Correio Braziliense
O PL da Dosimetria tem o objetivo de reduzir
as penas dos condenados pela tentativa de golpe de Estado, porém não avança,
devido às divergências com bolsonaristas
O procurador-geral da República, Paulo Gonet,
pediu, nesta terça-feira, a condenação dos sete réus do chamado núcleo 4,
responsável por ações de desinformação vinculadas à trama golpista que
organizou a invasão do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal
federal (STF). Enquanto o julgamento de mais esse grupo de militares e agentes
públicos envolvidos na tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023
avança na Primeira Turma do STF, agora presidida pelo ministro Flávio Dino, o
PL (Projeto de Lei) da Dosimetria, cujo relator é o deputado Paulinho da Força
(Solidariedade), está empacado na Câmara.
O PL da Dosimetria tem o objetivo de reduzir as penas dos condenados pela tentativa de golpe de Estado, porém também não avança, devido às divergências entre o Centrão, que apoia a mudança, e o PL e os demais integrantes da bancada bolsonarista, que querem uma anistia para Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos e três meses de prisão em regime fechado. O ex-presidente quer recuperar a liberdade e o direito a concorrer à Presidência nas eleições de 2026.
Esse é um jogo jogado, não há a menor chance
de seguir adiante antes das eleições de 2026. Ainda mais depois de iniciadas as
negociações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente dos Estados
Unidos, Donald Trump, que pressionou o Supremo para que não condenasse
Bolsonaro, impondo duras tarifas às exportações brasileiras, da ordem de 50%, e
sanções financeiras ao ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, e
seus familiares, entre outras autoridades.
Assim como a aprovação da chamada PEC da
Blindagem pela Câmara foi amplamente repudiada, o PL da Dosimetria também
enfrenta dificuldades para ser aprovado por causa da opinião pública. É
rejeitado por 52% dos entrevistados, segundo pesquisa Genial/Quaest divulgada
em 8 de outubro. O mesmo levantamento mostra que 37% são favoráveis, com a
justificativa de que as penas foram muito duras, enquanto 11% estão indecisos
ou não responderam.
A medida é uma espécie de texto alternativo
ao PL da Anistia, relacionado aos condenados pelos ataques à sede dos Três
Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023. Ele tem como objetivo propor
punições menores e mais brandas, ao contrário de um perdão político
"amplo, geral e irrestrito", como defendido por alguns membros da
oposição.
Condenados
Débora Rodrigues dos Santos, manifestante do
8 de Janeiro que escreveu "Perdeu, mané" com batom na estátua da
Justiça, em frente à sede do STF, foi condenada a 14 anos de prisão em regime
domiciliar, com base na legislação vigente, que muitos consideram uma pena
muito elevada. O próprio ministro Luís Roberto Barroso, que anunciou que
deixará a Corte, avalia que "algumas penas" foram muito elevadas.
Mesmo assim, a bancada do PL acredita que esta
será uma semana decisiva para o avanço do projeto da anistia na Câmara dos
Deputados. "Dosimetria é conversa fiada para boi dormir. Nós não somos
bois. Dosimetria não é papel do Congresso. Papel do Congresso é conceder
anistia", afirmou o pastor Silas Malafaia, durante o ato na Esplanada dos
Ministérios na semana passada. O relator tem resistido à pressão e sinalizou
aos líderes da Câmara que busca um texto de consenso com o Senado e que não
possa ser barrado pelo STF.
Uma das propostas de Paulinho é permitir que
os condenados pelo 8 de Janeiro deixem o regime fechado após a nova dosimetria.
Já para os integrantes do chamado "núcleo central" — que inclui
Bolsonaro e outros sete réus condenados pelo STF —, a previsão seria de redução
de pena, mas não o suficiente para evitar o cumprimento de parte da prisão em
regime fechado, caso de Bolsonaro.
No julgamento do grupo quatro da trama
golpista, os réus são Ailton Moraes Barros, ex-major do Exército; Ângelo
Denicoli, major da reserva do Exército; Carlos Cesar Moretzsohn Rocha,
presidente do Instituto Voto Legal; Giancarlo Rodrigues, subtenente do
Exército; Guilherme Almeida, tenente-coronel do Exército; Marcelo Bormevet,
agente da Polícia Federal; e Reginaldo Abreu, coronel do Exército. São acusados
de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de
Estado; organização criminosa armada; dano qualificado; deterioração de
patrimônio tombado.
Segundo a PGR, os réus usaram a estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionar adversários políticos, criar e espalhar informações falsas contra o processo eleitoral, instituições democráticas e autoridades que ameaçavam os interesses golpistas. Para Gonet, a consequência desses ataques foi a invasão e a destruição das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. Esse é o segundo grupo de réus a ser julgado pela Primeira Turma. Além de Bolsonaro, o colegiado condenou, em setembro, outros sete aliados do ex-presidente por golpe de Estado, entre eles, quatro militares de alta patente.
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