quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Bolsonaro fica afastado do jogo, por Julia Duailibi

O Globo

Ex-presidente é cada vez mais carta fora do baralho, pelo menos na eleição do ano que vem

Ninguém admitirá publicamente, mas a prisão de Bolsonaro foi um alívio para muitos aliados que torcem pelo derretimento de sua influência na disputa presidencial de 2026. Seu status de influencer está debilitado com as trapalhadas da família nos últimos meses, mas as novas barbeiragens desta semana devem acelerar o desgaste. Até os aliados mais fiéis ficaram desnorteados com a suposta alucinação envolvendo escuta na sua tornozeleira. Bolsonaro é, cada vez mais, carta fora do baralho, pelo menos na eleição do ano que vem. O Centrão, quietinho, comemora.

A perda de influência na direita é um movimento detectado em pesquisas encomendadas pelos próprios aliados. Os números mostram que o potencial de transferência de votos diminuiu no decorrer de 2025. Isso é avaliado em diferentes perguntas, entre as quais “você votaria num candidato apoiado por Bolsonaro?”. Numa das regiões estratégicas do país, a resposta “sim” passou de 38% para 28%. Outra forma de medir a perda de força é a rejeição. Pesquisa Quaest mostra que ela passou de 55%, em maio, para 63%, em outubro.

Hoje Bolsonaro é menor que a direita. Antes mesmo da “paranoia” com a tornozeleira, a Quaest já mostrava que apenas 13% se declaravam bolsonaristas, diante de 22% que se diziam de direita, mas não bolsonaristas. Os independentes, que poderão definir a eleição, são mais que o dobro dos bolsonaristas, 31%.

Diante desse cenário, os profissionais da política sabem que Bolsonaro pode atrapalhar mais do que ajudar. Mas não pretendem descartá-lo. Pelo menos, não agora. Numa eleição fragmentada pela direita, como se desenha hoje, o apoio dele poderá fazer diferença para chegar ao segundo turno. Se o ungido por ele passar pela prova do primeiro turno e chegar lá, a disputa ganha outra lógica: a conquista do centro. Aí, é tchau, Bolsonaro.

O que se quer hoje, portanto, é um Bolsonaro fragilizado. Um Bolsonaro que não seja capaz de dar as cartas em 2026, mas que possa ajudar no jogo,como coadjuvante. A prisão ajuda nesse “mapa do caminho” traçado por um Centrão animado, mais que nunca, com a possibilidade de emplacar como candidato do grupo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Publicamente, uma vela e uma prece para Bolsonaro; no privado, um viva para Alexandre de Moraes.

Para tudo sair conforme o planejado, não dá para melindrar Bolsonaro na escolha do vice. Chamou a atenção a ida de Michelle Bolsonaro, há 15 dias, ao lançamento da candidatura da deputada federal Bia Kicis (PL-DF) ao Senado. O ex-presidente queria justamente Michelle na disputa por uma das duas vagas ao Senado pelo PL. O apoio à deputada foi interpretado como o “tá ok” de Bolsonaro à entrada de sua mulher na disputa maior, a pela Vice-Presidência. Isso, é claro, numa eventual chapa com Tarcísio.

Se decidir mesmo disputar a eleição, Tarcísio terá de pagar esse pedágio, que se une ao já anunciado indulto ao ex-presidente. Afinal, Bolsonaro é, cada vez mais, carta fora do baralho. Mas ainda tem potencial para estragar o “mapa do caminho” do Centrão.

 

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