos cinco meses, o governo chegou ao fundo do poço, com cerca de 40% de aprovação. De lá para cá, vem se recuperando. Grosso modo, uma reeleição é muito improvável com aprovação abaixo de 40%, e muito provável acima de 50%. Lula sabe disso. Se o governo crescer mais 4 ou 5 pontos, é difícil perder. Se a inflação está sob controle, desemprego baixo e as gratuidades correndo soltas, o curto prazo está bem resolvido. E o curto prazo é 2026.
No mundo da direita, as coisas andam
difíceis. De um líder da oposição, escutei que o Brasil teria uma faixa de
eleitores “flexíveis”, que tendem à “direita” no terreno econômico, mas
rejeitam o radicalismo e há muito perderam a paciência com Bolsonaro. De modo
que haveria espaço para uma direita moderada, com Tarcísio ou Ratinho Jr. A
tese soa plausível. Lula ganhou o centro em 2022. A direita poderia fazer algo
similar agora. Lula ajuda, sob certo aspecto: empurra seu governo para a
“esquerda”. A escolha de Boulos como seu ativista-chefe simboliza bem isso.
Um pouco abaixo do mise-enscène político,
2026 seguirá um padrão. Estarão frente a frente as duas turmas que se opõem, na
vida brasileira, desde o início dos anos 1990. Desde as privatizações, Lei de
Responsabilidade
Fiscal, até a autonomia do BC e o novo marco
do saneamento, passando por todas as reformas relevantes que o País fez, nas
três últimas décadas. Em todas elas, sempre tivemos dois lados. Isto é apenas
um dado sobre iniciativas de governos e votos, no Congresso. Lula se elegeu em
2022 dizendo que acabaria com as privatizações, reformas liberalizantes, teto de
gastos. Disse que retomaria o “protagonismo do Estado” e cumpriu. Nossa
situação fiscal é a prova de sua perfeita coerência.
Nada disso será diferente em 2026. Desta vez
com um componente a mais: o tema institucional. A chancela à lógica da exceção
que presidiu a vida brasileira nos últimos anos, em especial a partir dos
inquéritos, em 2019. Ou sua rejeição. Por ora, a oposição sai atrás. Dispersa,
uma parte insistindo na estratégia suicida do apoio ao tarifaço de Trump. Isso
e o espectro de uma eleição sob a tutela de opinião do Sistema de Justiça, como
em 2022. Quem sabe vá aí o sentido último da disputa de 2026. A dúvida sobre se
teremos ou não um debate livre nas eleições. Seria, no fim do dia, ganhe quem
ganhar, nossa vitória como país, em 2026. •

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