O Estado de S. Paulo
Circulam informações em Brasília de possíveis delações premiadas de figuras-chave dos esquemas desbaratados
Ricardo Magro não é apenas o eixo central da
Operação Poço de Lobato, que desbaratou o esquema bilionário de sonegação do
grupo Refit. Ele é também um empresário de muitas conexões em Brasília,
particularmente com políticos do Centrão. Na capital federal, a percepção é de
que a operação capitaneada por polícias civis e militares, Ministério Público e
Receita Federal vai trazer dois benefícios para o governo Lula: um aumento da
arrecadação formal e secar uma fonte importante de recursos de caixa 2 para os políticos
do Centrão.
Com operações mais inteligentes, feitas em conjunto também com autoridades estaduais, os investigadores chegaram ao primeiro elo: os empresários.
Com as operações Carbono Oculto e Poço de
Lobato, começaram a colocar um torniquete na chamada “economia do crime” – um
mundo paralelo no qual empresários inescrupulosos, muitas vezes ligados a
grupos como PCC e CV, movimentam bilhões em sonegação, falsificação e
adulteração de produtos.
Projeções do Fórum Nacional de Segurança
Pública apontam que a “economia do crime” representa R$ 161 bilhões ao ano em
apenas quatro setores: bebidas, ouro, combustíveis e fumo.
E, quando o malfeitor é coibido, o empresário sério floresce. Segundo o Instituto Brasileiro de Petróleo, a arrecadação do Rio triplicou em outubro após o registro da Refit ter sido suspenso pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Só que a “economia do crime” não persiste sem a complacência da política. E é aí que as autoridades querem chegar: aos políticos.
Circulam informações em Brasília de possíveis
delações premiadas de figuras-chave dos esquemas agora desbaratados – talvez
uma espécie de Lava Jato do Centrão. Outras pistas (não provas) para as
autoridades podem vir das relações entre esses empresários e políticos. Magro
hoje é figura tóxica na capital federal, mas por muito tempo teve amigos
poderosos.
Em maio, um seminário em Nova York organizado
pela revista Veja – e que tinha a Refit como patrocinadora master – contou com
a presença de figuras poderosas da República, como o presidente da Câmara, Hugo
Motta, o então presidente do Supremo
Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, o
senador Ciro Nogueira e o governador do Rio, Claudio Castro. O governador de
SP, Tarcísio de Freitas, cancelou sua presença quando veio a público o
patrocínio da Refit.
Ciro Nogueira, por exemplo, apresentou pelo menos duas emendas para brecar o projeto do devedor contumaz, que ficou parado no Senado por oito anos – só foi aprovado no rastro da Carbono Oculto. O projeto, que prejudica os interesses de Magro, está paralisado há três meses na Câmara. Ontem, finalmente ganhou um relator.

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