O Estado de S. Paulo
As tarifas não poderiam ter vindo em pior momento para a carne bovina dos EUA
Donald Trump está em condição mais
vulnerável, do ponto de vista comercial, do que quando anunciou a tarifa de 50%
sobre os produtos brasileiros, no dia 9 de julho. A carne e o café estão caros
nos EUA e não houve impacto sobre as principais exportações do agro brasileiro.
As tarifas não poderiam ter vindo em pior
momento, para a carne bovina dos EUA, que vive a pior queda de produção em 70
anos. Todo setor tem os seus ciclos. Dentro de um ou dois anos a produção pode
aumentar de novo. Mas a escassez levou a aumento de 14% do preço da carne
americana nos 12 meses encerrados em agosto.
Para uma economia estável como a americana, é muita coisa. O churrasco de hambúrguer no fim da tarde é sagrado para a família americana. Diante das pressões, Trump falou em importar carne argentina. Provavelmente para ajudar Javier Milei nas eleições para o Congresso argentino, hoje – como fez ao condicionar o swap cambial de US$ 40 bilhões à vitória de seu aliado nas urnas.
Mas não se ajudou. A declaração causou algo
raro em tempos de total domínio de Trump sobre as primárias de seu partido,
ainda mais considerando as eleições para o Congresso em um ano. Republicanos de
Estados produtores de carne criticaram o presidente publicamente. Chuck
Grassley, do Iowa, um dos mais antigos no Senado, disse que “prejudicar a carne
bovina americana não é colocar a América em primeiro lugar”, referindo-se ao
slogan de Trump.
Em contrapartida, a carne bovina brasileira
registrou em setembro sua maior exportação da série histórica, iniciada em
1997. A carne americana já estava tão cara que as exportações continuaram,
mesmo com 50% de tarifa. Os frigoríficos brasileiros exportam para 165 países,
e destinaram a carne a outros mercados. O México passou a vender mais para os
EUA e a comprar mais do Brasil.
As exportações de suco de laranja e de café
também não diminuíram com a tarifa de 50%. O café é tão importante para os
americanos que os importadores racharam a tarifa com os exportadores. A safra
foi 25% menor e os preços estão altos, o que suavizou o impacto. A China trocou
a soja americana pela brasileira e argentina.
Isso não quer dizer que um acordo não
interessa ao Brasil. O mercado americano paga bem e tem logística incomparável.
E o efeito do tarifaço começou em setembro no setor de máquinas. Houve queda de
28%, com exceção de máquinas para construção civil, cujos contratos são anuais,
e tiveram crescimento de 5%.
Mas, no que diz respeito ao agro, motor da
economia brasileira, quem está com a corda no pescoço não é Lula.

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.