quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Criticado, Trump rever tarifaço no Brasil, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Popularidade do presidente americano está no nível mais baixo desde a posse

Derrota eleitoral, inflação e lobbies empresariais podem ajudar a aliviar tarifaço

A popularidade de Donald Trump está no nível mais baixo desde a posse. Mais que no fundo do poço de abril, de tarifaço e tumulto financeiro. Na média das pesquisas calculada pelo Silver Bulletin, 55% dos americanos desaprovam o desempenho de Trump, 41,4% aprovam. O saldo negativo era, pois, de mais de 13 pontos nesta quarta. No início do mandato, janeiro, o saldo era positivo, quase 12 pontos.

O Partido Republicano perdeu de lavada a eleição parcial da semana passada. Nas pesquisas de boca-de-urna, eleitores citavam o custo de vida como preocupação maior (é um problema mundial, desde 2022, convém prestar atenção).

A paralisação ("shutdown") do governo também pegou mal e, para a maioria, os republicanos eram os culpados. Mais de 700 mil servidores federais ficaram sem salário, 42 milhões de americanos ficaram sem auxílio-alimentação (ou boa parte dele) etc. Sim, de cada 8 americanos, 1 depende de auxílio federal para comer.

Trump então passou a dizer que devolveria US$ 2.000 em impostos para famílias que ganham até US$ 100 mil por ano (impostos que ele aumentou, com o tarifaço). Disse que diminuiria o imposto de importação sobre café.

Gente do seu governo fala também em tirar o peso do tarifaço sobre bananas, outras frutas e coisas que os EUA não produzem. Além dos problemas políticos de Trump, a pressão de empresas americanas, tais como os torrefadores de café, favorece produtos brasileiros supertarifados.

O preço do café moído no varejo americano aumentou 18,9% em um ano, até setembro (falta estatística mais recente, por causa do "shutdown"). No Brasil, foi muito pior (54,6% nos 12 meses até setembro, 48% até outubro), mas americano não está acostumado com inflação, ainda está chocado com o que viu a partir de 2022.

A inflação da comida está em 3,1% ao ano (no Brasil, 5,5%). Além de café, o que aumentou mais foi carne de boi (14,7%) e bananas (6,9%).

A quantidade exportada de café pelo Brasil vinha caindo mesmo antes do tarifaço de Trump, desde abril (na comparação com o mesmo mês de 2024), e não apenas para os EUA. A quantidade vendida também diminuía para os outros grandes compradores, como Alemanha, Bélgica e Itália.

Mas, apesar de tudo isso e do tarifaço, o valor das exportações brasileiras tem sido crescente, por causa do aumento do preço do produto no mercado mundial. Embora não substitua as perdas de vendas para EUA e europeus, as exportações para o Japão e, especialmente, para a China, aumentaram bem.

Essas compensações e o preço alto fizeram com que o valor das exportações ainda aumentasse mais de 35% nos últimos 12 meses.

Outro grupo de produtos afetado pelo tarifaço, frutas e nozes, frescas ou secas, também se virou. Os preços caem, mas a quantidade vendida aumenta. O valor exportado aumentou 6,2% em 12 meses. E daí?

Primeiro, ao menos na soma, no agregado, esses exportadores se viraram; são capazes de achar mercado. Segundo, sim, é preciso recuperar o mercado americano, até porque a falta de produto pode implicar perda de hábito do consumidor e de conexão comercial, sempre um risco. Terceiro, o setor que terá mais dificuldade de se adaptar, o de máquinas e equipamentos (por produzir para nichos) precisa de muito apoio na negociação com os EUA. Quarto, o momento é propício para negociar.

Trump piscou, a ponto de falar em preço de café e banana, ele, que até outro dia achava curioso fazer compra de supermercado.

 

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