Folha de S. Paulo
Cotados para o Supremo são examinados sob
critérios distantes do notório saber jurídico
Principal requisito exigido pela Constituição
fica relegado ao plano das irrelevâncias
Quando o presidente da República vem a
público dizer que não pretende indicar "um amigo" para o Supremo
Tribunal Federal, que optará por
profissional do direito "gabaritado" a guardar
a Constituição,
involuntariamente expõe a distorção presente nessas escolhas. Há vários
governos.
Não é, ou não deveria ser, uma opção o mandatário escolher pelo preparo substantivo para a função. É a Lei Maior que estabelece o critério de notório saber. Quanto ao requisito da amizade é o que, junto com confiança do Palácio, trânsito na política e agrado dos pares do STF, vem sendo posto à mesa das especulações sobre os atributos dos mais cotados.
São três, como nos informa diariamente o
noticiário: Jorge Messias,
advogado-geral da União; Rodrigo
Pacheco, senador pelo PSD de Minas Gerais; e Bruno Dantas,
ministro do Tribunal de Contas da União.
A respeito deles não se escreveu nem se disse palavra sobre o notório saber
jurídico. É possível que tenham esses saberes que, no entanto, não se enquadram
no conceito de notoriedade porque a respeito disso não se fala. A principal
credencial fica, portanto, relegada ao plano das irrelevâncias.
De Messias, destaca-se a religião e a
proximidade com o presidente; de Pacheco, o apoio do presidente do Senado e a
simpatia de ministros do tribunal; de Dantas, o bom relacionamento nos três
Poderes.
Tais requisitos prevalecem, são vistos com
naturalidade e levados em conta com a maior seriedade —quando normal é que
fossem secundários. Daí também decorre o fato de que meios e modos das
sabatinas no Senado tenham sido incorporados à paisagem tropical.
A dinâmica tem mudado, embora não exatamente
para melhor. Antigamente os rapapés reinavam e ultimamente seguem presentes,
mas acrescidos daquelas manifestações feitas para cortes de internet. A
consistência do debate atinente ao escrutínio do saber jurídico continua
ausente.
A má notícia que não há chance de mudar. Do
jeito que está é mais fácil para todos, poupa o trabalho de pensar.
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