Folha de S. Paulo
Presidente tem muita experiência para
negociar, país tem pouca estratégia pensada
EUA preparam guerra na América Latina e
transformam Argentina em protetorado financeiro
Luiz Inácio Lula da Silva
tem meio século de experiência em negociações, a contar pelo menos desde quando
assumiu o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, em 1975,
conversando com a Fiesp e liderando um movimento político que contribuiu para o
fim da ditadura. Disputou seis eleições presidenciais, ganhou três. Governou o
país já por 11 anos, sempre em minoria no Congresso. Etc.
Não há líder político no Brasil com fração da experiência de Lula. Não obstante, Lula confia por demais no seu "taco", quando não diz disparates, em especial quando em boa fase e o "fracasso sobe à cabeça", vide a arenga de sexta passada sobre usuários de drogas que prejudicam traficantes. Parece também confiante de que vai levar Donald Trump na conversa, falando "de tudo", "igual para igual". Mas terá de pensar muito mais no que diz; o Brasil precisa de planos estritos, muito além de vago, velho e ideológico sul-globalismo.
Por causa de relativa desimportância,
autarquismo atávico, ignorância e distância dos centros do mundo, o Brasil
jamais teve estratégia internacional detalhada de longo prazo. Mas o país
cresceu um pouco; associou-se, na prática, à China; tornou-se exportador grande
ou potencialmente grande de commodities essenciais (comida, petróleo, minérios,
energia limpa). Trump colocou o Brasil de vez no conflito mundial.
No dia 10 de outubro, os EUA anunciaram a
criação da Força Tarefa Conjunta, no Comando Sul, liderada pelos fuzileiros
navais ("marines"). Vai coordenar operações militares, de espionagem
e ações domésticas contra "narcoterroristas" da América Latina. Uma
esquadra liderada pelo porta-aviões mais poderoso dos EUA vai para o Caribe. As
Américas e o "inimigo interno" (imigrantes, traficantes) são a
prioridade de defesa.
A Força Tarefa pretende inteceptar tráfico e
destruir infraestrutura física e financeira dos "narcoterroristas". É
provável que seja instrumento para derrubar Nicolás Maduro e o chavismo.
Os EUA ora tutelam a economia argentina. Sem
o dinheiro americano, o país de Javier Milei estaria em convulsão financeira. O
Tesouro dos EUA indica rumos para a política cambial, Trump faz chantagem
político-econômica. O plano parece improvisado, mas é intervenção profunda, não
se sabe com qual objetivo além de salvar um aliado de direita. Afastamento da
China?
Suponha-se que Lula converse bem com Trump.
Haveria ainda meses de negociação, em tempo de risco de conflito regional (e
mais anos de trumpismo). Além do mais, a política contra os
"narcoterroristas" prevê a inclusão de mais países
"parceiros" na ofensiva. O Brasil?
Na Ásia por estes dias, Trump vai falar com
Japão, Coreia do Sul e China. De japoneses (US$ 550 bilhões) e coreanos (US$
350 bilhões), obteve promessas de investimentos, entre outras concessões
grandes. Da China, agora, vai querer terras raras e compras de aviões, soja e
carne, pois os fazendeiros americanos estão falindo. Diante disso, o que temos
a oferecer? Como equilibrar, de modo vantajoso, relações com China e EUA?
Trump dobrou o mundo quase inteiro. A União
Europeia ameaçou retaliar, mas desistiu por precisar de dinheiro, armas e
outros apoios americanos na guerra (por ora) indireta com a Rússia. Trump
ameaça cortar relações por pinimbas, como faz com o Canadá. É sempre ameaça.
Além do improviso para lidar com a crise, que
é a reação do mundo inteiro, por ora, o que o Brasil quer ser para crescer?
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