terça-feira, 4 de novembro de 2025

Batata quente nas mãos de Lula, por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Governador prepara um 'novo Witzel' para substituí-lo

Delegado que comandou a matança ameaça favoritismo do prefeito

O prefeito Eduardo Paes só faltou se vestir de conselheiro Acácio ao comentar a operação das polícias Militar e Civil nos complexos do Alemão e da Penha, a mais letal da história do país, com mais de 120 mortos: "O Rio não pode ficar refém de grupos criminosos".

Ninguém —a não ser os verdadeiros chefões do crime, que moram longe das favelas e têm a identidade protegida pelo esquema que corrompeu e se infiltrou nas instituições de Estado— pode admitir a ocupação de quase um terço das áreas da cidade, as mais desassistidas, por milicianos e traficantes.

Um exército de homens treinados por ex-policiais e ex-militares, que portam fuzis importados legalmente por colecionadores de armas e que, como na Guerra da Ucrânia, usam drones lançadores de bombas. E sabem, por meio de vazamentos, o dia e a hora em que serão atacados.

Outra coisa é tapear a verdade. A chacina de Cláudio Castro, durante a qual a maioria das câmaras corporais não funcionou, teve sucesso na visão de uma parcela expressiva da sociedade —aquela que aplaude o espetáculo de corpos encontrados sem cabeça.

Se pensarmos na sua eficiência, a operação fracassou. Igual às que se sucedem desde os anos 1990 e jamais abalaram as facções —o Alemão e a Penha continuam sob as ordens do Comando Vermelho. Como propaganda política, um tiro certeiro. Agitou a direita e a extrema direita, que estavam em baixa. Certos governadores ficaram tão assanhados que anunciaram a criação de um "consórcio da paz", iniciativa em que o cinismo consegue superar a marquetagem. A ideia é apontar o governo federal como o único culpado. A batata quente está nas mãos de Lula, de quem se espera soluções concretas.

E Paes? Sua reação tímida tem a ver com a candidatura a governador e a aliança que ensaia com Cláudio Castro. O grupo que este representa, no entanto, já prepara um outsider, paladino da lei e da ordem, Wilson "Atirar na Cabecinha" Witzel revivido: o delegado Felipe Curi, secretário da Polícia Civil que comandou a matança.

 

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