Folha de S. Paulo
Popularidade do presidente americano está no
nível mais baixo desde a posse
Derrota eleitoral, inflação e lobbies
empresariais podem ajudar a aliviar tarifaço
A popularidade de Donald Trump está
no nível mais baixo desde a posse. Mais que no fundo do poço de abril, de
tarifaço e tumulto financeiro. Na média das pesquisas calculada pelo Silver
Bulletin, 55% dos americanos desaprovam o desempenho de Trump, 41,4% aprovam. O
saldo negativo era, pois, de mais de 13 pontos nesta quarta. No início do
mandato, janeiro, o saldo era positivo, quase 12 pontos.
O Partido Republicano perdeu de lavada a eleição parcial da semana passada. Nas pesquisas de boca-de-urna, eleitores citavam o custo de vida como preocupação maior (é um problema mundial, desde 2022, convém prestar atenção).
A paralisação
("shutdown") do governo também pegou mal e, para a
maioria, os republicanos eram os culpados. Mais de 700 mil servidores federais
ficaram sem salário, 42 milhões de americanos ficaram sem auxílio-alimentação
(ou boa parte dele) etc. Sim, de cada 8 americanos, 1 depende de auxílio
federal para comer.
Trump então passou a dizer que devolveria US$
2.000 em impostos para famílias que ganham até US$ 100 mil por ano (impostos
que ele aumentou, com o tarifaço). Disse que
diminuiria o imposto de importação sobre café.
Gente do seu governo fala também em tirar o peso
do tarifaço sobre bananas, outras frutas e coisas que os EUA não produzem.
Além dos problemas políticos de Trump, a pressão de empresas americanas, tais
como os torrefadores de café,
favorece produtos brasileiros supertarifados.
O preço do café moído no varejo americano
aumentou 18,9% em um ano, até setembro (falta estatística mais recente, por
causa do "shutdown"). No Brasil, foi muito pior (54,6% nos 12 meses
até setembro, 48% até outubro), mas americano não está acostumado com inflação,
ainda está chocado com o que viu a partir de 2022.
A inflação da comida está em 3,1% ao ano (no
Brasil, 5,5%). Além de café, o que aumentou mais foi carne de boi (14,7%) e
bananas (6,9%).
A quantidade exportada de café pelo Brasil
vinha caindo mesmo antes do tarifaço de Trump, desde abril (na comparação com o
mesmo mês de 2024), e não apenas para os EUA. A quantidade vendida também
diminuía para os outros grandes compradores, como Alemanha, Bélgica e Itália.
Mas, apesar de tudo isso e do tarifaço, o
valor das exportações brasileiras tem sido crescente, por causa do aumento do
preço do produto no mercado mundial. Embora não substitua as perdas de vendas
para EUA e europeus, as exportações para o Japão e, especialmente, para a
China, aumentaram bem.
Essas compensações e o preço alto fizeram com
que o valor das exportações ainda aumentasse mais de 35% nos últimos 12 meses.
Outro grupo de produtos afetado pelo
tarifaço, frutas e nozes, frescas ou secas, também se virou. Os preços caem,
mas a quantidade vendida aumenta. O valor exportado aumentou 6,2% em 12 meses.
E daí?
Primeiro, ao menos na soma, no agregado,
esses exportadores se viraram; são capazes de achar mercado. Segundo, sim, é
preciso recuperar o mercado americano, até porque a falta de produto pode
implicar perda de hábito do consumidor e de conexão comercial, sempre um risco.
Terceiro, o setor que terá mais dificuldade de se adaptar, o de máquinas e
equipamentos (por produzir para nichos) precisa de muito apoio na negociação
com os EUA. Quarto, o momento é propício para negociar.
Trump piscou, a ponto de falar em preço de
café e banana, ele, que até outro dia achava curioso fazer compra de
supermercado.
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