O Estado de S. Paulo
Questão conceitual-marqueteira à parte, sobre se seria ocupação (modelo UPP, associado ao fracasso) ou retomada de território (como quer vender o governador do Rio), certo é que haverá novas operações policiais – com incursão em favelas – até a eleição. Claudio Castro, ante a aprovação do 28 de outubro, está desafiado pela tentação eleitoreira da operação policial; a ideia de que mais duas ou três como aquela produziriam um candidato a presidente.
Sozinha, aquela ação – marco do pós-Bolsonaro, primeiro fato político relevante da direita que tem Jair nem como coadjuvante – já deu ao governador a emancipação da família. Se nunca pôde haver dúvida de que segurança pública seria o tema de 2026, seguro doravante será afirmar que o debate se desenvolverá em função da atividade policial para que as cidadelas do crime sejam reintegradas à República.
A partir de Castro, a direita tem discurso
competitivo e a chance de superar a condição de refém da bandeira única da
anistia. A partir de Castro, esperava-se que Tarcísio de Freitas emergisse e
liderasse. Não rolou. Seja porque prefira proteger o próprio telhado, seja por
avaliar prudente prolongar o período de recolhimento após experimentar o fogo
do bolsonarismo eduardista, o governador de São Paulo tem sido discreto.
A bola está quicando. A oportunidade,
lançada. Não tardará até que se converta em vácuo. Não faltarão tentativas de
preenchê-lo. Não custa muito – ou talvez custe – para que o “a partir de
Castro” se torne “com Castro” – “em Castro”. O êxito popular da Operação
Contenção o provoca ao flerte com o descomedimento. Nunca faltam os assistentes
megalômanos. Na hipótese de que o ato nos complexos da Penha e do Alemão tenha
sido produto de planejamento nos termos estritos da segurança pública, o flerte
seria por um calendário de atividades norteado pelas urnas como fim.
A maré vai favorável. Por que não tomar o
risco? O risco pressupõe cálculos para além da possibilidade de matar
inocentes. A tentação do protagonismo – de ambicionar saltos maiores – também
tenta os adversários a reagir. Não é tentação pequena, aumentada a
exposição-influência política do governador tanto quanto a superfície de sua
vidraça. A ascensão inesperada de Castro, para efeito (por ora) somente local,
rearranjou o equilíbrio de forças no Estado da mesma forma que – diz o
maledicente – despertou o TSE para o dormitante e gravíssimo caso Ceperj.
O julgamento que de súbito se iniciou,
marcado no dia seguinte à operação, teria como gatilho a mesma percepção – a de
jogador inesperado se impondo à mesa – que faz o cronista imaginar, caso a
eleição fosse hoje, que o governador teria mais votos que Flavio Bolsonaro ao
Senado. Há dez dias, Castro considerava nem sequer concorrer. Não tinha
candidato a suceder-lhe no Guanabara. Agora está obrigado a ter um e cortejado
por vários. O imperador Paes do Rio – que já passou a prefeitura-capitania
adiante – terá adversário.

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