quarta-feira, 12 de novembro de 2025

A COP dos políticos, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Em ritmo de campanha, presidente comeu açaí, inaugurou obras e quase perdeu voz de tanto discursar

Deu no Diário Oficial: de 11 a 21 de novembro, a capital do Brasil fica transferida para Belém. Lula parece ter levado a Lei 15.251 a sério. Nos últimos dias, carregou 28 ministros para circular na cidade-sede da COP30.

Em campanha aberta à reeleição, o presidente apostou alto na conferência amazônica. Visitou aldeia indígena e quilombo, tomou açaí, inaugurou obras e quase perdeu a voz de tanto discursar. Só na cúpula dos líderes, fez cinco pronunciamentos em dois dias.

A COP recolocou Lula no centro do palco internacional. No front externo, ele voltou a pontificar como líder do Sul Global. Defendeu a troca da dívida de países pobres por serviços ambientais, lançou um fundo de preservação de florestas e cobrou grandes poluidores a financiarem ações contra o aquecimento do planeta.

No front doméstico, o presidente capitalizou resultados da gestão de Marina Silva no Meio Ambiente, como a redução dos incêndios florestais e a menor taxa de desmatamento na Amazônia em uma década. Ao desfilar os números, expôs o contraste com o antecessor, que tratava ambientalistas como inimigos e fazia piada com o apelido de “Capitão Motosserra”.

Ontem uma pesquisa da Quaest informou que 41% dos brasileiros acreditam que a COP vai trazer resultados positivos para o Brasil. Apenas 7% preveem saldo negativo, enquanto outros 41% acham que a cúpula “não fará diferença”. Segundo o mesmo levantamento, quase todos (94%) percebem mudanças no clima, como calor mais intenso e secas mais longas.

Os números sugerem que insistir no negacionismo não será bom negócio nas urnas. A ver se os protestos programados contra a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, apoiada por Lula, serão suficientes para arranhar a imagem verde que ele busca projetar.

Na política paraense, a COP virou ativo para os Barbalho. O governador Helder, que se reelegeu com 70% dos votos, agora saboreia uma temporada de projeção nacional. A cúpula animou a família a preparar uma dança de cadeiras nas eleições de 2026. O patriarca Jader Barbalho promete se aposentar, mas o clã terá candidatos ao Senado, à Câmara e à Assembleia Legislativa.

O desafio é convencer os eleitores de que a COP deixará um legado permanente — o que nem sempre acontece após grandes eventos internacionais.

 

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